MEDIÇÃO DE TERRA

MEDIÇÃO DE TERRA
MEDIÇÃO DE TERRAS

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Fundação reúne acervo da vida e obra de Jorge Amado no Pelourinho


Visita à entidade faz parte da rota turística mais famosa de Salvador.
Programação especial celebra o centenário do escritor baiano esta semana.

Brenda Coelho Do G1 BA

Fundação Casa de Jorge Amado (Foto: Eric Luis Carvalho/Globoesporte.com)Fundação Casa de Jorge Amado funciona no Largo do Pelourinho (Foto: Eric Luis Carvalho/G1)
É na casa de fachada azul, no Largo do Pelourinho, um dos principais pontos turísticos de Salvador, que a obra e a vida do escritor Jorge Amado são conhecidas, lembradas ou estudadas pelos cerca de 60 mil visitantes que vão à Fundação Casa de Jorge Amado anualmente.
“A Fundação reúne o berço da obra de Jorge Amado e absorve a cultura, os sentimentos”, avalia Letícia Cardozo, estudante de gastronomia, que visita a capital baiana pela primeira vez com um grupo de amigos da cidade de Muriaé, em Minas Gerais.
Ponto de visitação, Fundação reúne vida e obra de Jorge Amado na Bahia (Foto: Eric Luis Carvalho/Globoesporte.com)Turistas mineiros garantem visita à Fundação
(Foto: Eric Luis Carvalho/G1)
Para os amigos, a Fundação Casa de Jorge Amado faz parte do roteiro de visitação à capital baiana. “Eu já conhecia Salvador, mas volto sempre aqui, adoro Jorge Amado, gosto da sensibilidade e carinho das palavras”, diz a assistente social Elane Nascimento.
Embora esta seja sua primeira vez em Salvador, Ricardo Melo diz que já se sente ambientado com a Bahia por causa do contato anterior com as obras de Jorge. “A caracterização dos personagens é o que mais chama atenção”, observa o assistente social.
A entidade está aberta à visitação de segunda a sexta-feira, das 10h às 18h, e aos sábados, das 10 às 16h. Desde 2011, são cobrados R$ 3 por visitante, valor usado para manter a organização não governamental, sem fins lucrativos. A Fundação conta ainda com o apoio do governo e patrocínios, além da verba arrecadada com uma loja no local. Às quartas-feiras, o acesso dos visitantes é gratuito.
Acervo Fundação Casa de Jorge Amado (Foto: Eric Luis Carvalho/G1)Acervo Fundação Casa de Jorge Amado
(Foto: Eric Luis Carvalho/G1)
Acervo
Criada pelo próprio escritor em 1986, a Fundação reúne 250 mil itens, que incluem desde "datiloscritos" (obras na versão original, datilografadas) e premiações até documentos pessoais de Jorge Amado, como sua carteira de identidade e exames médicos. O acervo é composto ainda por livros, artigos e discursos de Jorge Amado, além de vídeos, fotografias, periódicos e trabalhos acadêmicos que referenciam o escritor.
Os itens do acervo são apresentados ao público por partes, em uma exposição atualizada frequentemente. Alguns documentos têm acesso mais restrito, sendo necessários consulta e agendamento prévios para leitura do material. “Recebemos muitos estudantes e pesquisadores em busca de conteúdo, então precisamos organizar o acesso ao acervo, inclusive por causa dos cuidados exigidos no manuseio do material para sua devida conservação”, explica Bruno Fraga, arquivista da Fundação.
Fundação Casa de Jorge Amado (Foto: Eric Luis Carvalho/G1)Arquivista mostra datiloscrito conservado com
proteção especial; luva é usada para manuseio
(Foto: Eric Luis Carvalho/G1)
Armários especiais, temperatura controlada do ambiente e uso de luvas estão entre os cuidados adotados para a conservação do acervo. "As janelas do acervo estão sempre fechadas impedindo a entrada da luz natural e a luz artificial é proveniente de lâmpadas fluorescentes. Mantemos a temperatura entre 19º a 23º. Os documentos são arquivados em estantes de aço e algumas obras protegidas com invólucros de papéis filiset e filifold, utilizados na conservação de documentos. A higienização do ambiente é feita diariamente e dos móveis, duas vezes na semana. Os livros também são higienizados periodicamente. O acesso ao acervo é restrito e não realizamos empréstimos de documentos", pontua Bruno.
Além do envolvimento profissional, o arquivista revela a admiração que tem pelas obras com as quais trabalha. "Como já disse Shakespeare, um dos autores que Jorge admirava, 'para o
trabalho que gostamos levantamo-nos cedo e fazemo-lo com alegria'. Além de ter o
privilégio de conhecer intimamente a vida e obra do maior escritor brasileiro de todos os
tempos. E o convívio neste universo é fascinante!", diz Bruno.
Fundação Casa de Jorge Amado (Foto: Eric Luis Carvalho/G1)Fundação foi criada em 1986, mas inauguração ocorreu no ano seguinte, com grande festa
(Foto: Eric Luis Carvalho/G1)
HistóriaO desejo de que a Fundação Casa de Jorge Amado não se tornasse apenas um acervo de documentos, e sim, um local de estudo, encontro e intercâmbio cultural foi demonstrado pelo escritor desde a criação da entidade e permanece vivo até hoje nas ações da instituição, que também promove cursos, seminários, oficinas, ciclos de conferências, palestras, lançamentos de livros e discos e exposições.
Jorge Amado mostrou a preocupação em trecho do livro Navegação de Cabotagem. “Eu disse esperar que a Casa não se transformasse em um museu, fosse realmente centro de cultura para o estudo da literatura baiana e do romance brasileiro, trabalhasse em conjunto com os outros organismos culturais. Acrescentei que sendo na Casa apenas personagem, não me envolveria em sua administração nem no planejamento das tarefas. Por fim, referindo-me à doação por James Amado de escultura de Tati Moreno, coloquei a Fundação sob a proteção, os cuidados de Exu, entregue ao seu desvelo”.

