'Toda pessoa ou atividade suspeita deve ser denunciada', diz texto em placa.
Para moradores, critério para avaliar suspeitos pode gerar preconceito.
Cartaz
afixado na portaria de um prédio na Rua Ramon Franco: segundo
associação de moradores, objetivo é a prevenção de crimes (Foto:
Henrique Porto/G1)
Residentes do bairro alegam que o termo "atividade suspeita" é
impreciso e subjetivo, o que pode provocar equívocos na avaliação de um
crime em curso e mal entendidos entre moradores e frequentadores do
bairro. É o caso da publicitária Iris Freund, de 31 anos.“O que define uma pessoa ou atividade suspeitas? Achei isso absolutamente aleatório e invasivo. Talvez a intenção tenha sido boa e eles (membros da associação) tenham se expressado mal, mas não acho que seja legítimo nem uma mostra de civilidade", argumenta a publicitária.
Iris, que vive no bairro desde 1990, também adverte: "A Urca é um lugar muito seguro e acredito que os moradores, assim como a associação, desejem mantê-lo dessa forma. Ao mesmo tempo, considero perigoso incentivá-los a fazerem denúncias. Não vejo isso de forma muito positiva, a menos que seja algo comprovado", afirmou a publicitária.
A socióloga Lilibeth Ferreira relembra a primeira vez em que se deparou com o cartaz. “Fiquei enlouquecida de raiva. Como posso dar o direito de alguém avaliar quem é suspeito na rua onde mora? É um critério absolutamente pessoal e subjetivo. Isso remonta movimentos denuncistas. Comunicação é uma coisa muito séria e traz consequências", disse.
As
placas nas ruas Marechal Cantuária e Ramon Franco: cartazes foram
motivados por pequenas ocorrências e sequestro-relâmpago no bairro
(Foto: Henrique Porto/G1)
Lilibeth, que chegou a fazer parte da Amour, destaca que é contrária à
placa, não à ideia de proteção. Para ela, o apoio e integração entre
vizinhos é importante. "Isso ajuda na segurança. Minha questão é com os
dizeres e a palavra 'suspeita', dos quais discordo inteiramente."Segundo a associação de moradores, a iniciativa é inspirada em experiências realizadas por comunidades de países como a Inglaterra e surgiu após pequenos delitos e quatro sequestros-relâmpagos ocorridos no bairro, um deles em novembro do ano passado.
"Além da patrulha do estado, representada pela polícia, você também tem a vigilância da vizinhança. É algo preventivo. Tudo isso foi discutido várias vezes, em várias reuniões, e resolvido de maneira democrática. Inclusive, muitos dos moradores que hoje reclamam foram convidados para estes encontros, mas não compareceram", diz Celinéia Paradela Ferreira, vice-presidente da Amour.
'Nada absolutamente discriminatório'
Segundo Celinéia, as placas fazem parte de um plano de trabalho concebido por um grupo de moradores, que também prevê que casas e edifícios instalem câmeras de vigilância. "Vamos fazer uma campanha pela instalação desse tipo de equipamento, além de um pedido à polícia para monitorar eletronicamente a entrada e a saída do bairro."
Em relação à mensagem estampada nas placas, a associação discorda das críticas acerca do caráter preconceituoso do texto, como explica Ana Milhomens, presidente da entidade.
"Não há nada absolutamente discriminatório no cartaz. O texto foi criado sob a recomendação da própria polícia, que afirma que o cidadão jamais deve se expor. Você telefona e um representante treinado pelo estado, responsável pela segurança, faz a verificação. Pode não ser nada, como também pode ser", ressalta Ana, que não soube informar quantas placas foram produzidas.
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