MEDIÇÃO DE TERRA

MEDIÇÃO DE TERRA
MEDIÇÃO DE TERRAS

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Empresas brasileiras vão ao Acre contratar imigrantes haitianos

 

Imigrantes no estado aguardam autorização para trabalhar no Brasil.
Falta de mão de obra atrai empresas de Santa Catarina e Minas Gerais.

Ligia Guimarães Do G1, em São Paulo
Nos próximos dias, 40 haitianos que estão no Acre deverão fazer uma longa viagem de ônibus até a região de Cuiabá, em Mato Grosso, para trabalhar como ajudantes de pedreiro em um canteiro de obras da construtora mineira Urb Topo Engenharia, cuja sede fica em Contagem (MG). Para recrutá-los, o gerente de recursos humanos da construtora, Frederico Morais, passou três dias em Brasileia, cidade que se especializou em acolher os haitianos que, desde o ano passado, chegam ao Brasil em busca de emprego e melhores condições de vida depois do terremoto devastou o país e deixou mais de 250 mil mortos há exatos dois anos.
"Quando vimos reportagens sobre essas pessoas que precisavam de emprego, pensamos no projeto", afirmou ao G1 por telefone Morais, que diz que a ideia é vantajosa porque alia a oportunidade de ajudar os refugiados a uma solução para parte do problema de escassez de mão-de-obra que atinge o setor da construção civil.
Cerca de 900 haitianos estão em Brasileia, no Acre, à espera de documentos para morar e trabalhar no Brasil
O executivo ligou para o governo do Acre no dia 2 de janeiro em busca de orientação. Dias depois estava na praça central de Brasileia, onde sondava,  um a um, os imigrantes que aguardam documentação para regularizarem-se no Brasil com a seguinte proposta: salário de R$ 817, carteira de trabalho assinada, moradia e alimentação.
"O que daremos a eles são os mesmos direitos que damos aos funcionários brasileiros da mesma categoria", afirma o gerente, que voltou da viagem com uma avaliação positiva da experiência. "Eles são tranquilos, alegres, falam espanhol, francês e crioulo. Alguns falam português fluentemente", conta.
A iniciativa da construtora não é isolada. O secretário de Justiça e Direitos Humanos do Acre, Nilson Mourão, estima que 2,7 mil haitianos já entraram no Brasil pelo Acre em busca de emprego desde fevereiro do ano passado. Destes, cerca de 900 continuam em Brasileia à espera da documentação para o trabalho: CPF e carteira de trabalho.
O interesse das empresas nos imigrantes nunca foi tão grande, de acordo com a secretaria; uma empresa de Porto Alegre está no Acre para recrutar 10 funcionários haitianos; outra companhia do próprio Acre procura 50 para atuarem em Cuiabá; um empresário de Viçosa (MG) quer dez maçariqueiros e dez soldadores vindos do Haiti.
Localização de Brasileia (Foto: Editoria de Arte/G1)
Banco de talentos e fiscalização
Segundo Mourão, a maior parte dos trabalhadores que entrou no Brasil pelo Acre no ano passado foi absorvida para trabalhar nas obras das usinas de Jirau e Santo Antônio, no estado vizinho Rondônia, e na Porto Velho, onde o setor de construção civil está aquecido.
"Eles chegavam em grupos espontâneos mas nenhum para ficar no Acre, o sonho deles para trabalhar é São Paulo. E acontece o efeito "vai na frente, chama parente": eles encontram oportunidades e vão chamando outros", diz o secretário, responsável por coordenar a estrutura que o governo do estado preparou para apoiar os trabalhadores haitianos.
Segundo o secretário, a procura das empresas por funcionários haitianos cresceu tanto que uma equipe da secretaria vai para a Brasileia nesta sexta-feira (13) para começar montar uma espécie de banco de dados informal com os nomes e profissão de cada haitiano que está em Brasileia.  “Assim as empresas virão e já saberão quem está aqui. Assim não fica aquele tumulto, aquele recrutamento em praça pública como acontece agora".
Outro plano da secretaria é pedir que o governo federal ajude a fiscalizar como estão as relações trabalhistas entre as empresas e os haitianos que já foram contratados para trabalhar em outros estados; o pedido deverá ser feito na próxima quarta-feira (18), quando uma equipe do governo federal irá ao Acre para formalizar o acordo de assistência aos imigrantes no estado.
Entrada no país
Em Brasileia, os haitianos recém-chegados recebem alimentação, hospedagem (em pousada onde cabem até 80 pessoas, precariamente", e assistência médica. Eles fazem exame para detectar Aids, cólera e outras doenças, além de tomar vacinas contra hepatite, tétano e febre amarela.
Nesta quinta-feira (12), o Conselho Nacional de Imigração, órgão ligado ao Ministério do Trabalho, aprovou nesta quinta-feira (12) a concessão de 1.200 vistos por ano para haitianos que pretendem migrar para o Brasil. O documento, válido por cinco anos, dá direito de o estrangeiro trabalhar e trazer a família para o país pelo mesmo período.
Custo, adaptação e decepçãoÉrico Tormem, diretor do grupo catarinense que fabrica piscinas de fibra de vidro Fibratec, foi o primeiro a contratar haitianos entre julho e setembro do ano passado, quando levou 25 do Acre para trabalharem em Chapecó.
Destes, 11 já saíram da empresa: alguns porque não se adaptaram ao trabalho. Mesmo assim, Tormem avalia a experiência como positiva e diz que pretende contratar até mais 20 pessoas vindas do Haiti, tão logo a documentação delas seja autorizada. "Parece que hoje já foram liberados mais sete, estamos esperando", diz.
Ele diz que o custo por trabalhador ficou mais barato para a empresa e, de julho do ano passado para janeiro deste ano, caiu de R$ 1500 para R$ 850 por funcionário haitiano. Ele estima que, de lá para cá, a empresa tenha investido um total de R$ 45 mil. "Montamos casas "onde os funcionários se organizam em repúblicas), compramos mobília, roupa de cama, cobertor".
Tormem diz que os trabalhadores haitianos em geral são educados e têm a prioridade de mandar dinheiro para suas famílias que ficaram no país ou na República Dominicana. Os salários oferecidos no Brasil, diz Tormem, costuma decepcioná-los. "Eles chegam pensando em ganhar algo entre US$ 1500 e US$ 2000. Eu estava conversando com um que trabalha conosco ontem e ele diz que a família dele pensa que ele está gastando o dinheiro aqui no Brasil em festas, porque ele consegue mandar bem menos do que esperava", conta o empresário, que oferece aos haitianos salário de R$ 850, mais adicional de insalubridade de 20% e uma cesta básica. A preferência da empresa é por haitianos que falam espanhol e tenham entre 27 e 35 anos.
"Eu acho que como o mundo está globalizado, não tem por que globalizarmos a relação com as pessoas também. Era preciso ter leis mais rígidas, e o Brasil apoiá-los para que não haja excesso de imigração, mas não podemos fechar as portas para eles", diz Tormem.

Nenhum comentário:

Postar um comentário