MEDIÇÃO DE TERRA

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MEDIÇÃO DE TERRAS

quinta-feira, 19 de julho de 2012

Mãe mostra quarto de Perrone um ano após crime: 'minha vida mudou'


Músico Paulo Perrone foi baleado durante saidinha bancária na capital.
Aos 34, ele se recupera da lesão neurológica e reage a alguns estímulos.

Lílian Marques Do G1 BA

Mãe de Perrone exibe camisa de encontro de bateristas na Bahia (Foto: Lílian Marques/ G1)Mãe de Perrone exibe camisa de encontro de bateristas na Bahia (Foto: Lílian Marques/ G1)
A vida de dona Lúcia Roriz mudou totalmente há um ano. No dia 19 de julho de 2011, o filho dela, o baterista da banda Estakazero Paulo César Perrone Júnior, 34 anos, sofreu uma “saidinha bancária” e foi baleado na cabeça, no Caminho das Árvores, em Salvador.

Antes do assalto, Paulo César Perrone morava com a mãe em um sítio no CIA/Aeroporto, na  capital. Um ano depois, completado nesta quinta-feira (19), o baterista vive em um home care [quarto de hospital adaptado] instalado no apartamento da irmã mais velha, no bairro da Pituba. Depois da tragédia, ele e a mãe passaram a morar com a irmã, o marido dela e a filha do casal, que tem quatro anos.

“Até hoje eu não acredito que isso aconteceu com o meu filho. Há um ano minha vida mudou totalmente, me dedico exclusivamente a ele. Não sei o que é dormir, só cochilo”, afirma dona Lúcia Roriz, que tinha uma loja de produtos de fazenda e trabalhava também com decoração de ambientes. Todos os dias, ela dorme em um colchão ao lado da cama do filho. “Gosto de ficar perto dele, qualquer movimento que ele faz eu acordo”, afirma.

Perrone é o segundo de três filhos de dona Lúcia. Ela também tem Lidiane, 35 anos, e Lenine, 31. Para ela, a união da família tem sido fundamental para a recuperação do músico. Ele passou 35 dias em coma induzido na UTI do Hospital Geral do Estado (HGE) e dez dias em uma unidade semi-intensiva. Depois, foi transferido para o Hospital das Clínicas, onde passou oito meses internado. “Perdi as contas de quantos médicos me disseram que o meu filho não ia resistir. Ele não tinha nenhuma expectativa de vida quando chegou ao HGE. Acredito que tudo foi Deus”, diz dona Lúcia.
Em um ano, Paulo César Perrone perdeu 30 kg e vem se recuperando aos poucos. Ele ainda se alimenta por sonda, mas nas últimas semanas deu mais um passo. “Ele tomou suco pela boca. Ficou feliz que só ele. Demos suco de melancia, é uma das frutas que ele mais gosta”, afirmou a mãe.

O músico teve uma grave lesão neurológica. De acordo com o neurocirurgião Márcio Brandão, chefe do serviço de neurocirurgia do Hospital Geral do Estado (HGE), a lesão que acometeu Perrone transfixou a linha média da cabeça, chamada de fronto-temporal bilateral. “A lesão pegou as duas áreas da cabeça. Ele ficou em coma induzido por 35 dias. A chance de vida quando ele chegou ao hospital era baixa, ele tem hoje uma sequela neurológica importante. Ainda não consegue interagir, reage a alguns estímulos com os olhos. Ele melhorou, mas ainda está longe do que a gente deseja. O trabalho de reabilitação é lento, mas a chance existe. Ele é jovem, tem ido devagar, mas está evoluindo”, afirmou o médico, que operou o músico enquanto ele esteve internado no HGE e o acompanha atualmente com visitas mensais.

