Mas, suponhamos que o deputado acreditasse estar falando sério. Neste caso, vamos desmenti-lo, mas concedendo-lhe, por cortesia, o direito de escolher com qual escândalo ele prefere que comecemos a lista. Pela fraude na licitação para o aluguel de viaturas para a PM? Pelo superfaturamento e desvio de verbas na reconstrução do estádio de Pituaçu? Pela condição de funcionária fantasma da primeira-dama Fátima Mendonça? Pela auto-contratação do secretário da Saúde Jorge Solla como consultor de um projeto internacional para a própria Secretaria da Saúde? Enfim, são tantos que não importa qual abordar primeiro.
Como o candidato não quis fazer valer o seu direito de escolha, escolhemos nós mesmos. Vamos começar por um escândalo de 2009: o esquema de fraude na licitação para a locação de 201 viaturas para a Polícia Militar da Bahia, onde a empresa vencedora ofereceu proposta acima do valor referenciado para a concorrência e mesmo assim venceu. Foi um contrato inicial de mais de R$ 25 milhões, já então considerado superfaturado, mas que logo depois da licitação foi aditivado em 25%, elevando-se a mais de R$ 32 milhões. Em março de 2009, foram presas 12 pessoas, entre lobistas, empresários da empresa vencedora e representantes do alto escalão da PM, entre os quais o ex comandante-geral, coronel Antonio Jorge Ribeiro Santana.
Na verdade, se fôssemos seguir a cronologia, poderíamos ter começado por um escândalo dos mais cabeludos e ofensivos à ética e à moralidade pública. Esse foi no começo do governo Wagner, em 2007, e teve como protagonista o secretário da Saúde do Estado, Jorge Solla, que foi alvo de representação junto ao Ministério Público por improbidade administrativa. Ele fez nada mais, nada menos do que contratar a si próprio como consultor no Projeto Mais Saúde Bahia, gerido pela própria Secretaria da Saúde. O detalhe mais cabeludo desse escândalo é que Solla era consultor da empresa francesa Conseil Santé, que venceu a licitação em agosto de 2007 e ainda teve o contrato majorado de 280 mil para 462 mil euros, que na época correspondiam a cerca de R$ 1,2 milhão.
Poderíamos ter começado, também, pelo grande escândalo que foi a reconstrução do estádio de Pituaçu, obra feita pela Conder com dispensa de licitação e superfaturada em mais de R$ 30 milhões. Esse escândalo até merecia ter sido o primeiro da lista, pela sua proximidade com o deputado Nelson Pelegrino, que mandava na Conder, para a qual tinha indicado como presidente a sua afilhada Maria Del Carmen. A obra havia sido inicialmente orçada em R$ 22 milhões e terminou custando R$ 55 milhões, mesmo tendo deixado de incluir itens do projeto como a construção de vias de acesso e de uma passarela sobre a Avenida Paralela.
Se tivéssemos optado pelo escândalo mais recente, poderíamos ter abordado a indecente condição de funcionária fantasma da primeira-dama do Estado, Fátima Mendonça, que recebe cerca de R$ 14 mil no Tribunal de Justiça da Bahia sem lá pôr os pés. Trata-se de fato sem precedentes na história política da Bahia. O fato está sendo investigado pelo Conselho Nacional de Justiça, mas o governador Jaques Wagner tem ignorado solenemente, provavelmente por não se sentir na obrigação de prestar quaisquer satisfações à população.
Também merecem ser destacados os escândalos de ordem moral e ética, como a sua viagem ao exterior enquanto a PM baiana estava em greve e somente em Salvador eram registrados cerca de quinze assassinatos por dia. Ou como a inaceitável greve de quase quatro meses dos professores do estado, motivada pelo não cumprimento de acordo firmado pelo governo com a categoria. Ou, ainda, como o indecente hábito do governador de somente se deslocar de helicóptero, mesmo em percursos pequenos, consumindo diariamente cerca de R$ 5 mil em recursos públicos.
Bem, se o deputado Pelegrino achar que esses escândalos protagonizados pelo pessoal do seu time, poderemos voltar ao assunto, que é vasto.
E olha que nem falamos do mensalão.
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