MEDIÇÃO DE TERRA

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MEDIÇÃO DE TERRAS

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

China será a relação externa mais delicada para Obama, diz professor


Do ponto de vista global, reeleição é positiva, diz Oliver Stuenkel, da FGV.
Urgência maior, porém, está na política doméstica, avalia o especialista.

Ana Carolina Moreno Do G1, em São Paulo

Barack Obama e o ex-presidente da China, Hu Jintao, em junho de 2012, no México (Foto: AP Photo/Carolyn Kaster)Barack Obama e o presidente da China, Hu
Jintao, em junho de 2012, no México
(Foto: AP Photo/Carolyn Kaster)
Os próximos anos da política externa de Barack Obama à frente da Casa Branca deverão ser marcados pela preocupação cada vez maior com a China, afirmou o professor de relações internacionais Oliver Stuenkel, da Fundação Getulio Vargas (FGV). Segundo ele, a expectativa de que a economia do gigante asiático ultrapasse a americana nos próximos dez ou 15 anos fará com que os Estados Unidos tenham que se acostumar, pela primeira vez em pelo menos duas décadas, a "se adequar à presença de outro ator de tamanho comparável no mundo".
Para Stuenkel, do ponto de vista global, a vitória de Obama sobre o republicano Mitt Romney na madrugada desta quarta-feira (7) é positiva, porque o presidente reeleito, além de ter melhorado a imagem dos EUA no exterior, recebeu o apoio de boa parte dos outros países. Além disso, o democrata já deu, por diversas vezes, declarações nas quais reconhece o papel cada vez maior dos países emergentes no cenário mundial.

"Muitas pessoas estavam preocupadas de que Romney poderia adotar uma linha mais dura e de confronto, especialmente com a China. Ele prometeu que, no primeiro dia, ia declarar a China como manipuladora de câmbio na moeda chinesa. Isso teria causado um problema muito grave na relação bilateral entre EUA e China, que determinam outras relações no mundo", afirmou o professor ao G1. O Brasil, segundo ele, também sofreria um impacto "péssimo" em uma possível guerra comercial entre as duas potências.
Porém, para Stuenkel, ainda não é possível prever como se dará a relação dos dois países. "Este ano é importante porque agora há continuação do Obama nos EUA, e uma mudança importante na China. Será importante no início do próximo ano iniciar boas relações com o novo presidente da China", afirmou.
No Oriente Médio, a reeleição do democrata deve manter inalterados os rumos da política americana. Atualmente, Obama tem pouco espaço de manobra e, principalmente, muita cautela ao tentar intervir na região, principalmente na Síria. "Obama passou anos tentando se retirar dessa região. Um dos principais pontos positivos de seu primeiro mandato foi retirar as tropas do Iraque. Mandar de novo tropas para um país vizinho não teria grande aprovação do eleitorado americano", avalia Stuenkel.
Brasil
De acordo com o especialista, existe apenas uma possibilidade de a reeleição de Obama afetar o Brasil, que "não é prioridade na política externa, não apareceu muito nos debates presidenciais nem públicos, não é preocupação". Como Hillary Clinto deve deixar o Departamento de Estado, especula-se que seu substituto (ou substituta) esteja entre dois nomes: John Kerry, ex-candidato democrata à presidência, derrotado por George W. Bush em 2004, e Susan Rice, atual embaixadora dos EUA nas Organizações das Nações Unidas (ONU).
"Ambos são fortes propositores de intervenções humanitárias, e os dois estão a princípio a favor de intervenções para evitar genocídio, algo sobre o qual o Brasil tem críticas", analisa Stuenkel. No caso de Susan, o conflito de posições dos dois países poderia ser ainda maior, já que os dois países protagonizaram vários debates quando o Brasil esteve como membro no Conselho de Segurança --os EUA são membros permanentes, com poder de veto.
De acordo com o professor da FGV, Susan criticou fortemenente o envolvimento brasileiro no Oriente Médio e tem uma visão crítica do Brasil que deixou muito claro. "Houve uma série de frustrações quando o Brasil negociou um acordo nuclear com o Irã em 2010. Então, são questões mais do lado pessoal que podem complicar a relação."
Por outro lado, Stuenkel acredita que o chanceler Antonio Patriota, ministro de Relações Exteriores, "é uma pessoa que conhece muito bem os Estados Unidos, fala inglês fluente sem sotaque, entende muito bem a cultura americana, morou muitos anos lá" e poderia lidar com as diferenças de ambos os países de maneira construtiva. "Confio muito na capacidade dele de lidar com esses problemas", avalia.
Política doméstica
Mas a principal preocupação do presidente reeleito, na visão do professor, não está do lado de fora das fronteiras americanas. "Apesar de US$ 2,5 bilhões gastos na campanha, a gente continua com a Casa Branca democrata, o Senado democrata e o Congresso republicano", afirmou o professor.
"Agora temos um governo paralisado porque o Obama precisa do apoio do Congresso para passar grandes reformas, terá grande dificuldade de obter esse apoio. Podemos dizer que a situação piorou um pouco porque estamos em um processo de radicalização ideológica em ambos os partidos, e é cada vez mais difícil para os candidatos moderados se elegerem", disse.
Stuenkel afirma que, passada a eleição, a tarefa mais urgente de Obama é aprovar o orçamento do país. O prazo termina em dezembro e o fracasso em conseguir a maioria de votos na Câmara do Representantes pode complicar ainda mais a economia americana. Nesse caso, "ele vai ter que aumentar os impostos para evitar o colapso das contas públicas".
Diversidade
O apoio que Obama ganhou das minorias mostra, para o professor da FGV, que os Estados Unidos estão caminhando para uma "sociedade que não tem igual no mundo em termos de diversidade". Segundo ele, a tendência é que o país tenha uma sociedade em que nem os brancos nem os negros nem os latinos têm maioria. "E o candidato terá que se comunicar com grupos muito diferentes."
Obama apostou neste futuro e se saiu bem sucedido. Já Mitt Romney e o Partido Republicano, segundo Stuenkel, apostaram na estratégia tradicional de dialogar com homens brancos e mais velhos. E fizeram uma série de promessas --como a reforma no sistema de imigração, para impedir que novos estrangeiros entrem no país e deportar os imigrantes ilegais-- que levaram as demais faixas demográficas para o lado democrata da balança.
Mas, apesar de esse ainda ser o bloco principal do eleitorado americano, isso está mudando. Hoje, diz o professor, os brancos são menos de 50% dos bebês que nascem nos EUA.
Mesmo assim, os republicanos apostaram no conservadorismo e acabaram sofrendo a segunda derrota seguida para Obama. Em alguns casos, como o de candidatos ao Senado que representavam a ala mais conservadora do partido, o Tea Party, a derrota foi ainda mais amarga.
"Essa perda agora vai causar um debate profundo sobre a possibilidade de reorientação do partido", avalia Stuenkel, com a ressalva de que o resultado ainda não pode ser previsto. "A gente pode ver a ascensão de vozes dentro do partido com propostas novas de como o partido deve se reposicionar. mas pode ser que continue focando nas mesmas pessoas, e pode ser que se radicalize, é difícil prever esse processo agora."

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