Em nota, hospital Santa Lúcia alega dificuldade para contratar especialistas.
Pais ouvidos pelo G1dizem que prazo para retirar crianças é até sábado.
O servidor público Olavo Rodrigues de Moura, pai de um casal de gêmeos internado no local desde o início de novembro, disse que nesta segunda-feira (10), por volta das 12h, a direção do hospital convocou pais de bebês e crianças internados para informar que o contrato com a equipe médica que atua nessas UTIs acabará a partir do próximo sábado (15).
“Eles disseram que não tinham conseguido contratar uma nova equipe e não terão como fazer isso até o dia 5 de janeiro. São 21 dias sem cobertura. Para esses bebês, que são extremamente sensíveis, é muito tempo.”
Em nota (veja íntegra abaixo), o Hospital Santa Lúcia afirmou dificuldade para contratar especialistas para atuar nas unidades de terapia intensiva infantil, mas não confirmou a desativação. “Cumpre lembrar que no Brasil é notória a falta de médicos em todas as subespecialidades da pediatria, em especial a intensiva”, afirma a nota.
O servidor público contou que, como alternativa para os casos em que a transferência não é possível, por causa do quadro do paciente, o hospital acenou com a possibilidade de contratação de um médico plantonista.
“Hoje, há, no mínimo, sempre dois médicos. O quadro desses bebês é muito delicado. No sábado, por exemplo, meu filho teve uma parada cardiorrespiratória. E se outro também precisa de atendimento na mesma hora? Não temos como interferir na contratação do médico plantonista, mas como saber se é um profissional qualificado?”, questionou Olavo Rodrigues de Moura.
Os filhos do servidor público nasceram no dia 3 de novembro, com 26 semanas. Nesta terça-feira, completam 39 dias de internação. Os médicos informaram aos pais que, por causa da delicadeza do quadro, os bebês não podem ser transferidos.
A oceanóloga Juliana Doyle Lontra confirma a reunião com a administração do hospital e a orientação para retirar os bebês até o próximo sábado. "Eles queriam que começássemos a transferir os bebês ontem [segunda-feira] mesmo", falou.
O filho de Juliana nasceu no dia 22 de novembro, não é prematuro, mas precisou passar por uma cirurgia nesta segunda e tem recomendação médica para permanecer no local por causa do procedimento.
"Procurei o Santa Lúcia porque era conhecido por ter a melhor UTI neonatal, no caso de precisar. Agora que estou precisando eles pedem para fazermos a transferência. Estou desesperada."
Ministério Público
O promotor Trajano Sousa de Melo, da Promotoria de Defesa do Consumidor do Ministério Público do Público do Distrito Federal e Territórios, disse ao G1 que acompanha o caso. Segundo ele, em outubro, a equipe médica responsável pelas UTIs informou ao hospital que não tinha mais interesse em realizar o atendimento. A promotoria tentou costurar um acordo para evitar a rescisão, mas a proposta não foi aceita pelo Santa Lúcia.
"O hospital se comprometeu a garantir assistência adequada aos que não pudessem ser removidos e a não fazer mais internação eletivas que pudessem ter desdobramento de internação em UTIs", afirmou o promotor.
O promotor afirmou que vai cobrar do Hospital Santa Lúcia a transição de equipes com o menor trauma possível. "As transferências só vão ser feitas se o paciente tiver condições para o paciente e se houver leitos em outras unidades. Se esse não for o quadro verificado, o Santa Lúcia terá que garantir atendimento." Trajando Sousa de Melo disse ainda que vai deixar claro ao hospital que a responsabilidade por encontrar novos leitos para os pacientes é do Santa Lúcia.
Investigações
Em fevereiro deste ano, a Polícia Civil do Distrito Federal instaurou inquérito para apurar a morte de Marcelo Dino Fonseca de Castro e Costa, 13 anos, filho do presidente da Embratur, Flávio Dino. Ele morreu no dia 14 de fevereiro no Hospital Santa Lúcia, depois de ser internado com uma crise de asma.
Em janeiro, o secretário de Recursos Humanos do Ministério do Planejamento, Duvanier Paiva Ferreira, morreu devido a um infarto no miocárdio, após procurar atendimento em três hospitais particulares do Distrito Federal: o Santa Lucia, o Santa Luzia e o Hospital Planalto, onde Duvanir recebeu atendimento e morreu.
Na época, a presidente da República Dilma Rousseff, solicitou ao ministro da Saúde, Alexandre Padilha, a apuração de suposta negligência no atendimento ao secretário e pediu"providências exemplares".
Veja íntegra da nota do Hospital Santa Lúcia:
“Nota de esclarecimento
Brasília, 11 de dezembro de 2012 - O Hospital Santa Lúcia manifesta que tem tentado buscar profissionais no mercado que atendam aos rígidos requisitos necessários para atuação nas unidades de terapia intensiva infantil, preservando a continuidade na assistência prestada. Cumpre lembrar que no Brasil é notória a falta de médicos em todas as subespecialidades da pediatria, em especial a intensiva.
Diante da grande dificuldade, a unidade tem atuado fortemente para resolver a questão, inclusive com o rígido acompanhamento da Promotoria de Defesa do Consumidor do Ministério Público do Distrito Federal - Prodecon/MPDFT.
A diretoria do Hospital Santa Lúcia está à disposição dos pais das crianças que se encontram nessas unidades de terapia intensiva para quaisquer esclarecimentos e o apoio assistencial que se fizer necessário.
Assessoria de Imprensa do Hospital Santa Lúcia”
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