MEDIÇÃO DE TERRA

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MEDIÇÃO DE TERRAS

sexta-feira, 13 de julho de 2012

Raul continua a inspirar roqueiros mais de duas décadas após sua morte


Músicos falam sobre relação e trajetória do ídolo baiano.
Na capital, lei municipal transformou aniversário do músico em Dia do Rock.

Gabriel Gonçalves Do G1 BA

Filme estreia no dia 23 (Foto: Divulgação)Conhecido como 'Maluco Beleza', estilo de Raul
inspira juventude (Foto: Divulgação)
“Foi ele quem começou tudo”; “Para mim ele é o pai do Rock”; “Ele exerceu a maior influência que tive na vida”. As frases ditas, respectivamente, por Carleba Castro (64 anos, baterista da banda Os Panteras), Jajá Cardoso (26 anos, vocalista e guitarrista da banda Vivendo do Ócio) e Marcelo Nova (60 anos, cantor e compositor), retratam a admiração dos músicos por uma mesma pessoa: Raul Seixas.
(Até esta sexta-feira (13), Dia Mundial do Rock, o G1 faz uma série de reportagens sobre o rock baiano e suas influências no cenário nacional )
Raul Santos Seixas nasceu em Salvador, em 28 de junho de 1945, e sempre se mostrou um menino cuja criatividade, curiosidade e avidez por leitura se sobressaíssem em relação a outras crianças da mesma idade. Quando o rock n’ roll aportou em terras baianas, entre o fim dos anos 50 e começo dos anos 60, Raul foi um dos adolescentes que se apaixonou pelo estilo, especialmente por Elvis Presley.
Ainda na primeira metade dos anos 1960, ele conheceu Carleba Castro, um dos membros de sua futura banda, Os Panteras. “Nos conhecemos por volta de 1964, 1965, no Colégio Ipiranga. Na época, quando o aluno não dava para nada, os pais o colocavam no Colégio Ipiranga. Eu tinha perdido o ano no Antônio Vieira, fui para o Ipiranga, e lá conheci Raul”, lembra Carleba. O baterista recorda que na época existia muito preconceito com o ritmo vindo dos Estados Unidos, mas que eles faziam questão de se vestir como rockers. “A gente já usava blusão de couro – em um calor de 40 graus de Salvador -, bota de couro, aquelas coisas. A gente se inspirava no que via no cinema, em James Dean, etc”, revela Castro.
Músico Carleba (Foto: Carleba/ Arquivo Pessoal)Músico Carleba, baterista da banda Os Panteras
(Foto: Carleba/ Arquivo Pessoal)
Segundo o músico, por volta de 1966, Raul o convidou para ser o baterista de sua banda. “Eu ficava batendo nas cadeiras da sala de aula, e Raul me perguntou se eu tocava bateria. Eu disse que sim, e então ele me convidou para assistir a um ensaio da banda – acho que na época se chamava The Panthers. Eu toquei um pouco, ele gostou do que viu e me convidou para entrar no grupo”, conta. “A banda começou de brincadeira, tocando em aniversários, clubes, etc, e depois que os Beatles apareceram, o movimento tomou um impulso grande”, fala. Para Marcelo Nova, na época um garoto com cerca de 13 anos, ver os Panteras era quase uma religião.
“Eu ia a todos os shows. Para mim, aquilo era estar vendo os meus Beatles, já que meu contato com os Beatles era somente através das capas dos discos. A primeira banda que vi foi Os Panteras, e era algo inimaginável. Eu voltava para casa, com 13 anos, com meu coração disparando de alegria, era uma sensação de algo como decisão de campeonato. Eles tocando, eu tinha que estar presente”, decreta. Nova vai ainda mais fundo e credita a Raulzito e Os Panteras o fato de ter se tornado músico. “Através deles, que eram baianos como eu, que percebi que eu poderia encontrar o meu caminho. Eles me apontaram uma direção, e não existe uma influência maior na vida de um homem do que quando alguém de uma geração mais velha, que você admira, lhe mostra que você pode encontrar o seu caminho. Devo isso a eles para sempre”, afirma.

