MEDIÇÃO DE TERRA

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MEDIÇÃO DE TERRAS

quinta-feira, 22 de março de 2012

'Esquina do mundo', Vale do Capão transforma turistas em moradores


Vilarejo reúne cosmopolitas em busca de experiência íntima com natureza.
'É como cada despertar fosse uma grande sinfonia', diz empresária local.

Danutta Rodrigues e Tatiana Maria Dourado Do G1 BA

Mirante do Quebra-Bunda (Foto: Benjamin Salustiano (Beja Guia)/ChapadaTrip)Mirante da ladeira do 'Quebra-Bunda', um dos paraísos na trilha do Pati (Foto:Beja Guia/ChapadaTrip)
Uma vez  lá, não é fácil (e nem preciso) se desapegar do Vale do Capão, pequeno e aconchegante lugarejo em meio às serras exuberantes do Parque Nacional da Chapada Diamantina, a pouco mais de 400 quilômetros de Salvador. As casas da vila e de seu entorno abrigam nativos e os muitos cidadãos do mundo, os chamados ‘cosmopolitas’, que ali fincam morada. Exemplos não faltam. Um deles é Adroaldo Vasconcelos Júnior, 37 anos, conhecido por todos como ‘Jubileu’.
(O G1 faz uma série de reportagens sobre turismo em todos os estados onde está presente. Se você tiver dicas de destinos no estado, com descrição e fotos, envie ao VC no G1.)
É como cada despertar fosse uma sinfonia ou uma grande mãe te ofertando alguma coisa"
Vânia Meirelles
Há 12 anos, ele deixou o trabalho que mantinha com o seu pai - uma imobiliária no litoral paulista - e aderiu à vida saudável do Capão.
“Cada vez que vinha, tinha mais motivos para voltar, trilhas mais legais. Inicialmente, vim para conhecer a ‘Cachoeira da Fumaça’, principal atrativo do Vale; depois voltei para fazer a mesma trilha, mas por baixo [chamada de ‘fumaça por baixo’]. Até que comprei a terra e montei uma pousadinha”, relata Jubileu sobre o início de toda a aventura que encarou em conjunto com sua “companheira”.

O casal nunca se arrependeu. “O Capão é engraçado, atende aos aventureiros, aos místicos, holísticos, hippies, latinos, é a esquina do mundo. Se você sair perguntando, acha com certeza pessoas de pelo menos 30 nacionalidades diferentes. Tem gente do mundo inteiro. É charmoso, um paraíso”, declara o empresário sobre a miscelânea cultural.
Também está lá, essa há 17 anos, a psicoterapeuta Vânia Meirelles, 49 anos, que hoje tem uma das pousadas mais sofisticada do Vale - com heliporto, ofurô no topo da árvore e lareira nos quartos. Iniciou tudo, entretanto, com um projeto de agricultura em parceria com seu marido, Marcos Monteiro, fundador da comunidade agrícola, de cultivo orgânico, chamada Campina.
“Eu morava em Salvador e vinha como turista. Nos encontramos e moramos dentro do Vale no tempo em que construíamos a pousada. A ideia inicial era plantar, deu certo. Hoje abastece a pousada e vendemos para a comunidade, já que estamos longe do centro distribuidor”, relata ela, que divide seu tempo e morada entre a capital e a Chapada.
Para Vânia, estar sempre no Capão é viver uma relação constante com a espiritualidade e com o processo de autoconhecimento. “Aqui tem uma energia muito forte de introspecção. É um acesso mais fácil à espiritualidade, o contato direto com a natureza é muito intenso e poderoso. Tem gente que não dá conta, porque traz você de volta a si mesmo. É como cada despertar fosse uma grande sinfonia ou como uma grande mãe te ofertando alguma coisa. É muita abundância o tempo todo, que reverbera o seu interior”, descreve.
O lugarejo pertence à cidade de Palmeiras, antiga fazenda se desenvolveu ao longo do século 19 a base da exploração de diamantes, assim como toda a Chapada Diamantina.

Circo do Capão (Foto: Divulgação/Circo do Capão)Circo do Capão estimula produção artística na
população (Foto: Divulgação/Circo do Capão)
Espetáculo sim, senhor!
A cultura circense é praticada intensamente há 14 anos no Capão por iniciativa do fundador, o franco-brasileiro Jean Paul Galinski. Desde a primeira oficina, tem como principal objetivo formar transmissores da arte, explica a coordenadora Maryane  Galinski.