Perrone já movimenta os braços, as pernas, a cabeça e os olhos. O músico responde a alguns estímulos com o piscar dos olhos. “Ninho, abre as mãos para mamãe... Pisca os olhos para eu saber que você está me entendendo”. Prontamente ele pisca os olhos, que estão fixos em dona Lúcia Roriz. No quarto, muitas cores, uma TV com DVD que não para de tocar o álbum de Zeca Baleiro, um dos artistas preferidos dele, além de fotos e remédios usados diariamente pelo baterista. “Ele gosta muito de Zeca Baleiro. Se eu pudesse levaria ele para o show que vai ter dele e Lenine, mas ainda não dá”, diz.
Home care de Perrone Bahia (Foto: Lílian Marques/ G1)Perrone ouve DVD no home care instalado na casa
da irmã (Foto: Lílian Marques/ G1)
A família tem um custo mensal de R$ 10 mil com o tratamento do músico. “Compramos alguns medicamentos, a maior parte é cedida pelo SUS, mas pagamos uma fonoaudióloga, dois fisioterapeutas, um neurocirurgião, uma cuidadora e um advogado, além do custo com alimentação”.
A Estakazero, banda que o músico integrava, paga outra fonoaudióloga que também cuida dele. “O pessoal da banda vem muito aqui, faz um som para ele. Estão sempre com a gente”, diz a mãe. Paulo também é acompanhado por uma médica clínica geral.
Quarto de Perrone na Bahia (Foto: Lílian Marques/ G1)Desenhos e cores foram colocados nas paredes
pelos médicos para ajudar na recuperação do
músico (Foto: Lílian Marques/ G1)
Até a primeira quinzena de agosto, ele deve se mudar com a família para uma casa em Lauro de Freitas, na região metropolitana de Salvador. “Lá vai ser melhor, acho que vai ajudar ainda mais na recuperação dele por ser casa, vou poder levar ele para passear. Aqui é um pouco apertado, não dá para descer de maca no elevador, a cadeira não entra no quarto. Na casa nova vamos fazer tudo adaptado para ele”, diz dona Lúcia.


A mãe do baterista diz que nunca perdeu a fé de que o filho sobreviveria. “Hoje, o meu maior sonho é que ele volte a falar, a andar e a tocar. A música sempre foi a vida dele”, diz. Dona Lúcia Roriz afirma que se surpreendeu com o carinho de tantos amigos quando o filho foi baleado. “Ele sempre foi muito querido, mas o carinho dos amigos é tão grande que me surpreendeu. Amigos de infância, da banda, gente que mora fora, todo mundo vem aqui ver ele, faz campanha para ajudar no tratamento. Ele é muito amado”, diz.
Quadro com foto da família no quarto de Perrone Bahia (Foto: Lílian Marques/ G1)Quadro com foto da família fica ao lado da cama de
Perrone (Foto: Lílian Marques/ G1)
Em outubro de 2011, a banda Estakazero fez um show beneficente para arrecadar dinheiro para o tratamento do músico. No final do ano, amigos organizaram um encontro de bateristas na praia do Jardim dos Namorados, na capital baiana, que também angariou fundos para o tratamento de Paulo Perrone. “Eu fui lá [no encontro de bateristas], foi muito bonito. Eles mandaram a camisa de Júnior [Perrone]. Tudo que fazem para ele nos mandam”, diz dona Lúcia, exibindo a camisa do filho, que está na parede do quarto dele. Atualmente, família e amigos do baterista circulam com rifa de um baixo e uma cesta de cosméticos para arrecadar mais dinheiro para o tratamento dele. O baixo, conta dona Lúcia, foi doado por um amigo de Perrone, que também é músico. A rifa custa R$ 15.

Amigos da banda, como o produtor Jucimário Trindade, visitam o amigo Paulo Cesar Perrone com frequência. Jucimário diz que sempre teve muita afinidade com Paulo. “Ele tem uma energia muito positiva como profissional e como amigo também. Dividi o quarto com ele quando fomos para a França com a banda. Tudo que aconteceu com ele foi como uma pedra para a gente [pessoas da banda], porque criamos um vínculo. O lugar [a função] pode até ser substituído, mas a afinidade não, cada um cria o seu perfil. Ele [Paulo] não deixa de fazer falta como músico também”, diz.

