Ranulfo Bocayuva, jornalista
Já o vice democrata Joe Biden, que debateu anteontem com o deputado Raul Ryan, vice do candidato republicano, demonstrou mais objetividade e personalidade, dando sinais de vitória e obrigando, inclusive, seu oponente a explicar a gafe de seu companheiro de chapa. De fato, Romney ajudou, recentemente, Obama ao dizer que 47% se aproveitavam do governo e não pagavam impostos. Pegou mal: eles não pagam porque não têm trabalho.
Mas será que Obama e Romney estão realmente falando para o cidadão comum? Ou se revelam apenas quando dizem o que não querem? Eles têm capacidade de criar projetos para gerar empregos, garantir sistema de saúde e manter segurança interna e global?
Ambos têm capacidade, sim, só que com visões opostas da América. Obama quer mais um mandato para consolidar suas reformas de saúde, educação e meio ambiente enquanto Romney pretende desregulamentar, cortar impostos para os mais ricos e reduzir orçamento.
Como a Câmara dos Deputados e o Senado são controlados pelos republicanos, que rejeitaram as reformas da saúde e a liberação de mais gastos governamentais para gerar emprego, ambos partidos podem ser responsabilizados pela atual crise. Os EUA estão divididos.
Bruce Strokes, especialista do Pew Research Center, afirma categoricamente que a recuperação econômica é o que mais preocupa os americanos, ainda mais no atual contexto de escalada acelerada da recessão europeia.
Mas é também verdade, diz Strokes, que não se vota somente com a cabeça, mas também com o coração e a paixão. Por isso, as qualidades pessoais, exemplos comportamentais, padrões familiares e preferências intelectuais servem de parâmetro.
Obama tem atraído o voto dos negros, hispânicos, homossexuais, mulheres e jovens, enquanto Romney, principalmente dos brancos não hispânicos, que equivalem aos americanos mais reacionários e conservadores. Localizados em estados tradicionalmente direitistas, estes americanos são contra o aborto, os gays e a favor de intervenções militares na Síria e Irã.
Os próximos debates do dia 16 e do dia 22 serão, portanto, cruciais. Temas, como desemprego, cuja taxa está em 8% (o que nos EUA representa 3,27 milhões de trabalhadores), impostos, Afeganistão, Iraque, energia, regulamentação bancária, saúde, educação, pena de morte, aborto e guerra contra o terror têm sido debatidos, mas sem abordagem de novas visões.
São ignoradas as questões contemporâneas mais reais, como a decadência da sociedade americana, cujos reflexos são evidentes na onda contínua de assassinatos por armas de fogo e na produção e consumo de drogas.
Seria bom lembrar a Obama e Romney, por exemplo, que pelo menos 24 americanos são assassinados por dia nos EUA por atiradores. Este número equivale a cerca de oito mil americanos mortos por armas de fogo a cada ano.
O documentarista Michael Moore, ("Tiros em Columbine", 2002) reclama que matar é a forma americana de resolver os problemas. Seria realmente uma pena não aproveitar este momento para forçar os candidatos a encontrarem soluções inovadoras para superar a cultura da violência e do confronto com outros países.
A opção por soluções negociadas ou diplomáticas não tem merecido a devida atenção. De qualquer forma, Obama parece mais sensível e capaz.
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