"O espaço vai além da arte circense. O circo do Capão gravita por outras linguagens artísticas como o teatro e música. É um espaço de formação e de entretenimento, com espetáculos e oficinas. Funciona como um encontro de cultura", afirma Maryane.
Vale do Capão (Foto: Pedro Acyoli/DivulgaçãoVillaLagoa)Vale do Capão fornece um belo encontro com a
natureza (Foto: Pedro Acyoli/DivulgaçãoVillaLagoa)
É a primeira arena de circo reconhecida como 'Ponto de Cultura' pelo projeto do Ministério da Cultura. Atualmente, participam do trabalho pouco mais de 200 alunos, entre crianças, adultos e adolescentes.
A idade mínima para participar das oficinas é de 5 anos e os grupos são divididos por faixas etárias.
As apresentações são semestrais, mas também são encenadas em datas festivas como os feriados.
Mirante do Cachoeirão, no Capão (Foto: Benjamin Salustiano (Beja Guia)/ChapadaTrip)Vista do mirante do Cachoeirão, onde também é possível fazer trekking (Foto: Beja Guia/ChapadaTrip)
Cânion da cachoeira do Buracão (Foto: Benjamin Salustiano (Beja Guia)/ChapadaTrip)Incrível cânion da cachoeira do Buracão
(Foto: Beja Guia/ChapadaTrip)
Pelas trilhas
Guia há oito anos e membro da Associação dos Condutores de Visitantes do Vale do Capão (ACV-VC), Joelton Batista de Souza descreve as trilhas mais bonitas e frequentadas - de fácil, média e difícil execução. Por quesão de segurança, é recomendado que os visitantes estejam acompanhados de guias na maioria dos passeios. Para os trajetos que entornam o próprio vale, quatro pessoas pagam, em média, R$ 40 o dia. Já os que exigem pernoite, o preço médio da diária de R$ 100 por pessoa. Confira abaixo os principais atrativos por ordem alfabética:
Águas Claras - Terreno plano, ao pé do Morrão, os visitantes encontram águas cristalinas depois de cerca de duas horas e meia de caminhada. Nível: fácil.
Riachinho (Foto: Pedro Acyoli/DivulgaçãoVillaLagoa)Riachinho é a trilha mais fácil de ser executada
(Foto: Pedro Acyoli/DivulgaçãoVillaLagoa)
Angélicas/Purificação - Partindo da Vila de Caeté-Açu, é preciso andar cerca de uma hora até as Angélicas, onde é possível se banhar em águas cristalinas. De lá, com mais meia hora de trilha em terreno acidentado, parte dela realizada santando as pedras do rio, chega-se à cachoeira da Purificação. A cachoeira tem cerca de 10 metros. Antes e depois da trilha, é possível comer deliciosos pastéis de palmito de jaca e tomar caldo de cana. Nível: médio.
Cachoeira da Fumaça - o ponto de partida para os 6km de caminhada é ainda no Vale, bem na sede da Associação dos Condutores. É de lá que adultos, jovens e crianças encaram uma subida de cerca de mil metros até encontrarem a cachoeira, que tem 380 metros de queda livre, e se depararem com uma vista exuberante. O percurso dura duas horas na ida e mais duas horas na volta. A trilha é autoguiada, mas em alguns pontos é possível se perder. No entanto, é uma das duas possíveis de serem feita sem acompanhamento de guia.
Casa de seu Wilson, no Vale do Pati (Foto: Benjamin Salustiano (Beja Guia)/ChapadaTrip)Casa de seu Wilson, um dos descansos no Vale do
Pati (Foto: Beja Guia/ChapadaTrip)
Mixila - é considerada a trilha mais difícil da Chapada Diamantina. Nos cerca de quatro dias de percurso, é possível conhecer cachoeiras como Palmital, Capivara e a Fumaça por baixo. O cânion do Mixila é fechado. Para chegar até lá, é necessário atravessar o equivalente a duas piscinas olímpicas em águas turvas. A cachoeira fica escondida e raios de sol entra na queda d'água. Nível: difícil.
Morrão - a trilha tem um certo grau de dificuldade, por ser um terreno íngrime, com desníveis consideráveis. Para chegar até o topo do morro e voltar, leva-se cerca de cinco horas. De cima, avista-se o Vale do Capão e, do outro lado do morro, o Vale do Pai Inácio.
Riachinho: é a outro passeio que não precisa de guia, praticamente não tem trilha. O local tem cachoeiras com águas cristalinas.
Rodas e Rio Preto - Até as Rodas, são 40 minutos de caminhada e, de lá, mais 30 até o Rio Preto. O terreno é acidentado, com desníveis. As águas são bem escuras e profundas (o Rio Preto tem 30 metros de poço).
Vale do Pati - é parecido com o Vale do Capão, mas sem luz elétrica e entrada de carro. Moram no local dez famílias, remanescentes da tradição do cultivo do café, e que hoje vivem basicamente do turismo. São nas casas desses nativos que os trilheiros devem se hospedar. O valor é R$ 70 por pessoa, com direito a café-da-manhã e jantar. A outra opção é acampar no próprio mato. No percurso, o trilheiro encontra picos altos como o Cachoeirão, que é semelhante à Fumaça, porém 100 metros menor. Quando chove, no cânion aparece mais de vinte cachoeiras. Também tem o Castelo, uma montanha parecida com o Morrão, mas que, no topo, possui uma caverna. A trilha dura, no mínimo, três dias. Nível: difícil.
Mais de ChapadaO turista de aventura pode aproveitar a estada na Chapada Diamantina e visitar as outras cidades, igualmente convidativas, que compõem o Parque Nacional. Entre elas, as mais visitadas são Lençóis - com fartas opções gastronômicas-, Ibicoara, Iraquara, Mucugê, Rio de Contas e Andaraí (Vila de Igatu), de acordo com a Secretaria de Turismo da Bahia.

