Segundo Agência Ambiental dos EUA, óleo não tem vantagens verdes.
Governo, Petrobras e Vale investem na planta para geração de biodiesel.
Cultura de palma está em expansão no Brasil;
produção de biodiesel estimula crescimento
(Foto: Agência Petrobras)
O óleo de palma, mais conhecido no Brasil como dendê, é uma das apostas brasileiras para produção de biodiesel. Uma área já desmatada de até 318 mil km² (maior que o Rio Grande do Sul), localizada principalmente na região Norte, poderia ser ocupada pelo cultivo, de acordo com zoneamento agroambiental feito pela Embrapa. Petrobras, Vale e o governo federal, através do Programa de Produção Sustentável de Óleo de Palma, estão envolvidos na iniciativa.produção de biodiesel estimula crescimento
(Foto: Agência Petrobras)
No entanto, as vantagens verdes do produto foram colocadas em xeque pela Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (EPA, na sigla em inglês), que avaliou a emissão de CO2 no processo de produção, principalmente no desmatamento que pode ser gerado devido ao aumento a área plantada.
“A análise da EPA mostra que o biodiesel e o diesel renovável produzidos a partir do óleo da palma (...) não se qualificam para os requisitos mínimos de redução de 20% das emissões de gases de efeito estufa [em comparação com o petróleo bruto]”, diz comunicado da agência publicado em 27 de janeiro.
Demanda
A afirmação da EPA se baseia em um estudo que analisou a expansão mundial da palma para suprir o aumento da demanda dos EUA por biodiesel.
“O cenário projeta que Indonésia e Malásia serão os principais provedores de óleo de palma para biodiesel e que regiões na África, Tailândia e América Latina contribuiriam com volumes menores”.
Na Indonésia e na Malásia, o crescimento da produção de palma ocasionaria um aumento de áreas plantadas de cerca de 1 mil km², segundo a EPA. “Projetamos que 80% dessa área são florestas e áreas mistas [florestas e campos ou pastos]”, afirma o órgão ambiental.
Assim, o desmatamento aumentaria a pegada de carbono do biodiesel de óleo de palma. Além disso, a EPA avaliou de modo negativo a emissão de carbono pelos resíduos gerados no processo de produção do biodiesel.
Segundo o ministério do Desenvolvimento Agrário, a expansão da produção de palma no Brasil será feita com “desmatamento zero” e não vai gerar impacto ambiental.
“A nossa primeira preocupação é proibir o desmatamento. Não queremos que nosso programa ocorra na mesma ótica de programas como os da Ásia (...) Não podemos deixar que [o plantio da palma] prejudique a biodiversidade”, afirmou Marco Antonio Viana Leite, coordenador geral de biocombustíveis do ministério. Para ele, o plantio de palma ajudaria a evitar o desmatamento, pois forneceria alternativa de renda em áreas ameaçadas, aliviando a pressão à floresta.
De acordo com Alexandre Alonso, pesquisador da Embrapa Agrocologia, “a expansão [da palma] no Brasil vem sendo apoiada por estudos prévios, como o de zoneamento agroecológico”. A área identificada, com 318 mil km², foi desmatada até 2008 e poderia receber o plantio do dendê sem prejuízo para as matas nativas, segundo o governo.
A plantação da palma fora das áreas identificadas é proibida. Além disso, para obter financiamentos públicos é preciso ter a propriedade regularizada e reserva legal.
Mudas da Petrobras, que vai investir R$900 milhões
e pretende produzir até 420 mil toneladas de biodiesel
de palma até 2018 (Foto: Agência Petrobras)
Produçãoe pretende produzir até 420 mil toneladas de biodiesel
de palma até 2018 (Foto: Agência Petrobras)
O investimento da Petrobrás na geração de biodiesel de palma é de R$ 900 milhões. A estatal estima que vai produzir anualmente 420 mil toneladas do biocombustível até 2018, quando toda sua capacidade estiver instalada, segundo sua assessoria de imprensa.
A Vale – que comprou em 2011 uma das maiores empresas do setor, a Biopalma - também aposta no biodiesel de palma. Ela pretende investir US$ 633 milhões para colocar em funcionamento cinco fábricas extratoras do óleo, com capacidade de produção de até 360 mil toneladas a partir de 2015. O biodiesel seria usado para abastecer as operações da mineradora na região Norte, como locomotivas e equipamentos.
Já o Programa de Produção Sustentável de Óleo de Palma, voltado para a agricultura familiar, prevê dobrar a área plantada e a produção nos próximos dois anos, atingindo 240 mil hectares e 4,3 milhões de toneladas. Por enquanto, toda a produção é destinada para geração de óleo comestível. Mas o biodiesel também é um componente importante do projeto, de acordo com Viana Leite, do ministério de Desenvolvimento Agrário.
A Embrapa também atua na área do dendê. Ela realiza pesquisa sobre o aprimoramento genético da planta, além de produzir sementes para a expansão do cultivo. De acordo com Alonso, a demanda é cada vez maior. Somente em 2011, foram cerca de 1,5 milhão de sementes, um aumento de 65% em relação a 2010. Em 2012, a expectativa é de elevar a produção para 2 milhões, segundo a unidade da Embrapa de Manaus.
União Europeia
As críticas ao biodiesel de óleo de palma não vêm apenas da EPA. A versão online do jornal britânico "Guardian" publicou em 27 de janeiro dados de um documento vazado da União Europeia que dizem que a produção emite mais CO2 que o petróleo bruto. A análise também leva em conta o desmatamento.
A Petrobras, a Vale e o Programa de Produção Sustentável de Óleo de Palma, juntos, devem atingir uma área plantada de cerca de 6,3 mil km² (equivalente a três cidades de São Paulo) em 2018, triplicando a extensão atual.
Um dos principais atrativos para o plantio é sua alta produtividade. Enquanto a soja produz em torno de 500 kg a 600 kg de óleo por hectare, a palma gera até dez vezes mais, entre 5 mil a 6 mil kg, explica Alonso, da Embrapa.
“No Brasil, os projetos da Petrobras Biocombustível estão sendo implementados de forma que todo o processo produtivo -- da matéria-prima à produção industrial -- siga padrões de sustentabilidade baseados em princípios internacionais. (...) Eles estão alinhados às discussões mais atuais e foram elaborados com base na legislação brasileira, no posicionamento de órgãos de defesa do meio ambiente e de governos de vários países”, afirmou a Petrobras, em nota.
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