MEDIÇÃO DE TERRA

MEDIÇÃO DE TERRA
MEDIÇÃO DE TERRAS

domingo, 12 de fevereiro de 2012

Obesidade favorece surgimento de doenças de gente grande em crianças


Combater a obesidade infantil é pensar em filhos saudáveis no futuro.
A má alimentação e o sedentarismo estão entre os vilões do sobrepeso.

Denise Gomes Do G1 SE

Quem já não ouviu e até cantou aquela música que dizia: comer, comer é o melhor para poder crescer?! Bem, de fato se alimentar é essencial para o desenvolvimento de qualquer ser humano. Mas, e quando isso se torna um problema, uma compulsão, que pode começar ainda nos primeiros anos de vida, gerando um problema já bem conhecido de todos, a obesidade infantil? Dentre os fatores prejudiciais do ganho de peso em excesso ainda na infância, estão o surgimento de doenças de ‘gente grande’ em crianças, e o pior, isso acontece cada vez mais cedo e com maior frequência do que há alguns anos atrás.
No mundo inteiro cerca de 34 milhões de crianças em idade pré-escolar estão obesas ou com sobrepeso. No Brasil, 24% das crianças apresentam o problema que desencadeia uma série de outros eventos como, a hipertensão, diabetes tipo 2, complicações ortopédicas, asma e outras doenças respiratórias, problemas psico-sociais, apneia do sono e até risco de morte precoce. Além disso, o excesso de peso durante a infância aumenta a probabilidade de se tornar um adulto obeso.
O pediatra Halley Oliveira revela que os problemas podem aparecer no futuro (Foto: Denise Gomes / G1 SE)O pediatra Halley Oliveira revela que os problemas
podem aparecer no futuro
(Foto: Denise Gomes / G1 SE)
Os grandes vilões deste panorama das crianças brasileiras seriam a má alimentação, o sedentarismo e o estresse. É o que revela o pediatra Halley Oliveira. “Uma alimentação equilibrada aliada à uma boa queima de gordura gera benefícios e previne uma série de doenças, quando acontece o contrário, ou seja temos um acúmulo de gordura no organismo, os problemas podem até não aparecer na infância, mas ao longo do tempo, na adolescência, por exemplo, eles se farão presentes. A obesidade na infância e adolescência aumentou 200% nos últimos vinte anos, e nós já nos deparamos com alguns casos de crianças que mesmo pequenas já são hipertensas, desenvolvem diabetes entre outras patologias. Inclusive já tive em consultório uma criança de apenas dois anos de idade que estava com colesterol alto”, destaca o pediatra.
Outro ponto relevante citado pelo pediatra e que deve ter a atenção dos pais, é o fato do estereotipo de beleza difundido na infância, onde o bebê mais belo é o ‘gordinho’. “Muitas mães se assustam quando informamos que seus filhos, mesmo os bebês de um ou dois anos, estão obesos. E logo elas reagem dizendo, nossa mais ele está tão lindo e saudável assim gordinho! Isso, aliado a maus hábitos alimentares desencadeados na infância, inatividade, muito uso da televisão, videogame, computador, com certeza se resultará num pré-adolescente obeso”, afirma. Ainda de acordo com Halley Oliveira, 90% dos casos de crianças e jovens que estão acima do peso, devem-se à má alimentação e somente 10% a algum problema de metabolismo.
“Quando os pais nos procuram para tratar seus filhos, tratam o problema da obesidade de maneira isolada, ou seja, o problema é a criança e se isentam de qualquer responsabilidade no ganho de peso dos filhos. Acompanhei uma família aonde pai e mãe, cada um com mais de 100 quilos, vieram ao consultório apresentar o problema do filho de 9 anos que pesava cerca de 90 quilos. Quando informei que para o tratamento ter sucesso todos sem exceção deveriam se reeducar alimentarmente, eles não gostaram e sumiram do consultório quando os encaminhei para o nutricionista. Um bom tempo depois, a mãe retornou para dizer que de fato eu tinha razão e que todos precisavam ter hábitos mais saudáveis para que o filho perdesse peso”, destaca o pediatra.
