MEDIÇÃO DE TERRA

MEDIÇÃO DE TERRA
MEDIÇÃO DE TERRAS

quinta-feira, 7 de junho de 2012

Brasileiros relatam maus-tratos em navios de cruzeiros


Ex-tripulante afirma que se escondeu para comer restos de comida.
Assistência médica e alimentação também são precárias segundo eles.

Jonatas Oliveira Do G1 Santos

Tripulante Sabrina em cruzeiro (Foto: Arquivo Pessoal)Sabrina teve que comer restos de comida
(Foto: Arquivo Pessoal)
Após o caso de Laís Santiago, brasileira que desapareceu na última sexta-feira (1º), enquanto trabalhava no navio Costa Magica, na Itália, muitos tripulantes e ex-funcionários resolveram reclamar das más condições de trabalho nas embarcações. Os cruzeiros trazem uma imagem de diversão e descanso. Mas isso não é para todo mundo.

A Costa Crociere afirma que trabalha com políticas de ética e responsabilidade social que visam proteger os direitos dos trabalhadores contra a exploração infantil e garantir a segurança e o bem-estar de todos a bordo. Entretanto, os relatos dos tripulantes são de assédio moral, abusos e até de tentativas de suicídio por causa da pressão sofrida a bordo. Eles contam que não é possível ficar doente, e uma ligação pode chegar a R$ 30.
“Podemos frequentar o hospital a bordo apenas entre 8h e 10h. Fora desse horário só se quebrar uma parte do corpo ou se machucar e precisar levar ponto. Se você chega com dor nas costas por causa do peso que carregamos ou nos pés, pelas muitas horas em pé com sapatos extremamente desconfortáveis, ou dores nos músculos, por exemplo, eles te aplicam uma injeção de diclofenaco (antiinflamatório) com algum outro medicamento e te mandam voltar ao trabalho”, afirma o ex-tripulante do Costa Magica, Lucas Gondim. Ele desembarcou no fim de janeiro após pedir demissão.
Tripulante Felipe em cruzeiro (Foto: Arquivo Pessoal)Tripulante durante período que esteve embarcado
(Foto: Arquivo Pessoal)
Felipe Vinicius Teixeira Mendes trabalhou por um mês no Grand Celebration da Ibero Cruzeiros e conta que foi obrigado a voltar ao trabalho mesmo estando machucado. “Eu estava doente, com muita febre e meus pés estavam cheios de bolhas a ponto de não conseguir calçar sapato. Fui ao médico do navio e a médica estourou as bolhas, passou uma faixa e mandou-me voltar a trabalhar! Quando fui reclamar, ela me disse: ‘Não está satisfeito? Pula no mar!’ ”, conta.

Além da falta de assistência médica, há relatos também sobre a alimentação. “A comida é horrível. Gastamos muito comendo fora se não quisermos morrer de fome", afirma uma tripulante que prefere não se identificar.
Nunca me imaginei comendo resto do prato de alguém "
Sabrina Pereira
Sabrina Pereira de Souza foi tripulante do Grand Mistral, também da Ibero, e relata que por causa da fome chegou a se esconder para comer restos de comida deixados pelos passageiros. Ela conta que é servido o café da manhã, almoço e jantar, mas para a carga de trabalho não é suficiente. “Certa vez uma menininha encheu o prato de batatas fritas e não comeu quase nada. Recolhi o prato, fui para o cantinho atrás da porta e enfiei o máximo de batatas que pude dentro da boca. Depois ela abriu uma lata de refrigerante, colocou no copo e deixou a latinha quase cheia. Recolhi tudo, me escondi atrás da porta e dei uma golada daquelas. Fiz isso várias vezes até minha barriga parar de roncar”, conta. A ex-tripulante lamenta ter passado por essa situação. “Nunca me imaginei comendo resto do prato de alguém”.

Tantas pressões e dramas somados as dívidas contraídas para embarcar, acabam causando transtornos psicológicos que levam ao uso de drogas e até pensamentos suicidas. “Muita gente recorre as drogas ou quem sabe se mata mesmo. O custo para embarcar é muito alto e pode chegar a mais de R$ 5 mil. Muitos entram endividados e acabam se desesperando com tudo isso! Algumas aguentam, pois não tem pra onde ir”, afirma Teixeira.

A exigência acontece por causa da grande carga de trabalho. “Eles falam que os navios de cruzeiro são hotéis seis estrelas. Tudo tem que estar brilhando e impecável. Eles querem rapidez em todos os serviços. As exigências vão além da capacidade da pessoa e focam apenas no bem-estar do hóspede. Eles não lembram que precisam olhar o nosso bem-estar”, declara Gondim.

