MEDIÇÃO DE TERRA

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MEDIÇÃO DE TERRAS

quarta-feira, 9 de maio de 2012

Moradores bebem água de enchente para economizar durante seca na BA


Até mesmo famílias que têm cisternas adotam a medida 'preventiva'.
Irritação de pele e diarreia são comuns em Muquém de São Francisco.

Glauco Araújo Do G1, em Muquém de São Francisco (BA)

Moradores dos povoados de Pedrinhas e de Morro de Cima, em Muquém de São Francisco, no Centro-Oeste da Bahia, estão bebendo água de pequenas lagoas, represadas desde a cheia de dezembro de 2011, para economizar o que conseguem armazenar nas cisternas. A medida, no entanto, acaba causando problemas de saúde, como irritações na pele, diarreia e dores de estômago.
Mapa arte seca enchentes emergência Bahia VALE (Foto: Arte/G1)
Reportagem do G1 mostra que três cidades da Bahia decretaram situação de emergência por motivos opostos em 2012: seca e enchentes. O G1 foi até essas cidades: Muquém do São Francisco, Morpará e Ibotirama, às margens do Rio São Francisco, e confirmou a situação.
As primas Laíza e Giovania, de 10 anos e 11 anos, estudam na mesma escola no povoado de Pedrinhas. Todos os dias tomam dois banhos na lagoa barrenta e mal cheirosa, que fica a cerca de 200 metros da casa onde moram.
O primeiro motivo do banho é para irem à escola, e o segundo, para amenizar o calor médio de 40°C. "O jeito é tomar banho aqui para estudar, porque não temos água. Ainda bem que nós temos essa água aqui para lavar o cabelo. Eu tomo banho aqui porque em casa a gente não tem água", diz Laíza.
"É muito difícil a vida sem água. Na fazenda grande, tem água encanada, mas aqui não tem. A gente leva a água de balde para beber, para tomar banho e para lavar louça. O que sobra da cisterna a gente pega de balde e coa para beber", afirma a menina ao G1, enquanto espalha xampu no cabelo, na tarde de sexta-feira (4).
Segundo especialistas do Hospital das Clínicas de São Paulo e da Universidade Federal de São Paulo (USP), o contato com água de enchente pode provocar doenças gastrointestinais, hepatite A e leptospirose. A recomendação é a de procurar um médico assim que a pessoa perceba sintomas como febre, calafrios, dores abdominais, dor de cabeça ou fraqueza.

"A gente só não nada nessa água porque tem piranha. Eu queria ter água encanada e um posto médico aqui", diz Laíza.
A tia da menina, Elizabeth Pinto de Souza, 36 anos, conta que a família não tem outra opção e precisa usar a água represada da enchente.
"Quando acaba a água daqui [cisterna], usamos a água da enchente, que tem cheiro de lama. Vamos fazer o quê? Quando acaba a água limpa a gente pega da lagoa até para beber, mesmo com cheiro ruim. A gente, às vezes coloca cloro, mas quando não tem a gente bebe assim mesmo. A água tem muita bactéria, então acontece de dar diarreia e dor de estômago."
A agricultora Diozentina Queiroz da Silva, 54 anos, tem sete filhos e vive problema semelhante no povoado vizinho de Morro de Cima. "Quando a gente se banha dá até coceira no corpo. Para beber não dá, pois a água está afetada [contaminada]. A coceira que dá logo depois do banho é muito grande", diz ela.
Luciana dos Anjos, 32 anos, e o marido Alessandro de Souza, 27 anos, também não conseguem escapar de problemas de saúde provocados pela falta de água potável. "A gente usa a água da lagoa e dá dor de barriga. Vamos fazer o quê?", diz a mulher.
Menina de 4 anos vive na região do povoado de Pedrinhas, em Muquém de São Francisco, onde alguns moradores usam água represada e sem tratamento para consumo (Foto: Glauco Araújo/G1)Menina de 4 anos vive na região do povoado de Pedrinhas, em Muquém de São Francisco, onde alguns moradores usam água represada e sem tratamento para consumo (Foto: Glauco Araújo/G1)
O secretário de Agricultura da cidade, Gilmar Correia da Silva, afirma que o uso da água represada da enchente provoca problemas secundários na área da saúde. "Temos de monitorar as famílias com assistentes sociais. Construímos 400 cisternas na cidade, que vão ajudar 400 famílias, mas ainda não é suficiente", argumenta.
O prefeito de Muquém de São Francisco, José Nicolau Teixeira, diz que os reflexos da seca na cidade são diretos e que tenta minimizar a falta de água da chuva com o uso de carros pipas para encher as cisternas com água potável. "Tem situações que chegamos na porta da casa com o carro pipa e a família não tem como armazenar a água."
Família disse que nas horas de aperto acaba bebendo água lamacenta represada da enchente de dezembro de 2011 no povoado de Pedrinhas, em Muquém de São Francisco (BA) (Foto: Glauco Araújo/G1)Família disse que nas horas de aperto acaba bebendo água lamacenta represada da enchente de dezembro de 2011 no povoado de Pedrinhas, em Muquém de São Francisco (BA) (Foto: Glauco Araújo/G1)

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