Isolamento geográfico e diferenças culturais dificultam o diagnóstico.
Instalação de mosqueteiros e diagnósticos nas aldeias são feitos pela FVS.
Índios acreditam que a doença é introduzida pelo branco (Foto: Antonio Cruz/ABr/Agência Brasil)
Dos quase 16 mil casos de malária no Amazonas após a subida do nível dos rios, 3.200 são diagnosticados em áreas indígenas. O número representa 20% do total de pacientes em todo o Estado. Comunidades de índios, localizadas nas proximidades dos municípios com alto número de casos detectados, são as que mais apresentam o alto índice. As informações são da Fundação Vigilância em Saúde (FVS), que mapeia os números da doença no Amazonas.O programa de controle da malária identificou que os altos índices entre indígenas estão localizados nas cidades de Atalaia do Norte, Tabatinga, São Paulo de Olivença e São Gabriel da Cachoeira. O órgão age em parceria com Distritos Especiais Sanitários Indígenas (DSEIs), mas de acordo com o chefe do Departamento de Vigilância Ambiental da FVS, Romeo Rodrigues Sialho, a tarefa de diagnosticar os casos é desafiadora. O isolamento geográfico das aldeias é apontado como uma das características que atrapalha o controle, prevenção, diagnóstico e tratamento da patologia.
Alguns índios acham que a malária é introduzida pelo branco e através do material usado para fazer o diagnóstico"
Romeo Rodrigues Sialho
Outro impedimento para as equipes são as diferenças culturais. Uma das medidas do órgão é a instalação de mosqueteiros com inseticidas e essa medida do Ministério da Saúde, segundo o coordenador, encontra dificuldades para ser implementada. "Estava em uma comunidade de índios Matis iniciando a distribuição dos mosqueteiros, mas encontramos muita dificuldade nessa atividade. Eles não acreditam que a malária é transmitida pelo mosquito. Eles acham que a doença é introduzida pelo branco e através da lanceta que a gente usa para colher o sangue e fazer o diagnóstico. Muitos preferem usar o método de cura tradicional, do pajé", disse Romeo.
Ainda de acordo com ele, a reação aos mosqueteiros varia de acordo com a etnia. "Na comunidade dos Marubo, nós ficamos surpresos. Eles nem falavam português e já utilizavam os mosqueteiros. Houve reuniões e boa participação com perguntas e fácil aceitação ao tratamento", explicou o chefe da FVS.
O tratamento para o paciente com malária tem que ser feito em horário regrado e o acompanhamento desse processo é feito, muitas vezes, em laboratórios instalados nas comunidades e com índios capacitados mas, de acordo com a FVS, as diferenças na cultura atrapalham o andamento da recuperação do indígena que contraiu a doença.
"O medicamento tem que ser ingerido no horário certo, mas se o índio percebe que já melhorou um pouco, interrompe o tratamento e vai caçar, pescar e ir a festas da tribo. Ele já não acreditam muito na doença e quando não estão sentindo nada já acham que estão bem, que estão curados. Eles devem pensar 'para que vou tomar esse monte de coisa?' É complicado e temos que passar por este tipo de barreira", finalizou.
Segundo a FVS, 28 laboratórios foram instalados em áreas indígenas e 80% desses locais são visitados trimestralmente.
Nenhum comentário:
Postar um comentário