MEDIÇÃO DE TERRA

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MEDIÇÃO DE TERRAS

domingo, 25 de março de 2012

Criadores espanhois se esforçam para preservar raças da antiguidade


Região de Estremadura, local dos rebanhos, é conhecida pelo clima duro.
Esse patrimônio genético é importante e pode fazer muita falta no futuro.

Do Globo Rural
Na região de Estremadura, na Espanha, técnicos e criadores se esforçam para preservar raças antigas que são parte da história da pecuária. São cabras e bois criados desde a antiguidade, que formam hoje rebanhos muito pequenos. Um patrimônio genético importante que, se não for preservado, pode fazer muita falta no futuro.
O significado do nome Estremadura está relacionado à dureza do clima de uma região montanhosa da Espanha onde chove pouco, o solo é pedregoso e as temperaturas atingem níveis extremos tanto no verão quanto no inverno.

Nos meses de janeiro e fevereiro não é raro observar cenários cobertos de neve. No verão o calor é escaldante e atinge facilmente 40 graus na sombra.

A Estremadura fica no oeste da Espanha, na fronteira com Portugal. As cidades mais importantes são: Badajoz e Cáceres, que foi tombada pela Unesco e transformada em patrimônio da humanidade. O centro histórico, cercado de muralhas e torres, começou a ser construído no século 15.
Em Guadalupe, na região leste da província, fica o mosteiro de Nossa Senhora de Guadalupe. O santuário é administrado pelos frades franciscanos e guarda um tesouro: a imagem original da Virgem de Guadalupe a quem se atribui muitos milagres. Ela foi encontrada na margem do rio Guadalupe por um pastor de ovelhas. Nossa Senhora de Guadalupe é negra como a Virgem de Aparecida, a padroeira do Brasil.

Raças preservadas
Na estremadura como um todo cuja área é pouco maior que Sergipe, o menor estado brasileiro, existem 33 raças antigas que constam na lista do Ministério da Agricultura da Espanha como animais em vias de extinção.

São espécies que evoluíram durante séculos enfrentando todos os desafios e que fazem parte do tronco de origem de diversas raças espalhadas pelo mundo. A este conjunto de animais os cientistas dão o nome de: raças autóctones.
Os touros de peleja são animais de pelagem escura, fortes e arredios, criados em pastagens cercadas por muros de pedra. O destino deles são as praças de touros.
A tourada é uma tradição milenar da Península Ibérica, mas que atualmente estão sendo alvo de muitas críticas por conta da crueldade com os touros.
O futuro de todas essas raças ameaçadas está nas mãos dos técnicos do Centro de Seleção e Reprodução de Animais da Junta de Estremadura, na província de Badajoz.
O medico veterinário Vicente Madrigal é o chefe do centro de pesquisa. Ele diz que a vaca branca cacerenha, introduzida nos primeiros séculos da dominação romana, é o animal mais raro. Em todo o mundo só existem 600 exemplares.
“É importante salvar qualquer animal do mundo. Não podemos saber se algumas das características que eles têm pode ser necessária para o futuro, como alguma resistência”, diz Vicente.

O trabalho do centro é feito em parceria com os produtores através das associações de criadores de cada raça. Os animais escolhidos pelos técnicos das associações passam por testes de DNA e só os puros são selecionados para coleta de sêmen. Uma parte do material é guardada no banco genético da instituição e a outra é distribuída para os criadores que são encarregados de dar continuidade à raça.
Produção e mercado
Cacildo molina é responsável pela preservação de 600 fêmeas de uma raça de cabra muito antiga: a raça retinta. O tronco de origem delas é a cabra selvagem aegagrus. Em toda a espanha existem apenas 2.500 animais puros dessa raça.

Todos os criadores de animais em perigo de extinção recebem apoio técnico e uma quantia em dinheiro do governo espanhol para manter suas criações em estado puro.

O médico veterinário Aníbal Sanchez diz que a crise do euro já chegou ao campo. A primeira consequência no futuro pode ser a diminuição e até a extinção dos subsídios para essa atividade.

“Todas as ajudas são muito importante porque essas raças são menos produtivas que as modernas. Sem os subsídios vamos ter dois prejuízos. Primeiro esses animais podem desaparecer e, segundo, os criadores tradicionais vão ter que abandonar o campo”, diz Aníbal.

Como a crise é eminente, os produtores e o governo já estão buscando uma saída, como explica Luiz Fernandes, que cria 200 cabras da raça verata, outro animal da lista de raças ameaçadas.

“Hoje a gente recebe um subsídio fixo que gira em torno de 40 euros por animal por ano. A proposta que está em discussão transforma o subsídio fixo num prêmio pela qualidade e pela sanidade do rebanho. O objetivo é melhorar os rebanhos e os produtos derivados da carne e do leite e com isso abrir mercados diferenciados. Só assim podemos dispensar a ajuda do governo”, conta Luiz.

Ele tem uma pequena queijaria que construiu na sua casa. Possui dois tanques de resfriamento onde armazena 40 litros por dia e uma câmara fria para conservar os queijos. Ele produz três tipos tradicionais de queijo da Estremadura. O rebanho e a fabriqueta recebem visitas periódicas dos técnicos da associação dos criadores da raça verata. Se tudo estiver de acordo, os queijos ganham o selo de produto de denominação de origem. Isso confere uma distinção muito importante entre esses queijos e os outros.

O gado retinto também é nativo da Estremadura. Ele é muito dócil e também muito resistente. Suportam temperaturas de 40 graus no verão e abaixo de zero no inverno. O médico veterinário José Maria Gomes, Conselheiro de Agricultura Alimentação e Meio Ambiente da Embaixada da Espanha no Brasil, diz que através de um convênio com o governo brasileiro esta raça será testada em Mato Grosso e no Nordeste, para onde serão levados embriões e sêmen.

A fazenda La Zafrilla tem 200 animais da raça retinta criados numa área de 300 hectares de pasto nativo. A carne do retinto também está incluída no rol dos produtos de denominação de origem que conseguem preço diferenciado no mercado. Hoje eles não necessitam mais de ajuda para manter as 140 mil matrizes puras. Número suficiente para garantir a continuidade da raça.

Os ovinos da raça merina são preservados nas pastagens nativas dos vales da Estremadura. Eles também são conhecidos como ovelha merina. O rebanho é de aproximadamente 4,5 milhões de cabeças. Todas elas criadas na região conhecida como La Serena. Essa raça ficou famosa no mundo inteiro pela qualidade da lã, mas quase foi extinta com a entrada no mercado da lã sintética.

O porco ibérico, de cuja carne se produz o famoso presunto pata negra, também esteve ameaçado. A peste suína africana dizimou a maior parte do rebanho puro da Espanha. Mas todas essas raças resistem ao tempo e continuam vivas gerando riquezas para a humanidade.

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