MEDIÇÃO DE TERRA

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MEDIÇÃO DE TERRAS

quinta-feira, 5 de julho de 2012

Estudiosos reprovam liberação do uso de mercúrio em garimpos, no AM


População teme contaminação dos rios e peixes no Amazonas.
Diretor do Musa afirma que danos da substância tóxica aumentarão.

Adneison Severiano Do G1 AM

Garimpo artesanal (Foto: Vianey Bentes/TV Globo)Utilização de mercúrio nos garimpos representa risco de contaminação do meio ambiente (Foto: Vianey Bentes/TV Globo)
O Governo do Amazonas , por meio da resolução 011-2012 da Secretaria de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (SDS), autorizou, sob condições restritivas, o uso do mercúrio nos garimpos de ouro no estado. Entretanto, estudioso do assunto alerta que a liberação do uso da substância na atividade extrativista culminará na ampliação da contaminação de rios e peixes, além dos riscos à saúde da população amazonense.
Diante da decisão do governo estadual, o diretor do Museu da Amazônia (Musa), Ennio Candotti, divulgou carta aberta na segunda-feira (2), direcionada ao governador Omar Aziz, a ministra do Meio Ambiente Isabella Teixeira e ao ministro da Ciência, Tecnologia e Informação, Marco Antonio Raupp, destacando os riscos do emprego do metal tóxico nos garimpos.
Segundo Ennio Candotti, atualmente, os garimpos em atividade no Amazonas já utilizam o mercúrio na extração do ouro. Ele explicou que a medida do governo visa regularizar os garimpos irregulares, no entanto, a liberação do uso da substância representa sérios riscos à fauna, flora e a população amazonense.
“Há uma grande quantidade de garimpos irregulares fazendo uso do mercúrio e poluindo o meio ambiente. E essa resolução pretende legalizá-los, ter registro e controle desses garimpos. Porém, eu juntamente com grupo de pessoas consultadas se manifesta contra a liberação mesmo sob condições restritivas, uma vez que o mercúrio é muito tóxico e acumulativo nos danos a nossa saúde e, portanto, deveria ser proibido. A medida tomada, apesar da intenção, pode agravar a situação do uso de mercúrio que deveria ser banido como tem sido em outros países”, revelou o diretor da Musa.
O diretor do Museu da Amazônia ressaltou que há indícios da contaminação pela substância tóxica nos rios Madeiras e Tapajós. “O mercúrio é o pior dos inimigos da saúde porque ele não é visível e os danos são imediatos. Causa má formação de fetos e isso já foi comprovado. Os japoneses sofrem ainda hoje as consequências de um grande desastre com mercúrio ocorrido em 1956 em Minamata. Lá se tem informações muito precisas em relação aos efeitos nocivos do mercúrio na saúde humana. Temos também o acompanhamento feito nos rios Madeira e Tapajós, que revelam presença de mercúrio nas águas, nos peixes e os danos causados a população ribeirinha”, relatou Ennio Candotti.
Na avaliação do estudioso, a liberação do uso de mercúrio nos garimpos do estado indica que os dados importantes não foram repassados ao colegiado que aprovou a medida. “Na Amazônia como um todo tem cerca de 100 mil pessoas envolvidas com a mineração em garimpos. Entretanto, não há um mapa que revele o número exato de garimpos no AM, que na maioria das vezes são clandestinos. O sistema de registro e acompanhamento é muito precário, isso revela que um dos pontos centrais da resolução que seria a maior fiscalização não seria eficiente, já que será organizada em poucos meses. É preciso uma estrutura de monitoramento das águas, o acúmulo do mercúrio nos peixes e alimentos para que possa estabelecer o direcionamento do controle e técnicas”, reforçou o diretor do Musa.
Técnicas alternativas
O estudioso explicou que existem soluções de substâncias que podem ser substituídas na extração do ouro nos garimpos no Amazonas. Candotti revelou ainda que existem tecnologias que fazem uso do cianeto, experimentadas com sucesso nos últimos anos em garimpos do alto Tapajós.
“O uso do cianeto é uma técnica que vem sendo utilizada de maneira crescente nos garimpos, mas é preciso que os garimpeiros se unam em cooperativas ou em grupos, pois não é uma técnica que pode ser utilizada individualmente, como o mercúrio tem sido. É uma situação contornável e que se organize o melhor o garimpo. O uso do cianeto por mais delicado que seja, ele pode ser absorvido, é degradável e não causa os mesmos impactos ambientais que o mercúrio. Essas tecnologias se encontram disponíveis, podem ser aperfeiçoadas e já estão adaptadas às condições amazônicas”, frisou Ennio Candotti.
O G1 procurou, na manhã de quarta-feira (4), a secretária da SDS, Nádia Ferreira, para indagar como o governo do estado pretende fiscalizar o uso da substância para evitar a contaminação do meio ambiente e da população amazonense. No entanto, até a publicação desta reportagem, na tarde desta quinta (5), assessoria da titular não encaminhou posicionamento. A assessoria informou apenas que a secretária participa de um evento e que por esse motivo não pôde se pronunciar.

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