MEDIÇÃO DE TERRA

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MEDIÇÃO DE TERRAS

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Empresa paulista quer exportar 'picolés gourmet'


Diletto tem produção mensal de cerca de 1 milhão de picolés.
Marca brasileira ainda usa mais de 90% de ingredientes importados.

Darlan Alvarenga Do G1, em São Paulo

O sorvete "típico italiano" pode virar em breve também "made in Brazil". Após se espalhar por restaurantes, empórios e pontos de venda diversos em 14 estados do país, a empresa de picolés "gourmet" Diletto quer agora também ganhar outros países.
Criada há menos de 4 anos, a marca já está presente em cerca de 2 mil pontos de venda, emprega 250 funcionários, tem produção mensal de cerca de 1 milhão de picolés, acaba de inaugurar seu 18º quiosque em shopping e planeja a abertura de lojas próprias, no Brasil e no exterior.
“Mesmo com o câmbio atual, levar o nosso produto para o Nordeste sai pelo menos 20% mais caro do que transportá-lo para a Oceania", surpreende-se Leandro Scabin, sócio majoritário e fundador da Diletto. Em razão dos custos de transporte, hoje o sorvete da marca chega a custar até 30% a mais no Nordeste, na comparação de preços com o Sudeste.
Leandro Scabin, sócio majoritário da Diletto, resgatou as receitas do avô italiano para criar a empresa (Foto: Darlan Alvarenga/G1)Leandro Scabin, sócio majoritário da Diletto, resgatou as receitas do avô italiano  (Foto: Darlan Alvarenga/G1)

Ele explica, no entanto, que despachar sorvetes em contêineres para outros continentes não é o maior desafio de uma internacionalização. “A dificuldade não é a exportação. A maior guerra do planeta hoje é branding. É convencer a pessoa a comprar o meu sorvete e não aquele que ele toma desde criança”, diz Scabin.
O empresário conta que já recebeu propostas de interessados em distribuir o seu picolé com textura de sorvete de massa em pontos comerciais dos Estados Unidos, Europa, Oceania e América Latina, mas que tem evitado um modelo de exportação sem uma estratégia específica de varejo. “Não dá para ser um pingo em cada país. A nossa filosofia é não chegar com menos força que o mercado merece, para não ser copiado antes de ser percebido”, afirma.
A empresa diz já ter um pré-contrato assinado com um grupo australiano para lançar a marca em Sydney, mediante a abertura de lojas próprias e estar negociando parcerias em Londres e nos Estados Unidos. “Acreditamos que em 2013 vamos ter alguma novidade”, diz Scabin.
Busca de novos sócios
A fábrica da empresa, localizada em Cotia, na Grande São Paulo, está sendo ampliada e terá até o final do ano uma capacidade produtiva de 2,5 milhões de picolés por mês. A Diletto admite que está analisando a entrada de novos sócios ou a venda de uma fatia da empresa para um fundo de investimentos.
“Temos proposta de tudo o que você pode imaginar. Provavelmente, vamos fazer uma capitalização de um fundo profissional, a curto prazo, justamente para mantermos a velocidade de crescimento"
“Temos proposta de tudo o que você pode imaginar. Provavelmente, vamos fazer uma capitalização de um fundo profissional, a curto prazo, justamente para mantermos a velocidade de crescimento”, diz Scabin, que possui hoje como sócios os empresários Fábio Meneguini e Fábio Pinheiro.
Do faturamento declarado de R$ 1,2 milhão no primeiro ano de atuação no mercado, em 1999, a empresa saltou para R$ 15 milhões no ano passado e projeta fechar 2012 com R$ 30 milhões em vendas. “A nossa estratégia inicial era abrir 40 pontos de venda no primeiro ano, e fechamos 2009 com 500”, recorda-se Scabin. “Há um ano, nossa produção mensal era de 500 mil picolés, agora já estamos perto de 1 milhão”.
Lojas próprias
O empresário revela que entre as apostas da marca no mercado interno está o lançamento de uma gelateria conceito, que poderia servir de piloto para uma rede de lojas próprias, com um cardápio mais amplo, com oferta, inclusive, de sorvete em cones. “Temos um projeto pronto, para acontecer a qualquer momento. Mas não queremos produzir nada que não seja sorvete, para não confundir o consumidor”, diz.
Lançadas em 2011 como projeto de merchandising, as carrocinhas da Diletto já chegaram a 18 shoppings de São Paulo e Rio de Janeiro e, segundo a empresa, já respondem por um terço das vendas de picolé. “Dois carrinhos destes vendem igual a tudo que vendemos numa grande rede de supermercados. Vamos fechar o ano com 22 quiosques e serão mais 24 em 2013”, diz Scabin. Apesar dos inúmeros pedidos, a empresa diz que, por enquanto, não pretende lançar franquias do negócio.
'Haagen-Dazs do Brasil'
Apesar do rápido crescimento, a Diletto diz continuar sendo criteriosa na escolha dos pontos de venda. Com preços sugeridos a partir de R$ 5, e que podem chegar até R$ 8,50 no Nordeste, o foco continua sendo as classes A e B.
“A gente nunca foi agressivo. Recebemos de 8 a 10 pedidos de abertura de ponto por dia, mas só falamos sim para um ou dois”, diz o fundador da empresa, que tem como ambição transformar a Diletto numa espécie de ‘Haagen-Dazs do Brasil’.
"A Diletto tem o projeto de ser global desde o dia em que nasceu. Não usamos nenhuma matéria prima que não tenha em larga escala", diz Scabin.

