MEDIÇÃO DE TERRA

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MEDIÇÃO DE TERRAS

domingo, 14 de outubro de 2012

Aplicação de inseticida biológico na água ajuda a combater borrachudos


Lixo e dejetos de animais são o combustível para o criatório do inseto.
Recuperar mata das margens dos riachos previne infestação.

Do Globo Rural

A família do agricultor Nelson Rasváiler, de Jaraguá do Sul, em Santa Catarina, está enfrentando problemas para sair de casa por causa dos borrachudos. É um inseto da família dos simulídeos, mas que não tem nada a ver com o pernilongo. Os borrachudos gostam de voar durante o dia, com sol quente, são nativos da Mata Atlântica e bem pequenos.
Pelo microscópio é possível ver imagens dele na fase de larva, pupa e o inseto adulto. De acordo com a Fundação Osvaldo Cruz, existem 170 espécies de borrachudos. Alguns podem transmitir uma doença chamada oncocercose que provoca caroços na pele.
Apesar do borrachudo estar presente em praticamente todo o território brasileiro, os focos da doença são restritos, como explica o biólogo da secretaria de meio ambiente de Jaraguá do Sul, Ulises Sternheim. “Esse parasita está presente no Brasil no norte, principalmente no estado de Roraima. Você vai encontrar também na Venezuela, Colômbia com esse parasita. Aqui na nossa região não existe transmissão de doenças pelo borrachudo ao homem, é exclusivamente o incômodo da picada”, diz.
A picada tem uma justificativa. A fêmea se alimenta do sangue de mamíferos. Portanto, quem pica é a borrachuda. Coça porque quando o inseto pica, injeta uma substância que provoca uma reação alérgica na pele.
A fêmea adulta deposita os ovos em folhas e galhos submersos em água corrente dos riachos. Os ovos viram larvas e pupas, e depois de 25 dias o adulto sai de dentro da água. Quando a fêmea é fertilizada, procura um mamífero para picar, porque o desenvolvimento dos ovos que ela carrega depende da proteína do sangue, que pode ser o de um ser humano.
Ao contrário do mosquito da dengue, por exemplo, o borrachudo não gosta de água parada, e quanto mais sujeira tiver melhor. As larvas se alimentam de matéria orgânica por isso, lixo e dejetos de animais são o combustível para o criatório do borrachudo.
O biólogo mostra um dos focos, atrás do curral da propriedade do Nelson Rasváiler. “Sempre que chove, material orgênico é carreado pela chuva até os ribeirões. Isso vai servir de alimento para as larvas do borrachudo em duas situações. Diretamente, como matéria orgânica e indiretamente, eutrofizando, quer dizer, como se fosse fertilizando para o rio, onde vai aumentar a quantidade de algas e essas algas também vão servir de alimento para o borrachudo. Uma das medidas é transformar o receptáculo de esterco em esterqueiras fechadas, onde o líquido e o solido vão ser separados, curtidos e tudo é coletado e aproveitado, nada iria para o ambiente sem tratamento”, orienta.
Basta dar uma olhada no riacho da propriedade para encontrar milhões de larvas. Elas ficam presas em folhas e pedras. Cada fêmea pode colocar até 2.500 ovos no seu ciclo de vida, que dura em torno de 30 dias.
Para diminuir a incidência do borrachudo no sítio, a família recebeu orientações de uma equipe da Fundação de Meio Ambiente de Jaraguá do Sul. O responsável pelo trabalho de controle de borrachudos no município, o fiscal Luiz Carlos Stefani, explica que será preciso aplicar um inseticida biológico na água.
A base do produto é uma bactéria, o bti, que mata a larva do inseto. O inseticida é diluído em água na proporção adequada e espalhado pelo riacho. Em poucos segundos, forma-se uma espuma. Segundo estudos da Embrapa, o inseticida não faz mal à saúde das pessoas, de peixes e de outros animais. “Damos um kit para o proprietário, com um cronograma pra aplicar o ano inteiro. A aplicação vai ser feita a cada quinze dias e não tem um tempo pra ele parar”, explica Stefani.

O problema com borrachudos não é recente em Jaraguá do Sul não. Há 16 anos, os produtores de banana da comunidade começaram a fazer esse trabalho de controle com aplicação de inseticida biológico no riacho.
“Há três anos que tive uma ideia de melhorar ainda mais esse controle. Vinte e quatro moradores concordaram em pagar cada um R$ 50, a cada três anos para o meu tio fazer o serviço. Ele vai em 40 lugares aplicar esse produto, a cada 14 dias. Nós estamos conseguindo controlar pelo menos 80%”, afirma Renato Schuster, agricultor.
Além da aplicação do inseticida, o fiscal Luiz Stefani explica que o produtor pode tomar outras medidas que ajudam a controlar o borrachudo. Recuperar a mata das margens dos riachos diminui a temperatura do ambiente e mantém os predadores naturais do inseto, como fizeram os produtores de banana, que replantaram árvores nativas onde antes só havia capim. “As partes que nós fizemos a recuperação da mata ciliar, não aplicamos mais o produto porque se a gente for fazer um levantamento, você vai encontrar pouquíssimas larvas”, comenta.
Não jogar lixo no riacho também ajuda muito no controle dos borrachudos porque, além de pedras e folhas, as larvas gostam de se fixar em sacos plásticos jogados na água.

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