MEDIÇÃO DE TERRA

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MEDIÇÃO DE TERRAS

domingo, 16 de setembro de 2012

Festival folclórico tem duelo de botos em Santarém, PA


Tradicional disputa acontece desde 1999 na cidade.
Resultado será conhecido na segunda-feira (17).

Do G1 PA

Caravela - mostrou a chegada dos portugueses ao rio Tapajos, na expedição de Pedro Teixeira  (Foto: Ingo Muller/G1)Desfile do Boto Rosa mostrou a chegada dos portugueses ao Tapajós (Foto: Ingo Muller/G1)
As agremiações Boto Rosa e Tucuxi se enfrentaram mais uma vez no sábado (15). O duelo folclórico envolveu danças típicas e lendas da Amazônia, e foi realizado no Sairódromo da vila de Alter do Chão, localizada a 32 km de Santarém, no oeste do Pará. A programação faz parte do festival do Sairé, uma celebração religiosa realizada continuamente desde 1973, mas cuja origem está em rituais jesuítas praticados há mais de 300 anos.
O folclore regional ganhou espaço no Sairé em 1997, quando a comunidade encenou a lenda do boto após as ladainhas católicas, contanto a história do animal que, segundo os nativos, assume forma humana para seduzir caboclas ribeirinhas. A ação fez sucesso, e foi repetida no ano seguinte. Dois anos depois, os moradores da vila se dividiram em duas agremiações, o boto Rosa e o boto Tucuxi (cinza), que passaram a disputar, como em uma competição de carnaval, para ver quem faria o melhor espetáculo.
Tucuxi apostou em carros alegóricos com temática tapajônica (Foto: Ingo Muller/G1)Tucuxi apostou em carros alegóricos com temática tapajônica (Foto: Ingo Muller/G1)
A competição tem regras bem definidas. Cada apresentação pode durar até duas horas e, durante este tempo, as agremiações precisam representar 15 itens, que serão avaliados pelos jurados. Estes itens são atrações obrigatórias, como o boto-homem, a cabocla, a rainha do lago verde, a rainha do artesanato, o ritual indígena, o pajé e o ritmo do carimbó, mas não precisam ser encenados em sequência: cada grupo tem liberdade para ordenar seu desfile, fazendo com que um enredo aparentemente limitado seja reinventado ano após ano.
Boto Rosa investiu em cenários, fumaça e fogos de artifício (Foto: Ingo Muller/G1)Boto Rosa investiu em cenários, fumaça e fogos de
artifício (Foto: Ingo Muller/G1)
As músicas são um caso a parte. Como cada grupo tem bastante tempo para mostrar seu trabalho, não existe um único tema musical. Em vez disso, os botos montam um repertório de canções, que são tocadas em momentos-chave da trama. Algumas chegam a ser executadas mais de uma vez, para dar uma certa identidade ao desfile e, principalmente, provocar a torcida rival.
A torcida também faz parte do espetáculo, levando faixas, balões, bandeiras e até fogos de artifício. Porém, assim como no festival de Parintins, durante a apresentação de um grupo, a agremiação rival precisa esperar calada - tudo em nome do espetáculo, que neste ano começou com a apresentação marcante do Boto Tucuxi.
Tucuxi faz desfile empolgante
Ana Karine, rainha do artesanato do Boto Tucuxi (Foto: Ingo Muller/G1)Ana Karine, rainha do artesanato do Boto Tucuxi (Foto: Ingo Muller/G1)
O Boto Tucuxi entrou às 21h48 no Sairódromo e, já durante o aquecimento musical, mostrou que veio forte para defender o título de campeão conquistado ano passado, trazendo músicas empolgantes e de refrões fáceis, fazendo todo mundo cantar junto. O Tucuxi retratou o imaginário Tapajó durante sua apresentação, que contou com carros alegóricos elaborados, cheios de partes móveis e efeitos especiais. O grupo deu um show de coreografia ao mostrar a história de amor proibida entre a índia potira e o missionário Sebastião Teixeira, que teria se encantado pela beleza da nativa e, por conta disso, transformado em boto como punição enquanto ela virou a rainha do Lago Verde, uma entidade protetora de Alter do Chão.