Não há restrição de temporada, a região é indicada durante todo o ano. As baixas temperaturas de inverno, no entanto, recheiam de charme as serras baianas. Os feriados reúnem um grande número de frequentadores, principalmente os de Carnaval, Semana Santa, São João e Reveillón. Para os que quiserem curtir um autêntico Carnaval, por sinal, vale a pena viver o de Rio de Contas e suas fanfarras, desfile de "caretas" e lavagem das baianas.

As opções de passeios não se esgotam em toda a Chapada Diamantina. O entorno dessas cidades reservam atrações naturais como as grutas da Pratinha, que possui águas azuis turquesas, e as da Lapa Doce e Torrinha, que oferecem belas caminhadas entre estalactites. Em termos de cachoeiras, podem ainda ser desfrutadas as Mosquito, Fumacinha, Buracão e Poço do Diabo. É indispensável, no entanto, escalar o Morro do Pai Inácio, 1.150 m acima do nível do mar. É mais um bom recanto bem perto ao céu.
Cortado de palma
Ao conhecer a Chapada Diamantina, além de curtir os passeios turísticos e aproveitar as belezas naturais, provar da gastronomia da região torna-se uma atração à parte. Entre os pratos típicos, estão a moqueca de tucunaré, a salada de batata da terra, a galinha caipira, o godó de banana verde com carne do sol, a moqueca de jaca verde, a carne seca, a galinha caipira, o arroz de garimpeiro e o cortado de palma. Experimente em casa a receita tradicional do cortado de palma e cultive a tradição da região:

Ingredientes:
• 8 'raquetes' de palma
• ½ cebola picada
• 4 dentes de alho picados
• 1 ramo de coentro
• Açafrão, pimenta do reino, azeite, cominho e sal à gosto
• camarão fresco ou carne moída (100gramas)
• 1 tomate maduro picado
Modo de fazer: retire todos os espinhos das palmas e, após cortá-las em pequenos pedaços, coloque para ferver por 20 minutos. Em seguida, despeje o conteúdo em uma peneira. Deixe escorrer até que a palma cortada fique seca. Coloque o cortado de palma em uma panela e acrescente o alho picado, o coentro, a cebola picada, o camarão fresco ou a carne moída, além de pimenta do reino, açafrão, azeite e sal à gosto. Deixe refogar por mais 15 minutos e o cortado de palma está pronto. O prato serve até oito porções e o acompanhamento pode ser o arroz de pequi, também tradicional na região.

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