MEDIÇÃO DE TERRA

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MEDIÇÃO DE TERRAS

domingo, 11 de março de 2012

Adolescentes que são mães relatam sobre juventude perdida, no ES


Quase 9 mil partos entre adolescentes foram registrados em 2011.
A cada dia nascem, pelo menos, 23 bebês de gestação precoce.

Bruno Faustino Do G1 ES

Sexta-feira, 9 de março de 2012, 8h da manhã. M., uma adolescente de 17 anos, chega à Unidade de Saúde de Boa Vista, na Serra, município da Grande Vitória. Espera até ser chamada para uma consulta com a pediatra. Ela não sente nada e está bem de saúde. A menina procurou a médica não para ela, mas para o bebê que carrega nos braços, a filha de um mês e seis dias.
"Vim trazer a neném para exames de rotina. Ela nasceu mês passado e preciso saber se está ganhando peso", diz a mãe adolescente. A garota engravidou do namorado, de 19 anos, e teve que parar de estudar. Deixou de lado a boneca e os sonhos para cuidar da filha. "Até ganhar a neném, eu brincava de casinha, fazia roupinha... Minha vida virou de ponta cabeça. Agora, estou sozinha cuidando da minha filha", conta.
Se pudesse voltar atrás, M. pensaria duas vezes. "Eu tinha o sonho de ser médica. Tive que deixar isso de lado por causa da minha neném. Não me arrependo do que fiz, mas descobri que gravidez não é brincadeira, é coisa séria e deve ser encarada assim. Hoje estou madura para pensar dessa forma. Quando fiquei grávida, não tinha ideia", declara.
Tenho uma bebê e estou grávida da segunda filha"
C., 17 anos.
Na sala de espera da unidade de saúde, outra menina mãe. "Eu tenho 17 anos. Tenho uma bebê de um ano e três meses e estou grávida da minha segunda filha", relata C. A adolescente conta que começou a namorar cedo, escondido dos pais. "Eles não queriam que eu namorasse, por isso decidi arrumar um filho. Agora eles não podem falar mais nada. Vivo com meu namorado. Minha família me deixou de lado", diz a menina. Ela diz que não se arrepende do que fez. "Minha filha hoje é a alegria da minha vida", conta.
Inconsequência ou rebeldia? A médica pediatra Sylvia Bahiense tem uma explicação. "Essas meninas acham que elas nunca vão ficar grávidas, não vão pegar uma doença sexualmente transmissível. Por isso, se entregam", afirma. A pediatra trabalha há pelo menos 10 anos com adolescentes grávidas e conta que as meninas estão começando a vida sexual cada vez mais cedo. "Já conheci crianças com 10, 11 anos grávidas. São crianças carregando outras crianças", declara.
A Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) registrou, em 2011, quase 9 mil partos entre crianças e adolescentes de 10 a 19 anos no Espírito Santo. A cada dia nascem, pelo menos, 23 bebês de gestação precoce.
Orientação
Sylvia Bahiense e um grupo de profissionais de saúde se juntaram para orientar meninas de comunidades carentes da Grande Vitória sobre prevenção e gravidez precoce. Semanalmente, o grupo percorre unidades de saúde, escolas e centros comunitários para conversar com adolescentes e pais.
São crianças carregando outras crianças"
Sylvia Bahiense, médica pediatra.
"A gente tenta passar para eles de uma maneira bem direta, bem simples, os riscos da gravidez da adolescência. Muitas meninas e meninos mal sabem as mudanças que o corpo sofre na puberdade. Daí chegamos até as doenças venéreas. É um trabalho muito gratificante", conta a médica.
O G1 acompanhou um desses encontros. O auditório estava lotado e era visível a reação dos pais e dos adolescentes a cada explicação, a cada dinâmica dos agentes de saúde. "Achei ótimo, aprendi muitas coisas hoje. Ficou claro que a gravidez deve acontecer na hora e no momento certo", disse uma adolescente de 13 anos.
"As explicações foram muito claras. Eu sou mãe de uma menina de 12 anos e de um menino de 14 e preciso saber como conversar sobre isso com meus filhos. Hoje tirei muitas dúvidas com a médica e assim que chegar em casa vou sentar e bater um papo com as crianças. O assunto é muito sério", relatou a dona de casa Tatiana Magalhães, de 40 anos.

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