MEDIÇÃO DE TERRA

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MEDIÇÃO DE TERRAS

terça-feira, 6 de novembro de 2012

Profissionais 'largam tudo' e mudam de cidade para trabalhar em usina


'Sou barrageira e não me vejo fazendo outra coisa', diz mestre de montagem.
Mais 37 mil mudaram-se para Porto Velho por causa das hidrelétricas.

Vanessa Vasconcelos Do G1 RO

Jucimari largou a profissão de enfermeira e desde 2010 é mestre de montagem no canteiro de obras da UHE Santo Antônio (Foto: Vanessa Vasconcelos/G1)Jucimari largou a profissão de enfermeira e desde 2010 é mestre de montagem no canteiro de obras da UHE Santo Antônio (Foto: Vanessa Vasconcelos/G1)
Desde que trocou os corredores dos hospitais pelos canteiros de obras, a enfermeira Jucimari Sampaio, natural de Mato Grosso do Sul, viaja o país inteiro em busca de novas oportunidades de trabalho. Foi assim que em 2010 ela e a família chegaram a Porto Velho para trabalhar no canteiro de obras da Usina Hidrelétrica Santo Antônio. Jucimari é mestre de montagem, o marido é encarregado geral, dois filhos de 19 e 23 anos são auxiliares de montagem e um outro, de 25 anos, é operador de guindaste. Jucimari foi contratada como auxiliar de montagem e três meses depois passou à chefia, comandando uma equipe de 40 pessoas, entre homens e mulheres.
Mara, como é conhecida pelos colegas de profissão, conta que em 2003, a partir do convite de uma irmã, decidiu abandonar o trabalho em um hospital e ingressar em uma obra da hidrelétrica de Garibaldi, em Santa Catarina. Foi lá que ela conheceu o atual marido e deu início à vida de barrageira. “Esta já é a minha sexta obra de usina, e não me vejo fazendo outra coisa”, diz Mara que, além do marido, tem três, dos quatro filhos, trabalhando na obra.
Sou barrageira e não me vejo fazendo outra coisa"
Jucimari Sampaio, mestre de montagem
Morando em Porto Velho desde 2010, a mestre de montagem diz ter se adaptado bem a região, mas que não tem planos de fixar raízes em Porto Velho, nem em qualquer outra cidade e já faz planos para seguir para a próxima obra. “Minha vinda para cá foi satisfatória, mas minha vida é seguir atrás de obra, sou barrageira e não me vejo fazendo outra coisa”, finaliza Jucimari, que tem entre alguns dos possíveis destinos, a Usina de Belo Monte, no Pará.
Jucimari é caso típico detectado pelo monitoramento populacional realizado pela concessionária responsável pela usina Santo Antônio. De acordo com o levantamento,  pelo menos 37,9 mil pessoas migraram para Porto Velho em busca de novas oportunidades de emprego, seja no canteiro de obras, ou aproveitando o crescimento econômico da região.
Ao fundo de Porto Velho, o Rio Madeira (Foto: Vanessa Vasconcelos/G1)Ao fundo de Porto Velho, o Rio Madeira (Foto: Vanessa Vasconcelos/G1)
Semelhante ao caso de Jucimari é o da analista socioambiental Lia dos Santos. O marido, que na época era namorado, veio à capital como estagiário de engenharia civil de uma das empresas que atuam na obra. Algum tempo depois, veio a efetivação e a decisão da mudança para Porto Velho.
Lia conta que antes de vir de vez para a capital, começou a contactar conhecidos que já estavam aqui, em busca de um emprego em sua área. As conversas deram resultados e, um mês após a chegada, Lia foi efetivada.
Nós éramos recém-formados e tivemos a oportunidade de nossas vidas"
Lia dos Santos, analista socioambiental
“Não tenho dúvidas de que essa foi a melhor escolha”, avalia Lia, sobre a decisão de buscar em Rondônia uma oportunidade profissional. “Nós éramos recém-formados e tivemos a oportunidade de nossas vidas”, avalia. O primeiro filho do casal deve nascer em dezembro.
As oportunidades geradas pelas obras das usinas do Rio Madeira vão muito além dos canteiros de obras. Com o crescimento populacional e o aquecimento da economia local, empresas de diversos ramos foram instaladas, a fim de atender a demanda.
De olho no crescimento da cidade
