Professor da UnB mediu ruído de 80 decibéis sob árvores na Asa Sul.
Em áreas residenciais, recomendável é 50 decibéis de dia e 45 à noite.
A pedido do G1, o professor Márcio Avelar, do Núcleo de Laboratórios de Engenharia e Inovação da Faculdade do Gama da Universidade de Brasília, mediu o volume do canto dos insetos. O local escolhido foi a quadra 315 Sul. Sob as árvores, o equipamento registrou 80 decibéis.
INTENSIDADE DOS SONS | |
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Tipo de ruído | Volume |
Falar sussurrando | 20 db |
Conversação a um metro | 60 db |
Rua com trânsito intenso | 80 db |
Liquidificador | 90 db |
Secador de cabelo | 110 db |
Show de rock a 10 m da caixa de som | 105 a 120 db |
Turbina de avião a jato | 140 db |
Fonte: Associação Brasileira de Normas Técnicas |
De acordo com a escala da ABNT, a intensidade do som das cigarras em Brasília supera a de um liquidificador ligado (75 decibéis) e equivale à de uma rua com trânsito pesado, com caminhões e ônibus (80 decibéis).
O professor da UnB diz que a frequência do canto das cigarras também explica a irritação de moradores das quadras residenciais de Brasília.
“Não é só volume que causa incômodo, a frequência da fonte sonora faz diferença também. A frequência das cigarras é de média para alta, uma região de frequência que tem potencial para incomodar o ouvido humano”, diz Avelar.
Cigarra em árvore em quadra residencial de Brasília (Foto: Vianey Bentes/TV Globo)
E não adianta tentar fugir do canto das cigarras. O G1
também mediu o volume da cantoria em um apartamento no sexto andar de
um prédio da Asa Sul. No quarto do imóvel, o equipamento marcou 54
decibéis – o barulho recomendado pela ABNT para esse tipo de cômodo
durante o dia é de 45.‘Culpa deles’
O barulho das cigarras é produzido pelos machos da espécie. Eles cantam, e muito, para atrair as fêmeas. “As cigarras fêmeas, além de silenciosas, são ótimas ouvintes. Os machos cantam em grupo, pesquisas indicam que assim eles têm mais sucesso na conquista da fêmea do que cantando isolados”, fala o professor de zoologia Paulo César Motta, também da UnB.
Exúvias, as casquinhas que serviram de
proteção para as ninfas, em uma árvore
na Asa Sul (Foto: Káthia Mello/G1)
O professor explica sete espécies de cigarra, com tamanhos que variam
entre 1,5 cm e 7 cm, habitam no Distrito Federal. Esses insetos passam
entre dois e sete anos embaixo da terra, época em que são silenciosos e
chamados de ninfas. Quando alcançam a maturidade, sobem as árvores e
deixam no caminho as exúvias, as casquinhas que serviram de proteção
para as ninfas.proteção para as ninfas, em uma árvore
na Asa Sul (Foto: Káthia Mello/G1)
Na fase adulta, cantam por cerca de dois meses para atrair as fêmeas. Depois do período reprodutivo, morrem. “O esperado é que teremos cantoria até o fim do ano”, diz Motta.
Mitos e curiosidades
Porteiro em um bloco na Asa Sul há 21 anos, Elilans de Andrade fala que já perdeu as contas de quantas vezes socorreu moradores com medo de cigarras. “Nos últimos dias, entrou uma cigarra em um apartamento e tivemos que subir correndo para socorrer a moradora, que tomou um tombo e se machucou com medo do inseto.”
Há alguns anos, a gritaria foi tão grande em outro apartamento que o porteiro pensou que se tratava de um assalto. “Quando entramos lá, era uma cigarrinha pequena.”
Cigarra em uma árvore na Asa Sul, em Brasília
(Foto: Káthia Mello/G1)
Embora causem medo em algumas pessoas, o professor Paulo César Motta
diz que as cigarras são inofensivas e limpas. “Tem gente que acha a
cigarra nojenta, mas ela é superlimpinha. Não tem motivo de ter nojo,
ela se alimenta apenas de seiva. Além disso, a cigarra é inofensiva, só
faz barulho e vibra.”(Foto: Káthia Mello/G1)
O professor explica ainda que o líquido que muitas vezes cai das árvores repletas de cigarras não é urina do inseto, mas seiva em excesso. “Tudo indica que não é excremento. Supõe-se que seja um excesso de xilema, a seiva”, afirma.
Sabendo que as cigarras não são sujas ou fazem mal, talvez o melhor seja mesmo aprender a conviver com elas – no DF, esses insetos preferem a área urbana ao cerrado.
“Aparentemente, há mais cigarras na área urbana. Isso pode ser explicado porque há vários organismos que se adaptaram muito bem ao ambiente modificado pelo homem”, diz o professor de zoologia.
"Me acostumei com as cigarras, elas são da natureza, não fazem medo. A gente tem que admirar e curtir esse barulhinho”, afirma o porteiro Elilans de Andrade, que desenvolveu uma técnica para retirar os insetos da casa dos moradores desesperados.
“Tem gente que dá vassourada e mata. Não é necessário isso. Pego ela com cuidados, porque são muito sensíveis, coloco no saquinho plástico e solto na natureza de novo.”
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