Casos ocorreram em 2008, em Canoas, na Região Metropolitana da capital.
Ministério Público, Polícia Civil e Conselho de Veterinária apuram denúncia.
Funcionário do hospital adotou a cadela "Pequena" para evitar sacrifício (Foto: Giovani Grizotti/RBS TV)
O Ministério Público investiga o sacrifício de animais em um hospital
veterinário de Canoas, na Região Metropolitana de Porto Alegre. As
mortes ocorreram em 2008 e envolvem cães abandonados que deveriam ser
encaminhados à adoção. O Conselho Regional de Medicina Veterinária
também apura as denúncias, mostradas em imagens exclusivas exibidas pelo
Jornal Nacional (veja o vídeo) nesta segunda-feira (19).“Ele está apagando já. Começando... Coitado do bicho”, diz o autor das imagens, gravadas em um telefone celular no Hospital Veterinário da Universidade Luterana do Brasil (Ulbra) em Canoas. Os cães eram sacrificados com injeções de uma substância chamada T61, usada em eutanásia de bichos. Depois de receber a dose, os animais agonizam por vários minutos.
“Professora, eu peguei o Faísca. Ninguém viu”, diz o funcionário. “Só certifica que ele tenha morrido bem, porque esse cachorro é tão ‘ativado’ que de repente precisa... Quanto tu vais dar de T61?”, questiona a professora. “Dois milímetros. É suficiente, né? Vou fazer fazer do jeito que a senhora falou aquele dia, na caixa torácica. Daí é mais fácil, né?”, pergunta. Depois do telefonema, Faísca recebe a injeção letal.
Segundo o funcionário que gravou a conversa, a voz é da professora Carla Koeche, que em 2008 era vice-diretora do hospital. Ela nega envolvimento no caso. “Nenhum desses sacrifícios, essas eutanásias, foram realizados com alguma deliberação, com alguma autorização de algum diretor, de alguma chefia de dentro do hospital veterinário”, diz a veterinária.
Além de Carla, foram indiciados a diretora do curso de Veterinária da época, Norma Rodrigues, e um professor da faculdade, Carlos Petrucci. Atualmente, Norma é vice-presidente do Sindicato dos Médicos Veterinários do Rio Grande do Sul (Simvet). Ela diz que não sabia que os animais eram mortos. “Nós tinhamos toda uma atitude em relação ao bem-estar dos animais. Então era impossível que dentro de um projeto, um programa desses, tivesse isso aí”, alega.
Envolvidos serão indiciados pelo crime de
formação de quadrilha, diz delegada Sabrina
Deffenti (Foto: Giovani Grizotti/RBS TV)
Petrucci era membro do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Rio
Grande do Sul (CRMV-RS), mas foi afastado esta semana por causa das
investigações. Ele também nega participação.formação de quadrilha, diz delegada Sabrina
Deffenti (Foto: Giovani Grizotti/RBS TV)
Autores dos vídeos, os funcionários João Cláudio Arce da Silva e Enéas Wink também foram indiciados. João Cláudio alega que recebeu ordens dos dirigentes do Hospital para exterminar com os cães. Winck não foi localizado pela reportagem. Todos os acusados vão responder apenas pelo crime de formação de quadrilha. A pena é de até três anos de prisão. Por maus-tratros eles não podem mais ser julgados porque o crime, cometido em 2008, já prescreveu.
“Eles praticavam tendo a consciência de que estavam exterminando com a vida daqueles animais que estavam ali sob a responsabilidade deles”, afirma a delegada Sabrina Deffenti.
Um dos funcionários que aplicava as injeções diz que os sacrifícios tinham hora para ocorrer. “Era pela madrugada, né. A gente tinha a chave do hospital”, diz João Cláudio Arce da Silva.
Nem todos os animais foram mortos. Um grupo de alunos descobriu uma lista de com nomes de cachorros condenados e resolveu agir. Alguns funcionários do hospital adotaram os cães para evitar o sacrifício. “Sempre protegi os animais e sempre vou proteger”, diz um jovem que não quis se identificar.
A Ulbra afirma que só soube do caso este ano porque os funcionários envolvidos ajuizaram uma ação trabalhista contra a instituição e anexaram o vídeo como prova de um suposto “desvio de função”. “A palavra que pode ser dita é repugnância. E essa repugnância então ensejou essas duas denúncias, tanto ao Conselho de Ética quanto ao Ministério Público, para verificar se a autoria e os fatos sao verídicos e dar os encaminhamentos penais devidos a cada um dos que cabem receber punição por aquilo que fizeram”, afirma o assessor jurídico da Ulbra Jonas Dietrich, que denunciou o caso ao Conselho de Medicina Veterinária e ao Ministério Público.
Todos os envolvidos não trabalham mais na universidade.
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