Quase 9 mil partos entre adolescentes foram registrados em 2011.
A cada dia nascem, pelo menos, 23 bebês de gestação precoce.
"Vim trazer a neném para exames de rotina. Ela nasceu mês passado e preciso saber se está ganhando peso", diz a mãe adolescente. A garota engravidou do namorado, de 19 anos, e teve que parar de estudar. Deixou de lado a boneca e os sonhos para cuidar da filha. "Até ganhar a neném, eu brincava de casinha, fazia roupinha... Minha vida virou de ponta cabeça. Agora, estou sozinha cuidando da minha filha", conta.
Se pudesse voltar atrás, M. pensaria duas vezes. "Eu tinha o sonho de ser médica. Tive que deixar isso de lado por causa da minha neném. Não me arrependo do que fiz, mas descobri que gravidez não é brincadeira, é coisa séria e deve ser encarada assim. Hoje estou madura para pensar dessa forma. Quando fiquei grávida, não tinha ideia", declara.
Tenho uma bebê e estou grávida da segunda filha"
C., 17 anos.
Inconsequência ou rebeldia? A médica pediatra Sylvia Bahiense tem uma explicação. "Essas meninas acham que elas nunca vão ficar grávidas, não vão pegar uma doença sexualmente transmissível. Por isso, se entregam", afirma. A pediatra trabalha há pelo menos 10 anos com adolescentes grávidas e conta que as meninas estão começando a vida sexual cada vez mais cedo. "Já conheci crianças com 10, 11 anos grávidas. São crianças carregando outras crianças", declara.
A Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) registrou, em 2011, quase 9 mil partos entre crianças e adolescentes de 10 a 19 anos no Espírito Santo. A cada dia nascem, pelo menos, 23 bebês de gestação precoce.
Orientação
Sylvia Bahiense e um grupo de profissionais de saúde se juntaram para orientar meninas de comunidades carentes da Grande Vitória sobre prevenção e gravidez precoce. Semanalmente, o grupo percorre unidades de saúde, escolas e centros comunitários para conversar com adolescentes e pais.
São crianças carregando outras crianças"
Sylvia Bahiense, médica pediatra.
O G1 acompanhou um desses encontros. O auditório estava lotado e era visível a reação dos pais e dos adolescentes a cada explicação, a cada dinâmica dos agentes de saúde. "Achei ótimo, aprendi muitas coisas hoje. Ficou claro que a gravidez deve acontecer na hora e no momento certo", disse uma adolescente de 13 anos.
"As explicações foram muito claras. Eu sou mãe de uma menina de 12 anos e de um menino de 14 e preciso saber como conversar sobre isso com meus filhos. Hoje tirei muitas dúvidas com a médica e assim que chegar em casa vou sentar e bater um papo com as crianças. O assunto é muito sério", relatou a dona de casa Tatiana Magalhães, de 40 anos.
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