MEDIÇÃO DE TERRA

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MEDIÇÃO DE TERRAS

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Famílias chinesas investem no inglês para aprimorar a educação dos filhos


Relatório mostra que 194 mil chineses estudam em universidades dos EUA.
'Mães tigre' falam sobre rígida educação dos filhos desde os primeiros anos.

Paula Ramón Especial para o G1, em Pequim

Estudante faz exercícios para treinar para a prova do 'Enem Chinês' (Foto: Reuters)Estudante faz exercícios para treinar para a prova do
exame nacional da China (Foto: Reuters)
Estudos de piano e matemática já eram populares nos lares chineses. Agora, aprender inglês passou a ser indispensável. São mais de 35 mil organizações dedicadas a ensinar a língua no país, sem contar iniciativas particulares. Uma das instituições mais conhecidas é a escola da Disney para crianças de 2 a 12 anos. Em 2008, eram 15 escolas em Pequim e Xangai. O crescimento da demanda fez o número de centros de ensino subir para 44, divididos em 10 cidades.
A China tem mais de 35 mil escolas de inglês. Atualmente, são mais de 190 mil jovens chineses estudando em universidades dos EUA, 23,1% a mais que em 2011. As faculdades americanas têm 9 mil brasileiros.
O sistema de exames rigorosos e as pressões governamentais para melhorar a qualidade têm dado resultados, mas muitos pais chineses continuam considerando uma universidade estrangeira a primeira opção para os filhos.
A procura de famílias chinesas por vaga nas universidades dos Estados Unidos para seus filhos é grande. O relatório "Open Doors", publicado recentemente pelo Instituto de Educação Internacional (IEI) em parceria com o Escritório de Assuntos Educacionais e Culturais do Departamento de Estado dos Estados Unidos, mostra que o número de chineses nas universidades norte-americanas aumentou 23,1% em relação a 2011.
Atualmente, são 194 mil chineses espalhados pelas universidades dos Estados Unidos. É o país estrangeiro mais representado no meio universitário americano, seguido por Índia e pela Coreia do Sul. O Brasil ocupa a 14ª colocação, com 9 mil estudantes, crescimento de 2,9% em relação ao ano passado.
Ding Jianing e o filho Xin (Foto: Paula Ramón)O menino Ding Jianing deverá estudar em outro país, de acordo com seus pais (Foto: Paula Ramón)
Xin Lei, de 32 anos, é professora e mãe de um menino de 9 anos. Segundo ela, o mais importante não é o sucesso, e sim a felicidade do filho. Mas ao conversar sobre a rotina de educação de Ding Jianing, ela comenta que, devido às "deficiências" do pequeno na escola, o filho tem aulas de reforço todos os fins de semana. "Ele não tem muito tempo para brincar e por causa disso ficamos tristes por ele", confessa Xin.
Ela afirma que, se ele for admitido em uma boa escola de ensino médio e depois numa universidade de alto nível, "todos os sacrifícios terão sido úteis". Ela e o seu marido, que trabalha como funcionário público, estão economizando para enviar Ding a uma faculdade no exterior. "Sabemos que vai custar uma média de US$ 30 mil, quase quatro anos do nosso salário, mas vale a pena, queremos que ele se forme fora".
'Mãe tigre'
No início de 2011, Amy Chua, professora sino-americana da Universidade Yale, nos Estados Unidos, publicou o livro "O Grito de Guerra da Mãe Tigre", sobre sua experiência como mãe de duas filhas, e iniciou um debate sobre a criação tradicional chinesa. Ela decidiu educar as meninas da mesma maneira como havia sido educada, com altíssimo grau de exigência para que as filhas fossem as melhores, sem tempo para se divertir.
Wang Xiaohong e o filho Cheng Cheng (Foto: Paula Ramón)Wang Xiaohong ao lado do filho Cheng Cheng; aos
3 anos, ele divide seu tempo entre cultura chinesa,
esportes, exercícios e inglês (Foto: Paula Ramón)
Para um pai, é muito importante que seu filho use a maior parte do tempo em aprender algo, seja música, línguas ou matemática"
Wang Xiaohong, mãe chinesa
"Se fosse possível apertar um botão mágico e escolher entre felicidade ou sucesso para minhas filhas, escolheria felicidade em segundo", diz a "mãe tigre", como são conhecidas as mães que encaram a infância como período de treinamento e preparação, para que os filhos estejam bem preparados para desafios futuros.
Na China contemporânea, educação é um assunto de importância crucial. A competitividade no sistema de formação do país começa muito cedo e perdura até o ingresso dos jovens em universidades. Como em outros países, os pais chineses veem na educação a possibilidade de um futuro melhor para seus filhos. Na China da "geração do filho único", no entanto, isso significa uma enorme pressão nos jovens.
Wang Xiaohong, de 34 anos, é mãe do pequeno Cheng Cheng, de 3 anos, e funcionária de uma empresa privada. Segundo ela, a "mãe tigre" é um mito na China. "Quero que meu filho cresça saudável e feliz". O tempo do garoto, no entanto, é dividido entre aprender a cultura chinesa, praticar esportes, resolver exercícios e estudar inglês.