Foi observando essas características, e com uma grande bagagem adquirida em outros empreendimentos, que a família Passos se firmou em Porto Velho implantando empresas nos segmentos de alimentação, hospedagem e lavanderia.
Diego Batista largou a formação em farmácia e se dedica a administrar (Foto: Vanessa Vasconcelos/G1)Diego Batista largou a formação em farmácia e se
dedica a administrar
(Foto: Vanessa Vasconcelos/G1)
Assim como os barrageiros, o grupo busca novas oportunidades onde há empreendimentos. Diego Batista Passos é formado em farmácia, mas na empresa do irmão ele cuida da parte administrativa.
Ele conta que tudo começou em 2008, quando o irmão, Lamartine Passos, teve a ideia de abrir uma empresa no ramo de alimentação para servir os trabalhadores da usina de Dardanelos, em Mato Grosso. Com a notícia da obra em Porto Velho, veio a chance de instalar uma lanchonete no canteiro de obras da usina Santo Antônio.
“Depois notamos a necessidade de hospedagens para pessoas vindas de fora, foi então que alugamos alguns espaços e transformamos em hotéis”, conta Diego. São seis prédios, todos ocupados por famílias do Bairro Triângulo, que tiveram suas casas atingidas pelo desbarrancamento do rio, no início deste ano.
Foi, mais uma vez, observando a necessidade local, que o grupo inaugurou um novo empreendimento, o de lavanderia. “Começamos com a lavagem de fardas dos funcionários a obra, em seguida ampliamos o negócios”, explica Diego.
Atualmente o grupo da família Passos emprega cerca de 50 pessoas nos três empreendimentos. E assim como Jucimari e Lia, a família já se prepara para o próximo emprendimento. “Já abrimos a lanchonete em Belo Monte, o próximo passo será a instalação da lavanderia”, finaliza.
A pesquisa
De acordo com a coordenadora da pesquisa encomendada pela Santo Antônio Energia, a demógrafa Alzira Lydia Nunes, em três anos foi observado que o número de migrantes em Porto Velho passou de 22 mil na primeira pesquisa, em setembro de 2009, para 61 mil na última, realizada em outubro de 2011, destas 37,9 mil por causa da obra.
Juliana Hobold responde ao quistionário da pesquisa. (Foto: Vanessa Vasconcelos/G1)Juliana Hobold responde ao questionário da
pesquisa. (Foto: Vanessa Vasconcelos/G1)
A fase de visita e entrevista dos moradores de cerca de 800 domicílios em Porto Velho foi iniciada no dia 16 outubro deste ano. A coordenadora de campo, Mariana Campos, explica que, além do monitoramento populacional, a pesquisa também mostra o desenvolvimento do quadro da saúde, educação e segurança pública da cidade nos últimos anos, de acordo com a avaliação dos próprios entrevistados.
Um dos domicílios visitados foi o do segurança Altemar Lima de Souza, do Bairro Nossa Senhora das Graças. De acordo com ele, com a obra da usina foi perceptível o aumento populacional de Porto Velho, e que isso trouxe pontos positivos e negativos.
“A criminalidade aumentou, mas em contrapartida, a economia deu uma aquecida e a oferta de emprego também aumentou”, acredita. Segundo ele, a melhora também é percebida na saúde pública. “Às vezes, uma consulta no posto de saúde é bem mais rápida do que em uma clinica particular”, diz.
Juliana Hobold Machado também foi entrevistada . Ela trabalha no negócio da família junto com a mãe e o irmão. Entre os pontos positivos ocorridos com a expansão da cidade nos últimos anos, segundo Juliana, está o crescimento do mercado imobiliário e o aquecimento na economia da capital e, consequentemente, o aumento da oferta de emprego. “Alugamos apartamentos e, a maioria deles, está ocupada por trabalhadores da usina. O movimento da churrascaria também cresceu muito”, afirma.
Nesta quinta fase da pesquisa, os resultados obtidos serão comparados aos das etapas anteriores, a fim de prever futuros investimentos na infraestrutura da cidade e dos serviços básicos prestados à população.

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