MEDIÇÃO DE TERRA

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MEDIÇÃO DE TERRAS

terça-feira, 6 de novembro de 2012

Brasileiros concorrem ao Congresso dos EUA para colocar 'país na pauta'


Mineiro que compara muçulmano a 'rottweiler' tem 5% de intenção de voto.
Goiano afirma ter entrado na disputa incentivado por um tio de Mitt Romney.

Carlos Oliveira Do G1, em São Paulo
Os brasileiros José Peixoto, de 52 anos, e Ronney Roger Oliveira, de 40 anos, concorrem a uma vaga na Câmara de Representantes pelo estado da Flórida, nas eleições americanas desta terça-feira (6). Além da escolha presidencial, os eleitores vão renovar parte do Congresso do país, apontando nomes para todas as 435 vagas da Câmara de Representantes e para 33 das 100 cadeiras do Senado. Onze estados e dois territórios ainda vão eleger governadores.
O cargo de representante tem mandato de dois anos e é semelhante ao posto de deputado federal no Brasil. O número de cadeiras depende da população de cada estado, que vota por distritos. Para o Senado, também conhecido como Casa Alta, são sempre duas cadeiras por estado.
Para concorrer, os candidatos a representante devem ter pelo menos 25 anos de idade e sete anos de cidadania americana. No caso do Senado, a exigência aumenta para 30 anos de idade e nove de cidadania no país. Em ambas as casas, o salário anual vai de US$ 174 mil (R$ 352 mil) a US$193.400 (R$ 391 mil). O G1 conversou com os candidatos brasileiros.
Mineiro é candidato independente
brasileiro candidato 1 (Foto: Arquivo Pessoal)Candidato nascido em Minas Gerais disputa vaga
nos EUA; Na foto abaixo, José Peixoto participa de
celebração natalina (Foto: Arquivo Pessoal)
José Peixoto, de 52 anos, concorre ao cargo pelo 26º Distrito da Flórida, que tem cerca de 150 mil eleitores. O empresário nasceu em Ipanema (MG), em 1960, e foi para os Estados Unidos com a mulher em 1985. "A economia no Brasil estava devagar. Tínhamos muitos amigos nos Estados Unidos. Então fizemos um pé de meia e fomos", conta o candidato.
Peixoto mora em Florida Keys, região turística localizada no sul do estado, trabalha no ramo da manutenção de residências e se identifica como maçom. Ele diz haver poucos brasileiros no distrito porque o custo de vida é muito caro: "Não tem subemprego, não tem muito espaço para indocumentados."
Ele concorre como independente e acredita que a política americana fica "paralisada" pelo sistema que, na prática, fortalece apenas dois partidos no país. O brasileiro ainda critica o sistema eleitoral americano, chamando-o de "muito lento".
Não se fala nada de Brasil no Congresso americano"
José Peixoto, brasileiro candidato nos EUA
Segundo Peixoto, "não se fala nada de Brasil no Congresso americano". Ele espera, caso eleito, colocar o país na pauta da instituição e lutar por maior integração econômica entre as duas nações, especialmente em relação ao petróleo.
A prioridade da plataforma de Peixoto, no entanto, é o povo americano. Ele espera que todos os imigrantes sejam tratados da mesma forma, inclusive os brasileiros. O candidato critica os congressistas cubanos, que "não têm interesse [em promover a discussão] porque a situação deles está garantida". Cubanos podem obter a cidadania americana após morar no país por um ano, enquanto cidadãos de outras nações têm de esperar um período maior.
O próprio político reconhece que, tendo arrecadado cerca de US$ 20 mil até o momento, tem poucas chances na corrida. "É muito difícil ser eleito." Mas ele espera criar precedente e "abrir a porta para outros brasileiros".
O jornal "Miami Herald" cita uma pesquisa eleitoral que dá 50% de intenção de voto para o democrata Joe Garcia, 41% para o republicano David Rivera (que tenta reeleição) e 5% para José Peixoto. O levantamento não inclui Angel Fernandez, também independente. Em outra consulta, que não inclui nem Peixoto nem Fernandez, Garcia tem 43% e Rivera, 33%, conforme o diário.
Ainda de acordo com a publicação, Rivera é investigado sob suspeita de ter subornado um adversário nas primárias de agosto. Ele nega.
Site eleitoral de José Peixoto hospeda texto xenófobo (Foto: Reprodução)Site eleitoral de José Peixoto hospeda texto
xenófobo contra muçulmanos (Foto: Reprodução)
Texto xenófobo
O site eleitoral do brasileiro hospeda um texto xenófobo que compara judeus a muçulmanos, favorecendo abertamente o lado de Israel. O artigo, com o título "Toda a Europa morreu em Auschwitz", é datado de 2008 e atribuído a um jornal espanhol e afirma que o povo árabe levou "estupidez e ignorância" à Europa.
Questionado sobre o teor do escrito, Peixoto, que se identifica como católico, diz que apoia "100% a mensagem desse texto".
