Aécio Neves e Dilma Rousseff, possíveis adversários em 2014, rondaram disputa municipal que deve eleger Lacerda no 1º turno
Wilson Tosta, enviado especial e Marcelo Portela, de O Estado de S. Paulo
BELO HORIZONTE - O elenco é local, mas o enredo é federal - e
poderá influenciar no Brasil de 2014. Oficialmente, os eleitores de Belo
Horizonte escolhem entre o prefeito Marcio Lacerda (PSB), candidato à
reeleição, e Patrus Ananias, desafiante pelo PT, quem comandará a
prefeitura até 2016.
A aposta maior é de Aécio, que, após um início de mandato discreto no Senado, parece se movimentar mais ativamente rumo à candidatura ao Palácio do Planalto. Aparentemente certo da vitória do aliado, o senador tenta transformá-la em um triunfo pessoal sobre o petismo, que poderia contrastar com uma eventual derrota de seu partido em São Paulo, onde José Serra disputa a Prefeitura pelo PSDB. Quanto a Dilma, seu sonha é derrotar em seu reduto o provável futuro adversário.
O cenário de nacionalização da campanha mineira aprofundou-se nos últimos dias, no ambiente político marcado pelo julgamento, no Supremo Tribunal Federal (STF), de parte do antigo comando petista pelo escândalo do mensalão.
Diferentemente de Lacerda, que repete que o PSB é da base do governo federal no Congresso, elogia a presidente Dilma e evita ataques mais duros ao PT, Aécio introduziu o processo em curso no STF na campanha mineira, atacou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva como "líder de facção" e acusou Dilma de ser uma "estrangeira" que estaria tentando se meter indevidamente na campanha mineira. Nascida na cidade, a presidente, após cumprir pena de prisão por participar da luta armada contra a ditadura, nos anos 1970, estabeleceu-se no Rio Grande do Sul, onde mantém vínculos até hoje.
Dilma respondeu em comício de Patrus na quarta-feira em Belo Horizonte: "Como sou estrangeira, se saí daqui porque lutei contra a ditadura? Não saí para ir à praia, não saí para passear", atacou, sem citar Aécio, mas se referindo às constantes viagens do senador ao Rio de Janeiro, onde ele mantém residência.
Dura, a troca de ataques marcou a introdução da questão nacional na política mineira. Em 2008, Lacerda foi o cabeça de uma coligação costurada pelo então prefeito Fernando Pimentel (PT), com o aval de Lula, e Aécio, que comandava o governo mineiro e assim se afastava da disputa entre petistas e tucanos que vem marcando a política brasileira desde 2002.
Esse arranjo político durou até junho de 2012, quando, bancado por Aécio, o PSB municipal se recusou a atender a exigências petistas para manter a aliança e o partido da presidente optou por lançar candidato próprio - gesto que levou Dilma a atuar diretamente no pleito para articular a candidatura de Patrus. Foi uma manobra de risco para os dois lados, já que passou a dar dimensão federal a uma disputa que era, até então, estadual.
Aécio aparentemente avalia que ganhou a briga por meio de Lacerda e tenta dar dimensão nacional ao resultado positivo. Uma vitória, além de fortalecê-lo dentro do PSDB, pode garantir um palanque no Estado na corrida presidencial de 2014, já que o partido do senador não tem nome forte para a disputa estadual e Lacerda é cotado para a sucessão do governador tucano Antonio Anastasia. Oficialmente, o prefeito nega querer disputar o Palácio da Liberdade.
Aposta
Dilma reforça a aposta em Patrus talvez por falta de alternativa a não ser tentar levar a disputa para o segundo turno e por não ter como abandonar sem desgaste um aliado que assumiu a candidatura por estímulo do Palácio do Planalto. Curiosamente, Patrus repete seus vínculos com o governo federal petista, mas Lacerda, apoiado pelo oposicionista Aécio, procura mostrar bom relacionamento com a presidente, em uma espécie de memória da aliança rompida há apenas três meses e com vistas a um eventual futuro governo.
O próprio PSB nacional procurou tratar com cuidado a eleição de Belo Horizonte. Suas estrelas, como os governadores Eduardo Campos (Pernambuco) e Ciro Gomes, ficaram publicamente longe da campanha. Ciro chegou a se reunir com Lacerda e Aécio para tentar um acordo para manter a aliança com o PT, mas afirmou que saiu "muito decepcionado" do encontro por causa da posição do amigo tucano e desde então se afastou da disputa.
Também um possível presidenciável, Campos precisa conciliar a estratégia de crescimento do seu partido com a relação com Dilma e com o PT, que não lhe interessa romper de imediato, ainda que avance em redutos até então petistas, como Recife, onde PSB e PT mantinham antiga aliança.
Para o pernambucano, há mais cenários possíveis - candidatura própria a presidente, possível vice de Aécio ou de Dilma, apoio a uma chapa governista ou de oposição -, o que pode ajudar a explicar a cautela que adotou em relação a Belo Horizonte. Principalmente depois que ficou claro que a briga na capital mineira não seria só local.
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