A marca, aliás, nasceu na Itália. Os gelatos da Diletto são um resgate de receitas ancestrais do avô do empresário, Vittorio Scabin, que produzia sorvetes feitos de neve no extremo norte da Itália, desde 1922, até que se viu obrigado a abandonar o negócio em razão da Segunda Guerra, quando a família migrou para São Paulo.
Marca Diletto foi criada por avô de empresário na Itália (Foto: Divulgação)Marca Diletto foi criada por avô de empresário,
em 1922, na Itália (Foto: Divulgação)
Formado em administração, Scabin foi morar na Itália com o irmão para estudar todas as técnicas necessárias para produzir em larga escala sorvetes com o sabor da sobremesa de seus almoços de família da infância. Foi lá que o empresário fechou contratos exclusivos de fornecimento de ingredientes e, inclusive, da base de açúcares e estabilizantes que garantem a textura da massa.
“A ciência o o segredo está na base. A gente mistura tudo na Itália e transforma num pacote que ninguém sabe o que é", diz o empresário, que diz ter passado dois anos testando a fórmula em laboratórios. “O desafio era atingir o equilíbrio, sem precisar colocar uma casca de chocolate para o sorvete não quebrar ou cair”, explica o sorveteiro, que na volta da Itália passou a trocar receitas com o irmão Alexandre Scabin, que também atua no setor, à frente da premiada sorveteria Stuzzi, que possui três lojas em São Paulo.
O "pulo do gato" da Diletto foi conseguir formatar em escala industrial um produto que até então só era produzido no país de forma artesanal, ou era importado. “O nosso maior concorrente hoje é a Haagen-Dazs, mas o nosso produto é muito menos calórico porque utilizamos a própria gordura dos ingredientes", compara Scabin.

Menos de 5% de ingredientes nacionais
Praticamente todos os ingredientes dos picolés da Diletto são importados e as compras costuma ser consolidadas na Itália, de onde partem em contêineres para o Brasil. “O que é ruim nos produtos da concorrência não é o processo, é a matéria prima”, avalia o fundador da marca.
Segundo Scabin, o percentual de ingredientes nacionais "não chega a 5%". "O morango in natura compramos de um fornecedor local", diz o empresário, acrescentando, porém, que a pasta de morango utilizada na receita é importada.
A lista de ingredientes de grife utilizados pela Diletto inclui pistache verde do Bronte, avelãs do Piemonte, baunilha de Madagascar, coco da Malásia e chocolates com certificado de origem da empresa belga Callebaut. Produtos tipicamente brasileiros como açaí e castanha-do-pará nunca entraram no cardápio.
"Não é purismo. É porque utilizamos matéria prima de alta qualidade e produtos ultrarrefinados que não têm no país", explica o empresário. "Castanha-do-pará é muito boa, mas você não consegue refinar ela aqui", argumenta.
Segundo o fundador da Diletto, o maior desafio é encontrar no país fornecedores capazes de processar a matéria prima no padrão de excelência exigido para a produção de sorvetes gourmet. "Gostaríamos de nacionalizar algumas coisas que não fazem sentido importar, como leite e açúcar, mas é difícil porque as taxas de gordura dos produtos daqui são muito diferentes", diz.
Ou seja, no médio prazo, ainda que "made in Brazil", a Diletto continuará sendo muito mais italiana do que brasileira.
Quiosques de shoppings já respondem por um terço das vendas da Diletto (Foto: Darlan Alvarenga/G1)Quiosques de shoppings já respondem por um terço das vendas da Diletto (Foto: Darlan Alvarenga/G1)

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