Tratamento
Para ir direto ao foco do problema e ter sucesso na luta contra os quilinhos a mais é preciso unir forças e para isto o papel da família é fundamental para que a mudança de hábitos aconteça e seja benéfica a pais e filhos. Não basta tratar a obesidade infantil de maneira isolada, ou seja, colocando a criança no centro da discussão, já que a reeducação alimentar deve ser algo feito em conjunto. Além disso, pais e responsáveis precisam ser mais atuantes e estimular também a prática de exercícios e outras atividades que proporcionem bem estar, elevando a auto-estima dos pequenos.
A nutricionista Marcela Mori acrescenta que toda a família deve passar pela reeducação (Foto: Denise Gomes / G1 SE)A nutricionista Marcela Mori acrescenta que toda
a família deve passar pela reeducação
(Foto: Denise Gomes / G1 SE)
“A obesidade infantil não pode ser encarada de maneira isolada, ou seja, somente a criança que está acima do peso, mas sim toda a família deve ser tratada e isso deve ser estendido à escola. A rotina de pais e mães que a cada dia tem menos tempo para se dedicar ao preparo das refeições de maneira natural, desencadeia uma série de problemas, pois desta forma acaba-se recorrendo à praticidade através dos sucos de caixinha, biscoitos, entre outros alimentos prontos para consumo, que são consumidos em larga escala pelas famílias. Essa é a principal questão para a realidade que temos hoje, ou seja, alimentação errada, na maioria das vezes em grande quantidade, o que resulta em crianças com excesso de peso, problemas com colesterol e até pressão arterial alta, além de casos de resistência a medicamentos causada pelas alterações hormonais estimuladas por alimentos industrializados”, revela a nutricionista, Marcela Mori.
Ainda segundo a nutricionista, o sedentarismo da vida moderna e as compensações utilizadas pelos pais são agravantes do problema. “O perfil da obesidade nas crianças de hoje se torna ainda mais agravante pelo fato delas serem sedentárias, onde elas ficam mais em casa em frente ao computador ou videogame, os pais sem tempo para levá-los para passear em locais abertos como praças e parques, optam pelo shopping no final de semana, onde almoçar num fast food é equivalente a um prêmio. É muito comum ver pais que atribuem uma ida ao Mc´Donalds, a um prêmio dado aos filhos, seja por bom comportamento, boas notas, enfim. A forma dessas compensações instituídas pelos responsáveis é um tanto problemática”, ressalta.
A participação dos pais é de fato fundamental para o sucesso do tratamento é o que revela a professora Patrícia Amaral, grande incentivadora da filha Luísa, hoje com 13 anos. “Aos seis anos levei Luísa ao endocrinologista e foi constatado que ela estava com um sobrepeso muito grande e precisava realmente fazer um trabalho nutricional. Porém, a dieta sugerida pela nutricionista foi muito rígida e tivemos dificuldades, mas mesmo assim minha filha conseguiu perder bastante peso, isso também porque sempre estive ao seu lado, dando apoio e cuidando para ela não saísse do tratamento. No entanto, devido à rigidez da dieta, um tempo depois Luísa acabou engordando tudo novamente, pois sempre quando íamos ao consultório, nenhuma mudança era feita neste cardápio para estimulá-la a continuar. Esse foi nosso grande problema nesta experiência. Porém, alguns anos mais tarde quando ela se tornou pré-adolescente, resolveu retomar o acompanhamento estimulada por uma palestra sobre alimentação saudável realizada na escola em que trabalho”, revela Patrícia.
A estudante Luísa Amaral se interessou pelo tratamento após palestra (Foto: Denise Gomes / G1 SE)A estudante Luísa Amaral se interessou pelo
tratamento após palestra
(Foto: Denise Gomes / G1 SE)