Para Jucimário, é importante que os amigos estejam sempre perto para que Perrone reative a memória ou não esqueça das pessoas que fazem parte da sua vida. “Ele reage pouco ainda, às vezes com os olhos, às vezes com as mãos. Acho que é uma questão de tempo para reativar [a memória]”, afirma.
Mãe mostra quarto de Perrone um ano após crime: 'minha vida mudou' (Foto: Lidiane Sousa/ Arquivo Pessoal)Contato com a música começou aos 8 anos
(Foto: Lidiane Sousa/ Arquivo Pessoal)
Música
Dona Lúcia Roriz conta que o primeiro contato de Paulo César Perrone Júnior com a música foi aos 8 anos. “Ele sempre andava com uns pauzinhos na mão e um dia construiu uma bateria com latas de leite junto com o caseiro da casa onde morávamos. Era muito bonitinha, pena que não tenho foto. Ele tocava e o caseiro cantava. Quando ele fez 11 anos ganhou uma bateria do pai, daí em diante foi só zoada”, brinca.

De acordo com a mãe, Perrone chegou a cursar até o sexto semestre de Ciências Contábeis, na Universidade Católica de Salvador, e deixou a faculdade para se dedicar à música. Quando foi baleado, o baterista estava há um ano no grupo Estakazero. “Ele sempre teve o maior amor com a bateria dele, todo dia comprava alguma coisa para o instrumento. Nunca podia colocar ao chão. Já perdi lençol, edredom para forrar a bateria. A bateria dele está guardada, intocável, ainda não tive coragem de mexer, mas vou ver com os amigos dele para limpá-la”, disse dona Lúcia Roriz.

Viagem interrompida
No dia 19 de julho de 2012, Paulo César Perrone Júnior esteve em uma agência do Bradesco, em um centro empresarial na região do Iguatemi, em Salvador. Ele passou 45 minutos dentro do banco. “Ele foi conversar com a gerente dele porque ele ia viajar para a Espanha com a namorada. Ele havia tentado sacar o valor das passagens e não conseguiu no caixa eletrônico, por isso ele teve que sacar R$ 3 mil na boca do caixa”, afirma dona Lúcia.

As investigações da polícia e as imagens internas do banco mostram que Perrone era observado por um dos suspeitos do crime de dentro da agência. De acordo com a polícia, ele foi seguido por outros dois integrantes de uma quadrilha de "saidinha bancária" e abordado ainda perto do banco. Dois tiros foram disparados contra o carro do músico quando o veículo ainda estava em movimento. Um tiro atingiu o vidro de trás do automóvel e o outro a cabeça do baterista. Paulo César Perrone Júnior foi socorrido pela Polícia Militar e levado para o Hospital Geral do Estado (HGE).
Paulo Perrone saca dinheiro em banco (Foto: Divulgação/ Polícia )Imagens da câmera de segurança do banco
mostram momento em que Perrone saca o
dinheiro roubado (Foto: Divulgação/ Polícia )
Após a divulgação das imagens do banco, três suspeitos do crime foram presos. De acordo com o delegado Cleandro Pimenta, do Departamento de Crimes contra o Patrimônio (DCCP), que coordenou as investigações junto com o Departamento de Homicídios e Proteção a Pessoas (DHPP), io inquérito já foi concluído pela Polícia Civil.
Três pessoas foram presas sob a suspeita de participar da ação contra o baterista Paulo César Perrone Júnior. Um dos suspeitos é apontado pela polícia como líder de uma quadrilha de "saidinhas bancárias" que atuava em Salvador e responsável por mais de 100 crimes do tipo na região.
O caso foi encaminhado à Justiça e está na 8ª Vara Crime, em Salvador. De acordo com a advogada Daniele Abdala, que representa o baterista no processo, a família agora aguarda o pronunciamento da sentença do juiz.

A família de Paulo César Perrone também espera uma decisão da Justiça sobre o pedido para que o Bradesco pague todo o tratamento feito pelo músico. Há ainda uma solicitação para que ele tenha direito ao plano de saúde do avó. O caso tramita na 11ª Vara de Justiça, segundo o advogado da família Rodrigo Chiprausk.

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