Outra tripulante que prefere não se identificar relata que foi abandonada em Santos, após ser desembarcada sob a acusação de sabotagem. "Fui avisada que eu teria que desembarcar no dia seguinte em Santos por um pedido feito de Gênova e tive que gastar R$ 30 com uma ligação para avisar minha mãe que iria desembarcar. Vivo no Rio de Janeiro e eles me abandonaram em Santos. Minha família foi me buscar", relata.

Problemas podem causar transtornos

Segundo a psicóloga Tânia Maria Estevaletto Macedo a pressão por resultados somada as condições ruins de trabalho descritas pelos tripulantes e a falta da família e amigos, pode trazer problemas à saúde. “O ser humano é um ser social e sofre impactos quando está fechado em um ambiente de trabalho. Essa condição pode trazer transtornos psicológicos”, afirma.

Tânia afirma ainda que a reação depende de cada pessoa. “O ser humano não é programável e diversos fatores interferem no estado de ânimo como dificuldades nos relacionamentos afetivos, conjugais, associados a crises no ambiente de trabalho. Isso pode levar à perda da esperança da realização de seus desejos. Em um mesmo ambiente de trabalho podemos ter perfis diferentes”, diz.

Para Lucas Gondim, o que ajuda nos momentos de tensão à bordo é o suporte de outros funcionários. “Os tripulantes são unidos. A gente se ajuda muito e se dá força, como uma família. Quando um diz querer ir embora, todos se juntam para animá-lo, dar força e incentivo. A gente vê um chorando por problemas e se comove junto, sente a mesma dor, a revolta e a indignação”, finaliza Gondim.

Em nota enviada ao G1, a assessoria de imprensa da Costa Crociere, responsável pela Costa e pela Ibero Cruzeiros, informa que mantém com seus mais de 19.000 tripulantes, de diferentes nacionalidades, contratos que atendem as normas internacionais e condições de trabalho previamente negociadas com Flag State Trade Unions (afiliados à Federação Internacional dos Trabalhadores no Transporte).

A nota afirma ainda que fornece assistência médica, acesso com tarifas especiais à internet para facilitar a comunicação com suas famílias, refeições especiais que respeitam suas tradições e necessidades religiosas e aulas de idiomas, entre outros benefícios.
A Costa Crociere informa também que foi a primeira entre as empresas de navios de cruzeiros no mundo a receber a certificação internacional SA 8000:2001, que garante que os direitos dos trabalhadores são cumpridos. Ainda segundo a empresa, o documento é baseado em normas internacionais sobre direitos humanos e legislações locais referentes aos direitos trabalhistas.

Um comentário:

  1. isto tudo e verdade eu acabei de pedir demissao deste mesmo barco ja faz 5 dias e estou aqui como prisioneiro por que eles estao se recusando a me dar o ticket de volta para o brasil,somos tratados como animeis chegamos a trabalhar ate 15 horas por dias mas na filha de ponto onde botamos os horarios somos obrigados a botar apenas 11 horas ou eles se recusam a assinar a folha de ponto. chegamos a ficar ate 14 horas sem alimentacao temos que pegar o resto de comidas que eles preparam para os passageiros botamos muitas vezes em sacos plasticos ou em guadanapos e levamos nos bolsos para as cabines ou ficamos das seis da tarde quando e servida a ultima refeicao se e que se pode chamar de refeicao,e so voltamos a comer no dia seguinte as 8 horas da manha, apos trabalhar muitas vezes dassete da noite ate as 3 da manha sem direito sequer a um lanche,os garcos e as pessoas que trabalham nos bares chegam emagrecer ate 4 kilos por mes por desidratacao e dieta foracada por que falta agua potavel e alimento. e um absurdo! eo mais absurdo de tudo isto e que o governo brasileiro nada faz para nos ajudar ja fizemos varias denuncias para a policia feferal de santos no brasil,e ate hoje nehuma providencia foi tomada, agora, tem um surto de gripe suina aqui no navio onde mais de 30 brasileiros estao doentes e fracos tomam doses fortes de medicacao e sao obrigados voltar a trabalhar e quando estao em situacao de extremo risco eles simplismente los mandam para casa sem nenhuma assistencia medica e sem direitos trabalhistas como fizeram no mes passado com dois brasileiros que estao em situacao precaria agora sem nenhuma assitencia por parte da companhia , quando o brasil vai tomar uma providencia

    ResponderExcluir