MEDIÇÃO DE TERRA

MEDIÇÃO DE TERRA
MEDIÇÃO DE TERRAS

sexta-feira, 13 de julho de 2012

NOTÓRIO CARTÓRIO

Dora Kramer - O Estado de S.Paulo
Muito admira a decisão da senadora Kátia Abreu de abrir dissidência assim como causa espanto o gesto do ex-deputado Roberto Brant de deixar o PSD em reação ao modo como o prefeito Gilberto Kassab conduz o partido.
Ambos consideraram "truculenta" a intervenção na seção mineira para propiciar o rompimento do compromisso firmado com a campanha à reeleição do prefeito de Belo Horizonte, Márcio Lacerda, e adesão à candidatura do petista Patrus Ananias.
Compararam o ato a ações de velhos coronéis, denunciaram desrespeito a políticos locais, reclamaram da ausência de diálogo, falaram em abuso de poder e, em carta enviada ao prefeito de São Paulo, qualificada pela autora como "desaforada", a senadora apontou "dano grave ao espírito do nosso partido".
Melífluo, Kassab preferiu o elogio ao confronto, reiterando voto de "respeito e admiração" à correligionária. Mas, se quisesse acirrar poderia perguntar a qual espírito partidário mesmo se referiu a senadora.
Tanto ela quanto Brant ou quem mais esteja insatisfeito com a condução que Kassab dá ao PSD sabiam muito bem onde estavam pisando quando se associaram a um projeto desprovido de sentido doutrinário arquitetado com o explícito propósito de se inserir com rapidez no quadro partidário sob a égide do pragmatismo em sua feição mais extremada.
Aqui a cigana não enganou ninguém. Kassab nunca escondeu que criava uma legenda para dar continuidade à sua carreira política pós-prefeitura, já que via seu então partido, o DEM, como uma confederação de náufragos condenados ao abraço dos afogados.
A natureza do negócio sempre esteve muito clara: uma agremiação para servir de pau para toda obra, a depender dos interesses da ocasião. Um notório cartório no comando do qual Gilberto Kassab carimba alianças sob o único critério da obtenção da vantagem imediata.
Aderiu quem quis e não viu nada demais em migrar do dia para a noite da mais ferrenha oposição à profunda afeição ao governo federal.
Assinou embaixo quem não viu nada de esquisito no fato de o PSD ter se transformado em sublegenda de todos os governados de Estado, à exceção de São Paulo e Rio Grande do Sul onde, no entanto, se abrigou em alianças para a eleição municipal de lógicas completamente díspares tanto em relação à afinidade com o PT no plano federal - ao ficar com o PSDB na capital paulista - quanto no tocante à origem da maioria centro-direitista dos sócios fundadores - ao se unir ao PC do B gaúcho.
Não por outro motivo a não ser a ausência de balizas, o novo partido conseguiu rapidamente formar uma bancada tão robusta na Câmara que levou a Justiça a ignorar a legislação vigente e adotar uma "interpretação realista" para a concessão ao PSD de tempo de propaganda gratuita e acesso ao dinheiro do fundo partidário.
Embarcaram todos na norma pragmática de Kassab, celebrado como o mais novo gênio da raça da política nacional.
Uma vez atropelados os princípios e a prática sendo aceita como expressão de competência, reclamar agora do quê?

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