Segundo Carleba, depois de se firmar como a principal banda de rock de Salvador, Raulzito e Os Panteras – que também contava com Carlos Eládio nas guitarras e Mariano Lanat no baixo - resolveram buscar a fama. “Depois de um tempo, a Bahia ficou pequena para nós, e naquela época você tinha que sair da Bahia para fazer sucesso. Então fomos todos para o Rio de Janeiro de Kombi, com todos os nossos equipamentos”. O grupo chegou a lançar um álbum, em 1968, intitulado ‘Raulzito e Os Panteras’, mas o LP foi um fracasso comercial. “A gente tinha a ilusão que iria gravar o disco, ficar famoso, pegar todas as mulheres, e o disco foi um fracasso. Não houve divulgação da gravadora”, revela.
Disco Panela do Diabo, Raul Seixas, Bahia (Foto: Divulgação)Músico morreu antes do lançamento do disco 'Panela
do Diabo' (Foto: Divulgação)
Nova parceria
Após a decepção, Raul voltou para Salvador e passou um tempo trabalhando como professor de inglês, até ser contratado como produtor musical da gravadora CBS, no Rio de Janeiro. Foi a partir daí que a carreira de Raulzito começou a engrenar. Em 1973 saiu o primeiro álbum como artista solo, ‘Krig-ha, Bandolo’, no qual continha os hits ‘Metamorfose Ambulante’, ‘Ouro de Tolo’, ‘Al Capone’ e ‘Mosca na Sopa’. No restante dos anos 70, a popularidade de Raul só fez aumentar, mas nos anos 80 uma série de fatores começou a prejudicá-lo, dentre eles o uso excessivo de drogas e de bebidas alcoólicas, além da natureza questionadora e confrontadora do artista, que afastava empresários e gravadoras.
Entre a metade e o final da década de 80, Raul havia se tornado amigo de um antigo fã dos tempos de Salvador: Marcelo Nova, então líder da banda Camisa de Vênus. No ano de 1987, surge a canção ‘Muita Estrela, Pouca Constelação’, a primeira música que os dois compuseram em parceria, e que entrou no último álbum com a formação original do Camisa de Vênus, ‘Duplo Sentido’. A música, uma sátira ácida e ferina à cena musical brasileira dos anos 80, deu início a uma parceria que viria a conquistar o Brasil.

Um ano depois, já em carreira solo, Marcelo convidou Raul para participar de um show que faria na Concha Acústica do Teatro Castro Alves, em Salvador. O que seria uma participação virou uma turnê de 50 shows por todo o Brasil, e terminou no lançamento de um dos discos mais importantes do rock nacional, ‘A Panela do Diabo’. Marcelo lembra que o trabalho de composição para aquele disco foi bem caótico. “Raul amanhecia sóbrio, ao meio dia estava bêbado, às cinco da manhã queria escrever e depois queria beber de novo, (risos). Era um trabalho sem nenhuma metodologia, mas que passou fácil no teste do tempo”, afirma. Entretanto, quis o destino que Raul não conseguisse ver sua última conquista: o músico morreu em 21 de agosto de 1989, um dia antes do lançamento de ‘A Panela do Diabo’, que vendeu 150 mil cópias e rendeu a Raul um disco de ouro póstumo.

Após mais de 20 anos da morte de Raul Seixas, sua popularidade permanece em alta. “O sucesso triplicou depois que ele morreu”, afirma Carleba. “Depois que me mudei para São Paulo é que eu vi como até hoje ele é idolatrado. A Bahia é um ‘país’ diferente – não é nem estado. Tem uma comida própria, música, tudo dela. Ninguém fala de Raul na Bahia, mas em São Paulo ele é Deus”, completa o baterista. Na música, Raulzito continua inspirando os jovens a pegarem as guitarras e procurarem pelos seus caminhos. “Ele dizia a verdade de uma forma simples e direta. Todo mundo, da criancinha ao mais velho, do culto à pessoa mais simples do mundo, todos entendiam Raul. Aquilo era coisa de outro mundo”, conclui Jajá, guitarrista e vocalista da banda Vivendo do Ócio.

Em Salvador, uma lei municipal instituiu o dia 28 de junho, data de nascimento de Raul, como o Dia Municipal do Rock. Com a lei, Salvador se tornou a primeira capital brasileira a ter um dia dedicado ao gênero.

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