MEDIÇÃO DE TERRA

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MEDIÇÃO DE TERRAS

sábado, 24 de novembro de 2012

Autistas e esquizofrênicos sofrem com tratamento precário no Piauí


Dificuldade de diagnóstico dificulta inserção do doente na sociedade.
Desconhecimento sobre doenças é apontada como o principal problema.

Viviana Braga Do G1 PI

Apesar do número expressivo de autistas e esquizofrênicos em todo o mundo, cerca de 140 milhões de pessoas, segundo Organização Mundial de Saúde, os doentes ainda não contam com uma rede de apoio adequada ao tratamento, afirmam especialistas e entidades. No Piauí, a precariedade no diagnóstico e administração das doenças provoca o agravamento dos sintomas e do convívio social e familiar, diz o psiquiatra e presidente da Associação Psiquiátrica do Piauí, Ediwyrton Freitas Barros.
Médico aponta falhas na assitência aos esquizofrênicos no Piauí (Foto: Viviana Braga/G1)Médico relata falhas no apoio aos esquizofrênicos no
Piauí (Foto: Viviana Braga/G1)
De acordo com ele, do ponto de vista médico, os tratamentos para autismo e esquizofrenia avançaram consideravelmente nas últimas décadas. O problema, segundo ele, passa pelo fator educação e estrutura. "As complicações iniciam dentro da própria família. Boa parte delas têm dificuldade para identificar os sintomas no paciente, o que acaba retardando o tratamento. Além disso, mesmo após o diagnóstico dos transtornos, não só os doentes, como seus familiares, necessitam de um apoio técnico para saber como lidar com o problema", explica.
Barros afirma que o autismo faz parte de um grupo de síndromes - Transtorno do Espectro Autista (TEA) - que envolve o próprio autismo e a Síndrome de Asperger. Nesses casos, as principais características são a dificuldade de comunicação e interação visual, intolerância a mudanças ambientais e comportamentais, abstração e, em alguns casos, agressividade. "O autismo se manifesta já na infância e perdura por toda vida. Além disso, predomina em bebês do sexo masculino", esclarece.
Ainda de acordo com o psiquiatra, a esquizofrenia prevalece em adultos jovens e tem como principais sintomas a perda do contato com a realidade, mania de perseguição e as alucinações visuais e auditivas.

Atendimento precário
Há 12 anos inserida na vida daqueles que convivem com o autismo, a Associação dos Amigos dos Autistas no Piauí (AMA) vem exercendo apoio e suporte técnico para educação e tratamento de autistas. A instituição assiste 111 pessoas é a única com atendimento especializado em autismo no estado.
No entanto, segundo Rozália Sousa, diretora pedagógica da AMA, a estrutura está longe de ser a ideal. "O quesito saúde tem sido o maior obstáculo no tratamento dos alunos matriculados na AMA. Hoje contamos com o apoio de apenas um psicólogo. Além disso, a própria estrutura física da nossa sede não contribui no processo de desenvolvimento dos alunos", diz.
Autistas sofrem com tratamento precário no Piauí (Foto: Viviana Braga/G1)Sede da AMA no Piauí enfrenta dificuldades estruturais (Foto: Viviana Braga/G1)
A AMA é uma entidade filantrópica mantida através de parceiras com a Secretaria Estadual de Educação, Secretaria de Educação do Município de Teresina, Secretaria Municipal do Trabalho, Cidadania e de Assistência Social, o Programa Mesa Brasil e doações. Apesar das dificuldades, a instituição já obteve resultados positivos no tratamento de autistas. "Muitos dos que já passaram por aqui conseguiram se inserir nas escolas e ter um convívio social adequado para seu desenvolvimento. Imagine se contássemos com todo apoio e estrutura necessários para o desenvolvimento deles", afirma Rozália.
Com relação o tratamento dos casos de esquizofrenia, a falta de estrutura é a mesma, afirma o médico Ediwyrton Barros. Segundo ele, não há, no estado, uma rede de apoio ideal para atendimento. Com isso, muitos não procuram o tratamento e nem sequer identificam a doença.
"Teresina tem apenas quatro Centros de Atenção Psicossocial (CAPs), quando, pela quantidade de habitantes, o ideal seria ao menos oito. Além disso, há uma certa resistência das pessoas em procurar a ajuda de um psiquiatra. Não é fácil aceitar o diagnóstico de um transtorno como esse, por isso a importância do apoio tanto ao paciente quanto a família", diz.
É essa dificuldade de tratamento, diagnóstico e convívio pela qual passa a família da funcionária pública R.M.F.O, de 50 anos, desde que seu irmão mais novo foi diagnosticado como esquizofrênico, há 17 anos. A familiar, que prefere não ser identificada, conta que tudo começou quando F.J.C.F.J tinha 25 anos.
Segundo ela, a doença se agravou quando o irmão disse ser perseguido por um monge suicida, que pedia para que ele também se matasse. "Foi nesse momento que nossa preocupação aumentou e decidimos levá-lo a um médico porque tínhamos medo que ele se suicidasse", diz. Com a ajuda de um profissional foi possível identificar o transtorno, que começou a ser tratado com medicação. "Nessa época ele melhorou bastante, mas logo que teve esse avanço, passou a recusar os remédios", explica.
Hoje, com 42 anos, F.J.C.F.J. não tem amigos e vive isolado em casa. "Ele tem emprego, conseguiu se formar em Direito, mas a vida social se resume apenas as horas em que está no trabalho", conta.
Tratamento proporciona qualidade de vida
De acordo com Barros, embora a cura da esquizofrenia e do autismo ainda não seja algo vislumbrado pela ciência, com o diagnóstico precoce e o tratamento adequado é possível ter qualidade de vida.
"Obviamente que o resultado do tratamento vai depender muito do grau da doença no paciente, de quando e como a mesma foi diagnosticada e tratada. Mas vale ressaltar que há casos de autistas que têm atividade intelectual excepcional. O mesmo acontece com os esquizofrênicos, onde podemos citar como exemplo o caso do matemático John Nash - retratado no filme Uma Mente Brilhante - que chegou a ganhar o prêmio Nobel de Economia”.

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