MEDIÇÃO DE TERRA

MEDIÇÃO DE TERRA
MEDIÇÃO DE TERRAS

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Festival do Sairé une celebrações católicas e folclóricas no Pará


Evento deve reunir 100 mil visitantes na vila de Alter do Chão, no Pará.
Festa inspirada nos jesuítas é realizada há 300 anos.

Ingo Müller Do G1 PA

Procissão de abertura do Sairé em 2011 (Foto: Tâmara Saré / Agência PArá)Procissão de abertura do Sairé em 2011 (Foto: Tâmara Saré / Agência Pará)
Começa nesta quinta-feira (13), em Santarém, no oeste do Pará, o festival do Sairé. O evento é uma festividade religiosa realizada na vila de Alter do Chão que acontece todos os anos desde 1973, quando foi resgatada pela comunidade após ter sido proibida na década de 30.
O festival começa com dois mastros sendo puxados, que representam o "juiz" e a "juíza". Estes mastros são erguidos e decorados com frutas, simbolizando a fartura. Com os mastros de pé, a comunidade inicia os ritos religiosos sempre às 18 horas, durante os quatro dias do evento, que se encerra no domingo,  17 de setembro.
"Devem participar quase 100 mil pessoas. Ano passado, em cinco dias recebemos cerca de 80 mil visitantes", afirma Cleuton Von, responsável pela organização dos festejos religiosos do Sairé. Segundo Cleuton, muitos dos visitantes que participam do festival acabam retornando nos anos anteriores, seja para acompanhar as ladainhas ou para visitar a praia de Alter do Chão, uma das mais bonitas do Brasil. "Quem vai, volta", revela.
Segundo pesquisadores, tradição tem mais de 300 anos
Um estudo conduzido pela Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa) em parceria com o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) tenta resgatar a origem do Sairé, que é um dos eventos religiosos mais antigos da Amazônia.
Primeira ladainha do Sairé em 2011 (Foto: Tamara Sare / Agência Pará)Primeira ladainha do Sairé em 2011
(Foto: Tamara Saré / Agência Pará)
"O Sairé tem referências de pelo menos 300 anos. Ao longo deste tempo, muitas coisas foram modificadas, mas algumas características estruturais se mantiveram, como o aspecto religioso, que é muito forte, sobretudo nos moradores mais antigos", explica a antropóloga Luciana Carvalho, da Ufopa.
Segundo Luciana, não é possível afirmar como o evento começou, mas provavelmente a tradição começou com os ritos de catequese da congregação da Companhia de Jesus. "Parece clara a relação com os jesuítas, mas a forma como a festa religiosa adquiriu contornos populares não é clara. Não há referência precisa do que seria o Sairé original, as sociedades que viviam há 300 anos no Tapajós eram ágrafas, não mantinham registros escritos", afirma a antropóloga.
Porém, uma coisa que os estudiosos concordam é que a cultura popular é extremamente maleável, incorporando elementos e se modificando com o tempo. No caso do Sairé, houve a introdução das manifestações folclóricas, como músicas regionais e a dramatização da lenda amazônica do boto, que ocorre desde 1997 durante o festival.
Folclore amazônico ganha vida em apresentações de dançaUma das características mais marcantes do Sairé também é uma das mais recentes: após o cerimonial católico, a comunidade acompanha a encenação da lenda do boto. Segundo a sabedoria popular, o mamífero aquático, uma espécie de golfinho de água doce, pode assumir a forma de um homem elegante, que seduz as mulheres, levando as vítimas para o fundo do rio.

"Nós fazemos a encenação há 15 anos. Começou como brincadeira, em 1997, para contar a lenda, e o público gostou. Em 98, dividimos em duas agremiações: o boto Tucuxi (cinza) e o Cor de Rosa, para realizarmos duas apresentações. A partir de 99, começamos a fazer disputa entre os dois", explica Marlison Soares, responsável pela organização da competição entre os botos.
Apresentação dos botos faz parte do Sairé desde 1997 (Foto: Tamara Sare / Agência Pará)Apresentação dos botos faz parte do Sairé desde 1997 (Foto: Tamara Saré / Agência Pará)
"A disputa entre esses grupos se aproxima de um circuito tradicional de festas folclóricas, como acontece entre os bois de Parintins, o Carnaval do Rio de Janeiro e o Festival das tribos de Juruti, também no Pará", explica Luciana Carvalho.
A disputa entre os botos acontece na sexta e sábado. Cada agremiação entra com dançarinos e pelo menos 10 carros alegóricos, animados ao som de ritmos regionais, como o Carimbó e músicas indígenas, além da guaranha, que representa a sedução do boto. A performance dos grupos é avaliada pelos jurados, que ao final do concurso dão o título de melhor boto a quem teve mais desenvoltura.
A disputa é acirrada: nos 13 anos em que o concurso acontece, o boto Rosa acumulou seis títulos, assim como o Tucuxi, ganhador do ano passado. O vencedor de 2012 irá desempatar a competição, o que traz uma grande expectativa para o festival deste ano. "É uma rivalidade mesmo, tipo de time de futebol, mas a brincadeira é sadia", garante Soares.

Nenhum comentário:

Postar um comentário