“A palestra foi muito esclarecedora e decidi recomeçar o tratamento. Desta vez foi tudo muito diferente, pois minha nutricionista montou um cardápio baseado em coisas que eu gosto de comer, além do mais, sempre há mudanças nele e assim não tenho uma rotina rígida como na primeira experiência. Já que é complicado ter que comer sempre a mesma coisa, mesmo que a dieta funcione, pois chega um tempo em que você se sente desestimulado e de certa forma refém daquilo. Acredito que foi por causa disso que meu tratamento não deu certo naquela época. Mas, agora estou muito satisfeita, já emagreci oito quilos e quero perder mais uns dez. Me sinto muito bem, pois como o que gosto em pequenas quantidades e até fazendo adaptações, assim não sofro tanto e me sinto estimulada a continuar progredindo”, afirma a estudante Luísa Amaral.
Para Luísa a melhora não tem sido somente na parte física, mas também a auto-estima aumentou e muito. “Sempre fui muito tímida e não conseguia me relacionar bem com as outras garotas por causa do meu tipo físico. Agora a realidade é outra, me gosto mais, minha auto-estima melhorou muito, me relaciono melhor com meus amigos, adoro sair e estar com eles. Mas, todo esse progresso deve-se também ao apoio que recebo da minha família, em especial da minha mãe que sempre me dá força e até das minhas amigas, onde sempre que estamos no shopping ou em outro lugar, ficam me controlando para que eu não me esqueça da dieta. Aconselho a todos aqueles que sentem que precisam mudar seus hábitos que o façam, que procurem o apoio dos pais e de profissionais como nutricionistas, endocrinologistas, entre outros, pois a mudança é muito positiva e os resultados logo aparecem, sejam fisicamente ou internamente”, enfatiza a adolescente.
A psicóloga Edel Ferreira realiza um trabalho específico com crianças em tratamento (Foto: Denise Gomes / G1 SE)A psicóloga Edel Ferreira realiza um trabalho
específico com crianças em tratamento
(Foto: Denise Gomes / G1 SE)
Como complemento do tratamento clínico o apoio psicológico de um profissional também pode fazer a diferença para elevar a auto-estima e tornar todo o processo mais fácil para as crianças. É o que aponta a psicóloga Edel Ferreira. “A obesidade tem muito haver com a ansiedade e é desta forma que o trabalho psicológico deve ser feito para controlar essa necessidade de suprir algo que está faltando. Pois, quando se trata de ganho de peso, na maioria dos casos crianças e jovens buscam suprir sua ansiedade e até frustrações se alimentando de maneira inadequada, abusando da quantidade. Outro ponto importante, é que a obesidade influencia muito na auto-estima, pois a criança se sente muitas vezes inferior aos colegas, fora dos grupos, devido à dificuldade de se relacionar e de acompanhar as atividades dos demais. Isso também deve ser trabalhado para que a mudança não seja somente na parte física, mas sim para que a auto-estima da criança seja fortalecida”, destaca.
Para Edel, a auto-estima é o fator determinante para o sucesso do tratamento. “É preciso garantir alternativas para que esta criança se interesse em realizar outras atividades, com isso ela acabará se desvinculando da necessidade quase que permanente de se alimentar em excesso. Além do tratamento com o nutricionista, o acompanhamento do pediatra, o apoio psicológico deve fortalecer essa mudança de hábitos e fazer com que a auto-estima seja elevada, pois se ela se gostar e ter a sensibilidade de perceber o quanto essa mudança está sendo positiva para sua vida, muitas coisas boas virão e principalmente o medo de se relacionar com os demais, seja por vergonha ou não aceitação, será cada vez menor, proporcionando também uma melhora gradativa no tratamento como um todo”, afirma.

Nenhum comentário:

Postar um comentário