A valorização da cultura baiana foi outro aspecto considerado na formatação da fundação, a começar pela escolha do local para sua implantação. "Quando digo que Zélia é a responsável pela existência da fundação cultural estabelecida no Pelourinho, nascida da doação de meu acervo literário que leva meu nome, digo a verdade. Não fosse Zélia o acervo estaria a essa hora em universidade norte-americana. Pesava eu propostas recebidas de universidades americanas, da Pensilvânia e de Boston, desejavam receber o acervo em doação, propunham-me zelar por ele, colocá-lo à disposição dos interessados em pesquisá-lo, criando para tanto verbas e espaços. Estava quase a decidir-me, Zélia se opôs com determinação à minha ideia de oferecer a organização estrangeira documentos, correspondência, livros, fotos, diplomas, a massa dos guardados: esse acervo só sairá do Brasil, da Bahia, se passarem por cima de meu cadáver, tem de ficar aqui, é o seu lugar", revelou Jorge Amado em outro trecho do livro Navegação de Cabotagem.
Fundação Casa de Jorge Amado (Foto: Eric Luis Carvalho/G1)Identidade de Jorge Amado está no acervo
(Foto: Eric Luis Carvalho/G1)
Aos pertences guardados pela família Amado foram somadas doações de amigos, admiradores e colecionadores para a composição do acervo. Instituições como a Universidade Federal da Bahia apoiaram a iniciativa e deram suporte na implantação da Fundação, com a catalogação de documentos, por exemplo.
A Fundação Casa de Jorge Amado foi inaugurada no dia 7 de março de 1987 com uma grande festa, que contou com uma bênção católica e uma limpeza com incenso e folhas do candomblé.  Artistas como Zezé Motta, Grande Otelo, Riachão, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Dorival Caymmi, Geraldo Azevedo e Moraes Moreira participaram da celebração.
Programação festiva
De 9 a 17 de agosto, a Fundação Casa de Jorge Amado oferece programação especial pelo aniversário do escritor baiano, que completaria 100 anos na sexta-feira (10).
A exposição “Jorge, Amado e Universal” abre a programação com uma mostra inédita de fotografias, objetos e filmes associados ao escritor a partir desta quinta-feira para convidados, sendo aberta ao público na sexta.
No dia do nascimento de Jorge Amado, 10 de agosto (sexta-feira), um show com músicas baseadas nas obras do escritor será apresentado na escadaria da Fundação. Após a apresentação musical, o livro "Jorge Amado e a sétima arte", de Bohumila S. de Araújo, Maria do Rosário Caetano e Myriam Fraga, será lançado. Mais informações sobre a programação festiva pode ser acessada no site da Fundação.

Nenhum comentário:

Postar um comentário