MEDIÇÃO DE TERRA

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MEDIÇÃO DE TERRAS

sábado, 7 de janeiro de 2012

Devastada depois de temporal, Guidoval tenta se reerguer

 

Moradores viram pela janela carros e móveis boiando na enchente.
Comerciantes tiveram prejuízos que chegam a R$ 300 mil.

Alex Araújo Do G1 MG, em Guidoval
Amontoados de lixo e restos de móveis são enconttrados nas ruas de Guidoval (Foto: Alex Araújo/G1)Amontoados de lixo e restos de móveis são encontrados nas ruas de Guidoval (Foto: Alex Araújo/G1)
Devastação, destruição, isolamento, lama, mau cheiro, prejuízos. Este é o cenário encontrado neste sábado (7), em Guidoval, na Região da Zona da Mata, em Minas Gerais. A cidade foi atingida pela cheia do Rio Xopotó, na última segunda-feira (2), depois de um temporal. A força da água levou imóveis, veículos, mobílias, alimentos e muita sujeira para dentro da cidade. Um cheiro de esgoto está impregnado no ar. Apesar do esforço da prefeitura, há muita sujeira nas ruas do Centro. Nem o vice-prefeito, Fernando Tadeu Gonçalves soube dizer em quanto tempo a cidade conseguirá voltar ao normal.
Casa é praticamente destruída pela força da água da enchente (Foto: Alex Araújo/G1)Casa é praticamente destruída pela força da água da enchente (Foto: Alex Araújo/G1)
“Nós [a prefeitura] fizemos um planejamento, por metas, com a Defesa Civil e a prioridade é retirar o lixo das ruas. Nossa preocupação é porque há previsão de chuva para hoje e amanhã [domingo (8)]. Precisamos limpar o máximo que pudermos”, explicou o político. De acordo com ele, os desalojados estão abrigados temporariamente em uma escola e em um salão paroquial. Com relação à reconstrução do município, Gonçalves disse que já enviou ao governo do estado um documento pedindo auxílio financeiro. “Sem a ajuda do governo, Guidoval não tem como se reerguer porque a maioria das empresas foi destruída e não tem como gerar renda”.
 
Ainda segundo ele, a destruição causada pelas águas do Rio Xopotó não veio apenas da chuva. Ele alegou que as comportas de uma barragem em Ervália liberou um grande volume de água, o que trouxe a devastação.
Devastação sentida pelos irmãos Gerson Occhi, de 69 anos; Solange de Mendonça Occhi Moreira, de 63; e Dorotéa Mendonça Occhi, de 52. Eles moram em Juiz de Fora, também na Zona da Mata mineira, mas têm uma casa em Guidoval para descansar. “Fomos embora daqui no dia 1º de janeiro e tudo isso aconteceu no dia 2”, disse Occhi.
Só restou a fachada de casa destruída pela inundação (Foto: Alex Araújo/G1)Só restou a fachada de uma casa destruída pela
inundação (Foto: Alex Araújo/G1)
Solange relatou que os vizinhos disseram que viram pela janela, carros e móveis boiando na enchente. Na casa dela, foram perdidos três guarda-roupas, poltronas, cômoda, roupas e alimentos. “Eu tive que jogar fora 200 livros que a gente tinha em uma pequena biblioteca aqui em casa”, completou Occhi. Os irmãos mostraram o quintal onde ficaram agarrados, em uma jabuticabeira, plantas, alimentos, madeiras e até uma caixa d’água, além de lixo. “Ali tem um pufe e umas cadeiras que eram de um salão [de beleza] que fica aqui perto”, disse Solange.
Já o taxista Gilmar Cândido da Trindade, de 50 anos, teve prejuízo duplo. A força do transbordamento do Rio Xopotó destruiu parte do táxi dele e do bar que ele tem com o irmão Carlos Roberto da Trindade, de 56 anos. O veículo foi arrastado na Rua Padre Baião por aproximadamente 100 metros, e só foi parar na varanda de uma casa.
Fábio Pereira teve um prejuízo de R$ 300 mil (Foto: Alex Araújo/G1)Fábio Pereira teve um prejuízo de R$ 300 mil
(Foto: Alex Araújo/G1)
O lamaçal também atingiu o comércio deles que funcionava há dez anos na Praça Santo Antônio. “Perdemos balas, chicletes, biscoitos, chocolates e pastilhas. O maquinário ainda não sabemos como vai ficar”, disse Carlos Roberto. “O prejuízo gira em torno de R$ 8 mil”, completou Gilmar. Com o táxi estragado, ele acredita que terá de pagar um conserto de R$ 4 mil.

Prejuízo ainda maior teve Fábio Pacheco Pereira, de 61 anos, que tinha um supermercado há 18 anos. Ele calcula que as perdas cheguem a R$ 300 mil. “Só de arroz e feijão eu perdi 100 fardos de 30 quilos cada um”. Todo o estoque de seu Fábio, que ficava nos fundos, perto do Xopotó, foi levado pela correnteza. “Oitenta botijões de gás foram levados”, disse, apontando o dedo para o rio.

