Tradicional disputa acontece desde 1999 na cidade.
Resultado será conhecido na segunda-feira (17).
Desfile do Boto Rosa mostrou a chegada dos portugueses ao Tapajós (Foto: Ingo Muller/G1)
As agremiações Boto Rosa e Tucuxi se enfrentaram mais uma vez no sábado
(15). O duelo folclórico envolveu danças típicas e lendas da Amazônia, e
foi realizado no Sairódromo da vila de Alter do Chão, localizada a 32
km de Santarém,
no oeste do Pará. A programação faz parte do festival do Sairé, uma
celebração religiosa realizada continuamente desde 1973, mas cuja origem
está em rituais jesuítas praticados há mais de 300 anos.
Tucuxi apostou em carros alegóricos com temática tapajônica (Foto: Ingo Muller/G1)
A competição tem regras bem definidas. Cada apresentação pode durar até
duas horas e, durante este tempo, as agremiações precisam representar
15 itens, que serão avaliados pelos jurados. Estes itens são atrações
obrigatórias, como o boto-homem, a cabocla, a rainha do lago verde, a
rainha do artesanato, o ritual indígena, o pajé e o ritmo do carimbó,
mas não precisam ser encenados em sequência: cada grupo tem liberdade
para ordenar seu desfile, fazendo com que um enredo aparentemente
limitado seja reinventado ano após ano.
Boto Rosa investiu em cenários, fumaça e fogos de
artifício (Foto: Ingo Muller/G1)
As músicas são um caso a parte. Como cada grupo tem bastante tempo para
mostrar seu trabalho, não existe um único tema musical. Em vez disso,
os botos montam um repertório de canções, que são tocadas em
momentos-chave da trama. Algumas chegam a ser executadas mais de uma
vez, para dar uma certa identidade ao desfile e, principalmente,
provocar a torcida rival.artifício (Foto: Ingo Muller/G1)
A torcida também faz parte do espetáculo, levando faixas, balões, bandeiras e até fogos de artifício. Porém, assim como no festival de Parintins, durante a apresentação de um grupo, a agremiação rival precisa esperar calada - tudo em nome do espetáculo, que neste ano começou com a apresentação marcante do Boto Tucuxi.
Tucuxi faz desfile empolgante
Ana Karine, rainha do artesanato do Boto Tucuxi (Foto: Ingo Muller/G1)
O Boto Tucuxi entrou às 21h48 no Sairódromo e, já durante o aquecimento
musical, mostrou que veio forte para defender o título de campeão
conquistado ano passado, trazendo músicas empolgantes e de refrões
fáceis, fazendo todo mundo cantar junto. O Tucuxi retratou o imaginário
Tapajó durante sua apresentação, que contou com carros alegóricos
elaborados, cheios de partes móveis e efeitos especiais. O grupo deu um
show de coreografia ao mostrar a história de amor proibida entre a índia
potira e o missionário Sebastião Teixeira, que teria se encantado pela
beleza da nativa e, por conta disso, transformado em boto como punição
enquanto ela virou a rainha do Lago Verde, uma entidade protetora de
Alter do Chão.
Boto Tucuxi - Pajé durante a demonstração do rito
Curare (Foto: Ingo Muller/G1)
Porém, o ponto alto da noite foi quando o Tucuxi trouxe a história das
tribos indígenas que utilizavam o veneno Curare para se defender dos
colonizadores até aprenderem que a mesma substância que mata também pode
salvar vidas se usada como anestésico. O ritual indígena Tucuxi contou
com alegorias em forma de animais peçonhentos e um balé de aranhas
estilizadas. A plateia participou do desfile das aranhas, montando teias
com fitas semelhantes as que eram mostradas na arena, e delirou com o
encerramento do desfile, quando o Pajé desceu dos céus, do alto de um
carro alegórico, para dançar junto com a tribo e espantar os maus
espíritos com sua carranca amedrontadora. Foi o final perfeito para uma
apresentação vibrante, que fez o público aplaudir de pé após uma hora e
58 minutos de espetáculo.Curare (Foto: Ingo Muller/G1)
Torcida Boto Tucuxi (Foto: Ingo Muller/G1)
Boto Rosa tem apresentação pirotécnicaA belíssima apresentação do Boto Tucuxi aumentou a responsabilidade da agremiação Boto Rosa, que apostou em cenários suntuosos em vez de carros alegóricos no Sairé 2012. Durante o desfile, uma equipe de contra-regras montava uma série de palcos para mostrar a origem do povo paraense, com índios em suas ocas e portugueses chegando em caravelas. Tiveram destaque histórias do folclore paraense, como a do guerreiro indígena Juma, que se refugiou com os anciões após sua tribo ser derrotada para aprender os segredos da cura, se transformando no Pajé Borari, e da rainha do artesanato, beldade enclausurada em uma peça de cerâmica Tapajônica para guardar as cinzas dos guerreiros mortos.
Guerreiro Juma se transforma no Pajé Borari / Boto Rosa (Foto: Ingo Muller/G1)
Ao contrário do Tucuxi, que utilizou batidas fortes e músicas cheias de
refrões que caíram na boca do povo, o Boto Rosa flertou com os ritmos
mais suaves e melódicos, mas o resultado não empolgou tanto o público
presente no Sairódromo. Para piorar, o Boto Rosa teve um problema de
evolução: uma falha no áudio fez com que a arena ficasse vazia por
alguns minutos, que pareceram uma eternidade para todos que acompanharam
a apresentação.Mesmo assim, a torcida rosa não desanimou, estimulando a equipe com coreografias de bandeirinhas feitas na arquibancada. O grupo cativou a plateia ao trazer versões mirins das rainhas e do boto, que transformaram o desfile em brincadeira. Para encerrar, um espetáculo pirotécnico marcou o final da apresentação da agremiação, levando o rosa do boto para os céus no colorido dos fogos de artifício após uma hora e 53 minutos de espetáculo.
Torcida da agremiação Boto Rosa (Foto: Ingo Muller/G1)
Resultado será conhecido na segunda-feira
Logo após o encerramento das apresentações, os jurados depositaram suas cédulas como notas para cada um dos 15 quesitos obrigatórios das duas agremiações em um envelope lacrado, que foi entregue para o comando da Polícia Militar em Santarém. O material ficará aos cuidados da polícia até às 16 horas desta segunda-feira (17), quando acontecerá a apuração dos votos que vão definir o campeão do festival de botos do Sairé 2012.
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