O político relata que tem um amigo piloto de avião que trabalha, em alguns voos, com um egípcio muçulmano. Este amigo dispensa os horários de descanso e "não tira a mão do manche do avião minuto algum" quando está acompanhando do colega. Peixoto aprova e justifica a ação. "Porque eles [muçulmanos] são como um cachorro rottweiler, e a qualquer momento pode vir essa veia de loucura."
Goiano disputa pelos republicanos
brasileiro candidato 2 (Foto: Arquivo Pessoal)Goiano Ronney Oliveira diz ter se encontrado com o
candidato republicano à presidência dos Estados
Unidos, Mitt Romney (Foto: Arquivo Pessoal)
Ronney Roger Oliveira, de 40 anos, diz que entrou na corrida para "levar para o Congresso dos Estados Unidos a bandeira do Brasil". Ele concorre pelo Partido Republicano e enfrenta o democrata Randolph Bracy III e o independente Heinie Heinzelman no 45º Distrito do estado.
O candidato nasceu em Goiânia, em 1972, e foi criado em Palmeiras, também em Goiás. Ele cursou um ano de direito, mas parou por falta de dinheiro. Foi para os Estados Unidos com a mulher, em 1998, porque "não via futuro no Brasil". O casal ficou por alguns meses no apartamento "de um amigo do amigo do concunhado", em Orlando. Apenas ela falava inglês.
Ronney e a mulher trabalharam fazendo limpeza em casas, hoteis e piscinas por cerca de um ano e meio até Ronney fundar uma empresa de construção civil. "A empresa prosperou muito", relata, lembrando que ainda não falava inglês quando contratou o primeiro americano.
Entre 2006 e 2007, já rico, Ronney relata que parou de dar valor ao dinheiro. "Não mudou nada na minha vida", diz. Ele então ingressou em uma igreja brasileira com representação na região, se formou em teologia na Universidade da Florida e virou pastor.
Proximidade com Romney
O brasileiro relata que é próximo da família do candidato republicano à Presidência, Mitt Romney, e que um tio do americano sugeriu que o brasileiro entrasse na vida política. As famílias se aproximaram em eventos religiosos e Ronney diz já ter se encontrado pessoalmente com o republicano. Em 2008, o goiano entrou no Partido Republicano.
Não via futuro no Brasil"
Ronney Oliveira, brasileiro candidato nos EUA
Em 2009, ele concorreu a membro do conselho de representantes brasileiros no exterior e foi eleito. "É semelhante a um assessor do Itamaraty do exterior: faz reivindicações e estudos da comunidade ao governo brasileiro", explica. Ele diz que montou um consulado itinerante, com igreja, em sua região.
A plataforma do candidato inclui menor intervenção do estado na economia e investimento em educação e energia renovável. Ronney defende abrandar a legislação para imigrantes na Flórida e permitir que "todo residente que provar que tem residência naquele estado e tenha algum tipo de documento válido" possa tirar a carteira de motorista. A campanha arrecadou cerca de US$ 25 mil, de acordo com o candidato.
Poucas chances
O instituto americano de financiamento de campanhas estima em US$ 1.434.760 (cerca de R$ 2,9 milhões) o "custo" para conseguir uma vaga na Casa Baixa. A entidade chegou ao número analisando dados cedidos pela Comissão Eleitoral Federal na eleição de 2010. Nos Estados Unidos, não há horário eleitoral gratuito. Os partidos precisam pagar os caros espaços na televisão, além de arcar com outras despesas de campanha. Os recursos são obtidos, em sua maior parte, por meio de eventos e de doações.
Os brasileiros arrecadaram cerca de US$ 20 mil (R$ 40,5 mil) em suas campanhas, tendo poucas chances de serem eleitos. O Itamaraty estima em 1 milhão o número de brasileiros residentes nos Estados Unidos, usando como base de cálculo pedidos dirigidos a consulados brasileiros no país e avaliações de líderes comunitários. O órgão afirma, no entanto, que "não se trata, de forma alguma, de censo acurado da comunidade brasileira".
Estrangeiros no Senado
O Senado dos Estados Unidos disponibiliza dados biográficos de todos os seus integrantes. Desde a fundação do órgão, em 1787, foram eleitos 1.931 senadores, de acordo com a instituição. Destes, 69 (ou 0,035%) foram senadores estrangeiros, três destes nascidos em locais depois incorporados pelos EUA. As nações mais frequentes são Irlanda (16), Inglaterra (13), Canadá (12) e Alemanha (4). Nunca um brasileiro foi eleito.
No mesmo período, foram votados seis negros (0,003%), incluindo o atual presidente, Barack Obama, cinco asiáticos (0,002%) e sete hispânicos (0,003%), de acordo com a instituição.
Dois senadores estrangeiros servem atualmente: o democrata Michael Bennet, da Índia, e o republicano John McCain, que concorreu à presidência em 2008, nascido em uma zona americana no Panamá.
O órgão não informa o número total de brasileiros que concorrem a vagas na eleição deste ano

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