Pajé durante a demonstração do rito Curare / Boto Tucuxi (Foto: Ingo Muller/G1)Boto Tucuxi - Pajé durante a demonstração do rito
Curare (Foto: Ingo Muller/G1)
Porém, o ponto alto da noite foi quando o Tucuxi trouxe a história das tribos indígenas que utilizavam o veneno Curare para se defender dos colonizadores até aprenderem que a mesma substância que mata também pode salvar vidas se usada como anestésico. O ritual indígena Tucuxi contou com alegorias em forma de animais peçonhentos e um balé de aranhas estilizadas. A plateia participou do desfile das aranhas, montando teias com fitas semelhantes as que eram mostradas na arena, e delirou com o encerramento do desfile, quando o Pajé desceu dos céus, do alto de um carro alegórico, para dançar junto com a tribo e espantar os maus espíritos com sua carranca amedrontadora. Foi o final perfeito para uma apresentação vibrante, que fez o público aplaudir de pé após uma hora e 58 minutos de espetáculo.
Torcida Boto Tucuxi (Foto: Ingo Muller/G1)Torcida Boto Tucuxi (Foto: Ingo Muller/G1)
Boto Rosa tem apresentação pirotécnica
A belíssima apresentação do Boto Tucuxi aumentou a responsabilidade da agremiação Boto Rosa, que apostou em cenários suntuosos em vez de carros alegóricos no Sairé 2012. Durante o desfile, uma equipe de contra-regras montava uma série de palcos para mostrar a origem do povo paraense, com índios em suas ocas e portugueses chegando em caravelas. Tiveram destaque histórias do folclore paraense, como a do guerreiro indígena Juma, que se refugiou com os anciões após sua tribo ser derrotada para aprender os segredos da cura, se transformando no Pajé Borari, e da rainha do artesanato, beldade enclausurada em uma peça de cerâmica Tapajônica para guardar as cinzas dos guerreiros mortos.
Guerreiro Juma se transforma no Pajé Borari (Foto: Ingo Muller/G1)Guerreiro Juma se transforma no Pajé Borari / Boto Rosa (Foto: Ingo Muller/G1)
Ao contrário do Tucuxi, que utilizou batidas fortes e músicas cheias de refrões que caíram na boca do povo, o Boto Rosa flertou com os ritmos mais suaves e melódicos, mas o resultado não empolgou tanto o público presente no Sairódromo. Para piorar, o Boto Rosa teve um problema de evolução: uma falha no áudio fez com que a arena ficasse vazia por alguns minutos, que pareceram uma eternidade para todos que acompanharam a apresentação.
Mesmo assim, a torcida rosa não desanimou, estimulando a equipe com coreografias de bandeirinhas feitas na arquibancada. O grupo cativou a plateia ao trazer versões mirins das rainhas e do boto, que transformaram o desfile em brincadeira. Para encerrar, um espetáculo pirotécnico marcou o final da apresentação da agremiação, levando o rosa do boto para os céus no colorido dos fogos de artifício após uma hora e 53 minutos de espetáculo.
Torcida da agremiação Boto Rosa (Foto: Ingo Muller/G1)Torcida da agremiação Boto Rosa (Foto: Ingo Muller/G1)

Resultado será conhecido na segunda-feira
Logo após o encerramento das apresentações, os jurados depositaram suas cédulas como notas para cada um dos 15 quesitos obrigatórios das duas agremiações em um envelope lacrado, que foi entregue para o comando da Polícia Militar em Santarém. O material ficará aos cuidados da polícia até às 16 horas desta segunda-feira (17), quando acontecerá a apuração dos votos que vão definir o campeão do festival de botos do Sairé 2012.

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