MEDIÇÃO DE TERRA

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MEDIÇÃO DE TERRAS

sexta-feira, 6 de abril de 2012

Paixão de Cristo de Nova Jerusalém nasceu de um sonho de pedra


Plínio Pacheco aproveitou a paisagem do Agreste para criar cidade-teatro.
Idealizador do projeto morreu há dez anos, deixando legado de sucesso.

Luna Markman Do G1 PE

Estátua de Plínio Pacheco (Foto: Luna Markman/G1)Estátua de Plínio Pacheco move-se em direção aos
palcos durante a peça (Foto: Luna Markman/G1)
Sabe aquela expressão popular “tirar leite de pedra”? Difícil imaginar a cena, mas fácil entender o significado, que sugere algo impossível de ser feito. Mas, que tal, tirar da pedra um sonho? Há dez anos, morria Plínio Pacheco, o homem que aproveitou a paisagem do Agreste pernambucano para criar uma cidade-teatro que lembrasse a Judeia dos tempos de Jesus e recontar os últimos momentos da história que marcou a fé cristã.

Hoje, a Paixão de Cristo de Nova Jerusalém, encenada no maior teatro ao ar livre do mundo, situado em Fazenda Nova, distrito de Brejo da Madre de Deus, é uma das maiores atrações turísticas do Estado. Mas antes de ocupar uma área de 100 mil metros quadrados, equivalente a dez campos de futebol, o espetáculo era encenado nas ruas da vila.

Era 1951 quando o comerciante Epaminondas Mendonça teve a ideia de realizar, no período da Semana Santa, a encenação da vida, morte e ressurreição de Jesus Cristo. A inspiração partiu após ver que alemães da cidade de Oberammergau faziam uma apresentação semelhante. A peça contava com a participação de familiares e amigos, além de camponeses e comerciantes locais. Sebastiana, esposa de Epaminondas, por exemplo, dirigia a peça.

Em 1956, o gaúcho Plínio Pacheco chegou a Fazenda Nova a convite do então diretor e ator Luiz Mendonça. Ele apaixonou pela atriz Diva Mendoça, filha de Epaminondas, casando-se logo em seguida com ela. A partir daí, passou a escrever os textos da peça teatral "Jesus" e a cuidar da direção.

Pacheco colocou em prática, em 1962, a ideia de construir uma réplica da cidade de Jerusalém. Ideia não, um grande sonho de pedra e concreto: transformar rochas, a vegetação rasteira e o clima semi-árido do Agreste na antiga Judeia, emoldurada por montanhas. A primeira apresentação no novo espaço ocorreu seis anos depois. Um dos maiores incentivadores do projeto foi Nilo Coelho, que governou Pernambuco a partir de 1967.
“Plínio achava que não ia conseguir terminar. Ele [Nilo Coelho] disse para Plínio: ‘me diga quanto você precisa? Luz e estrada é obra do governo. Me diga quanto você precisa para construir o teatro.’ Plínio fez uma lista, entregou e recebeu todo o apoio. E, naquela época de ditadura, ninguém nem contestava”, relembra Carlos Reis, que dirige atualmente a Paixão.

Desde então, são 44 anos de representações ininterruptas dentro das muralhas, atraindo espectadores do Brasil e do mundo. Mais de três milhões de pessoas já assistiram ao evento. A história bíblica é contata em nove palcos-cenário por 550 atores e figurantes. O legado passou de pai para filho. Hoje é Robinson Pacheco quem produz e coordena o espetáculo. E toda a família está, de uma maneira ou outra, envolvida no projeto.

A estátua de Plínio Pacheco montado em um cavalo e segurando o megafone, localizada logo na entrada do teatro, inaugurada um ano depois da morte dele, move-se em direção a cada cenário durante a encenação. É como se ele ainda estivesse ali, dando suas coordenadas. "Ele era o primeiro a acordar e o último a dormir. Sua figura física pode ainda não existir, mas eu tenho certeza que ele está aqui, presente em tudo. E para continuar com esse sucesso, é preciso fazê-lo com amor e perseverança, trabalhar com responsabilidade e se superar a cada ano. 'Quem dorme cai da cama', como ele dizia", ensina Robinson.
Memorial (Foto: Luna Markman/G1)Espaço Cultural Diva e Plínio Pacheco foi aberto ao público este ano (Foto: Luna Markman/G1)
O Memorial Plínio Pacheco, inaugurado um ano após a morte dele, foi reformado e incorporou também peças de Diva Pacheco, transformando-se em um espaço cultural que leva o nome do casal. O local fica na Pousada da Paixão, situado dentro da cidade cenográfica, e exibe, de forma permanente, objetos pessoais e documentos, entre outros itens.

Em 2009, a Lei nº 13.726 concedeu o título de Patrimônio Cultural, Material e Imaterial de Pernambuco à cidade cenográfica de Nova Jerusalém. Confira o trecho de um texto publicado no site oficial do evento, com palavras de Plínio Pacheco:

"A vida colocou-me diante da pedra e da figura de granito que é o homem nordestino. Aquele era meu povo, cantando num cenário de sol. Criar a cidade-teatro. A construção da Nova Jerusalém, erguida com 80% de recursos próprios, é uma sociedade privada, sem fins lucrativos. É claro que reconheço, e todos sabem que tenho como princípio, que ninguém constrói nada sozinho. Diante disto, tenho a obrigação moral de tornar pública a gratidão da Nova Jerusalém e da Sociedade Teatral de Fazenda Nova (STFN) a todos que aqui colocaram pedras, reais ou simbólicas. Mas nós devemos ter a humildade e reconhecer que essas pedras, pertencem ao patrimônio cultural e artístico do País. Nova Jerusalém é patrimônio do povo.”

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