MEDIÇÃO DE TERRA

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domingo, 25 de novembro de 2012

Balandê/Baião resgata origens africanas no interior do Piauí


O baião, imortalizado por Luiz Gonzaga, deu cria ao Balandê.
A dança atrai dezenas de jovens em Monsenhor Gil, região Norte do estado.

Patrícia Andrade Do G1 PI

Jovens ajudam a resgatar a dança que começou no século 19, no Piauí (Foto: Patrícia Andrade)Jovens ajudam a resgatar a dança que começou no século 19, no Piauí (Foto: Patrícia Andrade)
A leveza dos vestidos estampados, a sonoridade dos gafanhotos, o gingado dos homens e mulheres no terreiro configura uma dança secular que atravessa várias gerações no município de Monsenhor Gil, região Norte do Piauí. O Balandê/Baião é uma das manifestações mais fortes da cultura local dessa cidade de pouco mais de 10 mil habitantes, mas que só há oito anos vem sendo aos poucos apresentada a outras regiões e estados do Brasil.
Depois que o médico Antonio Noronha Pessoa Filho, produziu em 2004 um curta-metragem intitulado Balandê /Baião, a dança típica rural ganhou notoriedade e a partir então foi se revelando para outros públicos. O filme foi selecionado dentro da primeira edição do projeto ‘Revelando os Brasis’ do Ministério da Cultura e do Instituto Marlin Azul, e exibido em várias capitais brasileiras.
O baião, reconhecidamente nordestino e imortalizado por Luiz Gonzaga, deu cria ao Balandê em Monsenhor Gil por volta da década de 40, através de Luís Pereira de Andrade, o Mestre Zé Coelho. No entanto, os relatos históricos e de populares revelam que o baião já era dançado na região por escravos refugiados em 1875, no que antes era chamado de Povoado Lages. Dança e religião se encontravam nas festividades realizadas após as rezas e durante o período da colheita como forma de agradecimento.
O povoado de Lages fazia parte de Teresina quando recebeu seu primeiro padre, Monsenhor Gil. Por influência do sacerdote, o povoado passou a se chamar Natal, em função das festas religiosas realizadas em dezembro. Em 1963, Natal tornou-se município e recebeu o nome de Monsenhor Gil.
Quem conta toda essa história é o educador físico Jozimar de Sousa Venção, carinhosamente conhecido na cidade por ‘Jorginho’. Ele foi integrante do grupo que nasceu em 2005 e hoje é responsável por implantar em algumas escolas da rede pública de ensino o Balandê. Foi a partir daí que crianças e adolescentes passaram a conhecer e a dançar o Balandê/Baião.
Categoria mirim ou no grupo principal, o professor conta que não foi fácil fazer esse trabalho. "Foram muitas barreiras, dificuldades, porque muitos jovens a princípio rejeitaram por não gostar da proposta, porque para quem não conhece é difícil aceitar no primeiro momento essa dança. Tivemos que dar uma nova roupagem nas músicas e convencer da importância desse resgate cultural para a história e identidade da cidade", explica.
No Balandê, homens e mulheres se cortejam enquanto dançam (Foto: Patrícia Andrade)No Balandê, homens e mulheres se cortejam enquanto
dançam (Foto: Patrícia Andrade)
O Grupo
‘Jorginho’ conta que esbarrou em alguns problemas, mas não desistiu. Mesmo sem imaginar que um dia coordenaria o grupo hoje formado 28 integrantes, crianças e adolescentes com idade entre 7 e 18 anos, ele conta que a sua intenção era mesmo levar a cultura para dentro da escola, para perto dos alunos. E assim aconteceu. O trabalho deu mais certo na Escola Municipal Zé Irias, localizado no bairro Cachoeira, comunidade em que o professor mora. "Naquele momento, considerava que o mais importante era não deixar a manifestação morrer", diz.
O educador conta com a participação da esposa e dois de seus três filhos, que dançam o folguedo. O professor, que também é graduado em Física, se empolgou tanto que já está prestes a finalizar um livro onde conta a história da cultura de Monsenhor Gil, com amplo destaque para o Balandê/Baião. A publicação deve ficar pronta até o segundo semestre de 2013.
O grupo já se apresentou diversas vezes no Encontro Nacional de Folguedos, evento realizado anualmente pela Fundação Cultural do Piauí (Fundac) em Teresina. Para o professor Jozimar Venção está faltando mais investimentos por parte do poder público. Hoje o grupo cumpre a sua agenda de apresentações contando apenas com ajudas esporádicas. O figurino, por exemplo, está precisando de renovação.
“É necessário mais incentivo porque precisamos de um espaço para trabalhar a formação musical dos integrantes do grupo, já que temos a idéia de fazer a parte musical do Balandê também ao vivo. Esse ano a única ajuda que tivemos foi a quantia de 150 reais para comprar os chapéus e transporte para apresentações fora da cidade”, conta.
Os vestidos da mulheres no Balandê se caracteriza por vestidos estampados (Foto: Patrícia Andrade)O figurino da mulheres no Balandê se caracteriza por vestidos estampados (Foto: Patrícia Andrade)
A dança
Se você é daqueles que curte dançar o forró ou baião agarradinho, agradeça ao Mestre do Balandê. Não chega a ser oficial, mas foi graças à malícia do Mestre Zé Coelho e de um de seus irmãos que fez com que homem e mulher pudessem aproximar seus corpos durante a dança. No baião o homem galanteava a mulher sarapateando em volta da mulher e vice-versa, mas não se tocavam. Foi aí que Zé Coelho resolveu com o irmão criar uma dança em roda em que se podia no mínimo pegar nas mãos. Começava aí o Balandê e suas próprias características.
Hoje as mulheres dançam com vestidos longos, rodados e estampados. Nos pés uma sandália rasteira de couro e no rosto maquiagem com cores bem fortes. Os homens usam calça no modelo social e camisas que podem ser em cores variadas e chapéus. É deles a função de tocar os gafanhotos, instrumento musical que se assemelha às castanholas, de origem espanhola.

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