“A minha mulher está desesperada e não quer mais mexer com comércio. Mas eu acho que vou ficar com um quarto do imóvel, com um comércio menor, e alugo o resto do espaço”, disse, referindo-se à reabertura da mercearia. Ele ainda contou que perdeu sete congeladores e mais de 900 quilos de carne.
Outro comerciante, Edgar da Silva, de 46 anos, também é dono de um supermercado e falou que teve um prejuízo de aproximadamente R$ 280 mil. Ele perdeu muita mercadoria e não sabe quando conseguirá se reabilitar profissionalmente. “Se eu não tiver uma ajuda do governo para pegar um dinheiro emprestado e pagar a juros baixos, não sei se vai dar para reabrir”, disse, emocionado. Ele tem boletos para pagar que, somados, dão mais de R$ 30 mil.
Jaqueline, Rúbia e Alexsandra são algumas das voluntárias que ajudam em Guidoval (Foto: Alex Araújo/G1)Jaqueline, Rúbia e Alexsandra são algumas das
voluntárias  (Foto: Alex Araújo/G1)
Solidariedade
Com tanta preocupação, prejuízos e incertezas, a solidariedade ainda fala mais alto. Um grupo de 20 pessoas está apoiando com a distribuição de cestas básicas, água mineral, roupas, produtos de limpeza e alimentos. As amigas Núbia Pereira de Souza, de 31 anos; Alexsandra Aparecida Miranda, de 30; e Jaqueline Occhi, de 26; trabalham em uma garagem na Rua Padre Baião, ao lado da agência dos Correios, na separação e entrega dos produtos. De acordo com elas, as doações chegam de Ubá e região.

O mais impressionante é que Núbia, apesar de não ter a casa derrubada pela enxurrada, perdeu tudo o que tinha, mas preferiu seguir na ajuda aos mais prejudicados. “Graças a Deus a minha família tem como conquistar tudo de novo, mas aqui em Guidoval tem muita gente pobre, que precisa de ajuda”, comentou. “Somos amigas de sair para beber uma cerveja e decidimos nos unir nesta hora difícil para ajudar a quem precisa”, complementou Jaqueline.
Lixo levado pela enxurrada ficou nas grades das janelas desta casa (Foto: Alex Araújo/G1)Lixo levado pela enxurrada ficou nas grades das janelas desta casa (Foto: Alex Araújo/G1)
Exército
O Exército está em Guidoval para ajudar também. De acordo com o tenente Alan Diniz, 35 homens vieram de Itajubá, na Região Sul de Minas, e dois de Juiz de Fora, na Zona da Mata.
Diniz contou que eles foram acionados para que uma ponte provisória fosse construída sobre o Rio Xopotó, para a passagem de pedestres. A estrutura foi montada nesta sexta-feira (6).
Ainda segundo o tenente, além da passarela construída e da vigília nas duas entradas dela durante 24 horas por dia, não há outra demanda para a corporação. Ele disse que não há previsão de quantos dias os militares ficarão em Guidoval.
Moradores de Guidoval recebem donativos (Foto: Carlos Alberto/ImprensaMG)Moradores de Guidoval recebem donativos
(Foto: Carlos Alberto/ImprensaMG)
Governo de Minas
De acordo com a Secretaria de Comunicação do governo de Minas, 15 ações foram planejadas para minimizar os danos. A distribuição de donativos foi intensificada e a limpeza de ruas e praças e o serviço de manutenção de estradas que dão acesso ao município continuam.
Neste sábado (7), o posto de comando da Defesa Civil foi transferido para o prédio da Prefeitura de Guidoval. De acordo o secretário-executivo da corporação, coronel Eduardo Reis, a mudança trará mais segurança e agilidade aos trabalhos. “Com essa transferência, vamos melhorar a qualidade do atendimento à população”, disse.

Segundo a gestora municipal de Assistência Social, Célia da Cruz Alvim, cerca de 1,5 pessoas foram cadastradas pelas equipes de Defesa Civil para receber cestas básicas, material de limpeza, kit higiene, roupas e colchões. “Essas pessoas têm atendimento prioritário porque sofreram com a enchente. Porém, estamos distribuindo para a população, independentemente de cadastro, roupas, água e leite”, explica.
Situação de emergência
O número de municípios que decretaram situação de emergência subiu para 103 em Minas Gerais neste sábado (7), de acordo com a Coordenadoria de Defesa Civil do estado. As últimas cidades que passaram a integrar o balanço do órgão são: Canaã e Jequeri, na Região da Zona da Mata, e Baldim e Itaguara, na Região Central.
De acordo com a Defesa Civil de Minas Gerais, 12 pessoas já morreram no estado desde o começo do período de chuvas, em outubro. Os novos casos confirmados foram registrados em Governador Valadares, no Vale do Rio Doce, em Guaraciaba, na Zona da Mata, e em União de Minas, no Triângulo Mineiro.
Segundo o órgão, duas pessoas estão desaparecidas: uma em Santo Antônio do Rio Abaixo e outra em União de Minas. No total, 157 municípios foram atingidos pelas tempestades durante o período, afetando mais de 2,1 milhões de pessoas. Destas, 11.939 pessoas estão desalojadas e outras 906 estão desabrigadas. Até esta sexta-feira (6), 128 casas e 143 pontes foram destruídas.

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