MEDIÇÃO DE TERRA

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MEDIÇÃO DE TERRAS

domingo, 5 de fevereiro de 2012

Técnica orgânica rende preço acima de mercado a cafeicultores da BA


Base da adubação da lavoura é o composto orgânico.
Quase toda produção é exportada para os Estados Unidos e a Europa.

Do Globo Rural

Um grupo de produtores de café da Chapada Diamantina, na Bahia, que apostou no sistema biodinâmico, uma técnica orgânica de cultivo, conseguiu preços acima do mercado por causa da alta qualidade do produto.
O clima da Chapada Diamantina é perfeito para o café. Encravada no coração da Bahia, boa parte de seus 31 mil quilômetros quadrados tem mais de 700 metros de altitude, o que deixa a temperatura amena, do jeito que a lavoura gosta. Hoje, o café ocupa perto de 45 mil hectares, pouco mais de 1% da área da Chapada. A maior parte dos cafezais é cultivada no sistema convencional.
chapada diamantina (Foto: Reprodução)chapada diamantina (Foto: Reprodução)
Um grupo de agricultores produz mais do que a média nacional e venda o café até pelo dobro do preço. A fazenda Terramater tem 90 hectares e fica no município de Ibicoara. O dono, o agrônomo Adeodato Menezes, planta café há quase 30 anos. No começo, a lavoura era tocada no sistema convencional, mas um tinha um detalhe que incomodava. “A monocultura é muito vulnerável, é um sistema que não tem equilíbrio biológico”.
Para fugir da monocultura, em 1998 Adeodato decidiu mudar o jeito de produzir e implantou o conceito da agricultura biodinâmica, que é uma modalidade de agricultura orgânica. Como na agricultura orgânica, a biodinâmica também não usa veneno nem adubo químico industrializado e busca sistemas de produção mais parecidos com o que acontece na natureza.
A maior parte da fazenda é destinada à preservação. Dos 90 hectares, apenas 22 vêm sendo usados pela família. Oito são de pasto e dez estão ocupados por roças temporárias, terreiro e outras construções. O cafezal, que tem pouco mais de quatro hectares, é todo sombreado por fruteiras e árvores nativas. O sombreamento reduz a temperatura dentro da lavoura e ajuda a conservar a umidade do solo. Além disso, as folhas que caem no chão mantêm a terra coberta e viram matéria orgânica, o que contribui para a nutrição das plantas.
As ruas entre os cafeeiros também são usadas para a produção de outros alimentos, como o milho. Na agricultura biodinâmica, boa nutrição e equilíbrio são fundamentais para a saúde das plantas. Por isso, a adubação é caprichada, feita com composto orgânico, fosfatos e biofertilizantes naturais. É importante lembrar que na biodinâmica não tem receita pronta. Cada agricultor deve encontrar o melhor jeito de trabalhar respeitando o lugar onde vive.
Os agricultores Luca Allegro e Nelson Ribeiro são vizinhos de porteira e se conhecem há mais de 30 anos. No final da década de 1990 cada um tinha 40 mil pés de café. Eles eram pequenos produtores que não tinham recurso para investir nas lavouras. Então, surgiu a ideia de transformar amizade em sociedade.
A primeira mudança foi a conversão dos cafezais para o sistema biodinâmico. O segundo passo foi sombrear o café. A base da adubação da lavoura é o composto orgânico, feito com casca de café, esterco, minerais naturais e os preparados biodinâmicos. As plantas também recebem uma dose de fosfato natural. A quantidade de cada adubo aplicado na lavoura é baseada na análise de solo que Nelson Ribeiro faz duas vezes por ano. Na época da colheita, as cascas e a água da lavagem do café também viram alimento para as plantas.
Uma ferramenta importante para ter sucesso na produção de café orgânico e biodinâmico é a escolha de variedades que se adaptem melhor a esses sistemas. O pessoal da fazenda trabalha com quatro variedades diferentes de café. A maior parte dos cafeeiros é das variedades catuaí amarelo e vermelho.
O agricultor Nelson Ribeiro também planta dois hectares de obatã, um hectare de acauã e meio hectare de café Bourbon. “O manejo orgânico no acauã não está dando certo”, diz.
Com o sucesso do sistema os cafeicultores foram aumentando a lavoura. Hoje, eles têm 160 mil pés de café, com dois terços em plena produção. A produtividade é de 40 sacas de café por hectare, o dobro da média nacional. Na fazenda se faz café fino, de alta qualidade, o chamado café gourmet. Por isso, é preciso caprichar na colheita. O chão é coberto com uma lona para evitar o contato dos grãos com a terra.
“Devemos colher só os grãos bem maduros, bem cereja; evitar tirar o grão verde, que atrapalha todo o processo da qualidade do café”, explica Ribeiro.
É preciso mão de obra bem treinada para fazer o serviço. Quarenta pessoas trabalham na colheita. A produção do café segue do campo para o lavador, onde os grãos verdes, que passaram pela colheita seletiva, são separados porque dão bebida de pior qualidade. Os grãos maduros são preparados de três formas: em coco, descascado e despolpado. Todos os lotes vão para o terreiro e é tudo calçado e coberto com plástico. Cada terreiro faz a secagem de um lote diferente de café, que é separado por variedade e dia de colheita.
Os agricultores Luca Allegro e Nelson Ribeiro montaram uma sala de prova para avaliar a qualidade da bebida produzida na fazenda. “A gente acha que é importante que o produtor tenha controle sobre a sua produção. Isso não só para saber o que está sendo feito, mas para a hora da venda. Quem diz se o café é bom ou não é a gente”, esclarece Allegro.
Só depois da prova a fazenda forma os lotes, padronizados de acordo com características de variedade, sabor e tipo de bebida.
A propriedade trabalha com um sistema de mecanização chamado de micro-lote. “Cafés com características semelhantes são agrupados em números de saca pequenos. Assim, ele agrega mais valor”, explica Allegro.
Os micro-lotes são preparados de acordo com a vontade do comprador. Quase toda a produção é exportada para os Estados Unidos e a Europa, nichos de mercado que garantem uma boa renda para os produtores da Chapada.
Para os cafeicultores Luca Allegro e Nelson Ribeiro, a biodinâmica e o investimento na qualidade trouxeram a chance de competir com grandes produtores num mercado que está cada vez mais exigente.

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