Em 2012, Wang e seu marido gastarão cerca de 50 mil yuan (aproximadamente R$ 16,4 mil) para pagar os estudos do filho, que ainda está no jardim de infância. "Para um pai, é muito importante que seu filho use a maior parte do tempo em aprender algo, seja música, línguas ou matemática".
Educação de qualidade
Nos primeiros anos do século passado, a taxa de analfabetismo na China chegava a 90% da população. Essa porcentagem foi decrescendo ao longo das décadas e chegou a apenas 6% em 2009, segundo dados do Banco Mundial. De acordo com esse levantamento, 88,8% das crianças entraram no ensino básico, mas apenas 62,5% avançaram até o ensino médio.
O governo chinês prioriza a educação para o desenvolvimento do país. Além de aumentar o investimento – 4% do PIB, mais impostos regionais e locais –, também promoveu no interior um novo sistema, com a implementação de 9 anos de educação gratuita obrigatória.
Nas últimas três décadas, a quantidade de pessoas que chega à universidade cresceu muito rapidamente. Em 2000, 55,6 milhões de estudantes começavam sua formação universitária. Dez anos mais tarde, em 2010, o número de alunos subiu para 223,18 milhões.
Com maior quantidade de universitários procurando emprego, investir em uma preparação de mais qualidade para enfrentar a intensa competição no mercado de trabalho é obsessão dos pais chineses. A busca por excelência é uma ordem a ser cumprida pelos professores e pelas escolas.
CompetitividadeNo ano passado, Nicholas Kristof, colunista do "New York Times" com anos de experiência na Ásia, escreveu que os chineses veem defeitos graves em seu sistema educacional. "Muitos chineses reclamam ferozmente que seu sistema mata o pensamento independente e a criatividade, e eles invejam o sistema americano por promover a autossuficiência e por tentar fazer da aprendizagem algo divertido, e não apenas uma tarefa".
Essa competitividade produz muitas vezes insatisfação nas crianças, falta de tempo para recreação e todo tipo de problemas associados à ênfase desmedida em estudar, decorar e fazer tarefas
Daniel Mendez, estudioso da educação chinesa
Estudioso da educação chinesa, o espanhol Daniel Mendez afirma que "essa competitividade produz muitas vezes insatisfação nas crianças, falta de tempo para recreação e todo tipo de problemas associados à ênfase desmedida em estudar, decorar e fazer tarefas. Mas essa competitividade é o que permite, pelo menos no papel, criar um sistema de méritos no qual os mais capacitados e esforçados são os que conseguem entrar nas melhores universidades".
Na prática, porém, as desigualdades sociais na China têm um peso grande no acesso na educação. O sistema de registro nacional do país (hukou, no termo em mandarim) estabelece que crianças devem estudar no lugar onde os pais nasceram. Assim, filhos de trabalhadores migrantes devem permanecer na sua região, separados dos pais, ou morar com eles sob a pena de estudar em escolas privadas caras, muitas delas ilegais, e de má qualidade.
Estudantes chineses se preparam para o exame nacional em escola de Hefei (Foto: Reuters)Estudantes chineses se preparam para o exame nacional em escola de Hefei (Foto: Reuters)
Gaokao, o vestibular chinês
O momento decisivo na vida de todo estudante chinês é o Gaokao. O vestibular chinês decide o futuro universitário dos jovens, definindo, em boa medida, as possibilidades de um bom emprego.
São comuns casos de suicídio, uso de drogas para estimular o cérebro e outros escândalos relacionados à pressão nos jovens para obter um bom resultado no vestibular chinês
Em anos recentes, são comuns casos de suicídio, uso de substâncias químicas para estimular o cérebro e outros escândalos relacionados à pressão nos jovens para obter um bom resultado no vestibular.
Autor do livro "Universitário na China", Mendez afirma que "a diferença entre uma universidade de elite e as demais não mudou, concentrando as aspirações de milhões de universitários nos poucos lugares onde estão as melhores universidades do país".
Brasileiros
Cerca de 800 brasileiros estudam atualmente na China. O país dá 21 bolsas de estudos por ano para o Brasil (especialização e pos-graduação). Em 2011, só nove pedidos foram aceitos, e 22 bolsistas renovaram seu visto. Em 2012, 17 novos estudantes brasileiros foram aceitos. Além disso, com o programa Ciência sem Fronteiras, tem seis brasileiros estudando na China, e o acordo, no papel, garante 5 mil vagas universitárias entre 2012 e 2015.
Os processos dependem das solicitações. Mas, em geral, o primeiro passo é procurar o plano de estudos, enviar os documentos requeridos pela Embaixada da China no Brasil (o prazo anual vence em março) e esperar a resposta.

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