MEDIÇÃO DE TERRA

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MEDIÇÃO DE TERRAS

domingo, 13 de maio de 2012

Mãe de 90 anos dá exemplo de coragem e alegria ao criar família


Desde a adolescência D. Vitália trabalhou para sustentar os filhos.
Experiências vivenciadas em décadas passadas não a fizeram desistir.

Mônica Dias Do G1 AM

D. Vitália comemora 90 anos neste domingo, dia das mães (Foto: Mônica Dias/G1 AM)D. Vitália comemora 90 anos neste domingo, dia das mães (Foto: Mônica Dias/G1 AM)
Ser mãe hoje em dia não envolve apenas cuidar dos filhos, mas também contribuir financeiramente nas despesas da casa em prol da qualidade de vida da família. E quem já fazia isso no século passado? O G1 conversou com dona Vitália Neira de Souza, que completa 90 anos neste domingo (13), Dia das Mães, e dedicou a vida a garantir a saúde e a educação aos filhos biológicos e de coração.
De acordo com o Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (Ibope), 36% das mães brasileiras são chefes de família, e o número deve crescer. Esses são os dados de 2012, mas em 1922, quando Dona Vitália nasceu em Amaturá, a 909 km de Manaus, a realidade era bem diferente. Ela enfrentou violência doméstica sem o amparo da lei Maria da Penha, um divórcio conturbado, criou a família sozinha na capital e conseguiu, com seu dinheiro, construir não só uma casa, mas um lar.
Desde cedo a amaturaense teve que assumir responsabilidades de mãe. “Éramos cinco filhos, mas o mais velho foi embora de casa com 15 anos, quando eu tinha 13. Meus pais morreram quando eu tinha 16 anos, e eu tive que cuidar dos meus três irmãos mais novos e trabalhar na roça para sustentá-los. Na época, o mais novo tinha um ano, o do meio sete e o mais velho oito”, relembra.
Quando um dos meus filhos fazia aniversário, eu lavava um pouco mais de roupa pra comprar um presente e fazer um bolinho"
Vitália Neira
Com 20 anos, Vitália se casou com seu primeiro marido, trabalhador do seringal dez anos mais velho, e assumiu a guarda dos irmãos, mas continuou trabalhando na roça e começou a montar sua própria família. Aos 40 anos, em 1962, já tinha sete filhos e muita história para contar. “Eu sofria agressões constantes do meu marido, cheguei a abortar várias vezes por causa disso. Mas fui até um rezador que me benzeu e me fez ter oito gravidezes saudáveis. Infelizmente dois dos meus filhos morreram ainda crianças”.
Naquela época, ela descobriu um tumor no seio e foi abandonada pelo marido, que já tinha outra família. “Ele me deixou sem nada, doente e com seis filhos pra criar. Foi uma época muito difícil”, relatou. Dona Vitália foi para Manaus, com a ajuda financeira de padres e freiras de Amaturá, para cuidar de sua saúde, e trouxe consigo seus seis filhos.
Como tinha trabalhado apenas na roça a vida inteira, a mãe teve que se virar na capital para conseguir sustentar os filhos e assegurar a educação de todos. Conseguiu emprego em uma fábrica descascando castanha, e nos tempos livres lavava roupa e cozinhava para casas de família. “Quando um dos meus filhos fazia aniversário, eu lavava um pouco mais de roupa pra comprar um presente e fazer um bolinho”, relatou.
Doba Vitália e sua enteada caçula, Viviane (Foto: Mônica Dias/G1)Dona Vitália e sua enteada caçula, Viviane
(Foto: Mônica Dias/G1)
Com 50 anos casou novamente, adotou a filha de seu novo marido, saiu da fábrica de castanhas e virou funcionária da prefeitura, trabalhando na limpeza pública. “Eu casei, mas ele que veio morar na minha casa. Eu já tinha meu cantinho. Consegui com muito trabalho duro, nunca tinha folga, mas era sempre muito animada. À noite ainda saia pra dançar!”. Com essa determinação e alegria, a mãe conseguiu garantir que todos os seus filhos completassem o ensino médio, e três deles chegaram até a se formar em curso superior.
Este ano, dona Vitália ficou viúva pela segunda vez, mas segundo a mesma não é um motivo para tristeza. “Já estou numa idade em que a pessoa lida com as perdas de uma forma mais serena, lembrando dos momentos bons, e ele, ao contrário do outro, foi muito bom para mim”.

Neste domingo, o aniversário e o dia das mães estão sendo comemorados em uma grande festa com convidados importantes na vida de Vitália. Ao todo são 75 pessoas, sendo sete filhos, 38 netos, 29 netos e um tataraneto.
Ao final da conversa, dona Vitália, que esbanja saúde e confiança, declarou qual a sensação de ter sido uma ‘chefe de família’ no século XIX. “Trabalhei a minha vida inteira. Primeiro pros meus irmãos, depois pros meus filhos e agora ajudo meus netos. Foi difícil, eu não nego, mas a retribuição foi tão grande, que se eu voltasse no tempo, faria tudo de novo”.

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