MEDIÇÃO DE TERRA

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sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Autores suspendem estudo polêmico de gripe aviária por 2 meses


Pausa voluntária tem objetivo de dar tempo para debates.
EUA temem que mutação do vírus H5N1 seja usada por bioterroristas.

Do G1, em São Paulo
Os cientistas que conduzem um estudo sobre a transmissão do vírus da gripe aviária (H5N1) anunciaram nesta sexta-feira (20) que vão suspender a pesquisa por dois meses. A pausa nos trabalhos é voluntária, de acordo com a carta publicada pelas revistas científicas "Nature" e "Science".
A pesquisa liderada por Ron Fouchier, do centro médico Erasmus, da Holanda, se tornou polêmica devido ao medo de que ela possa ser usada por bioterroristas.
"Estamos cientes de que organizações e governos em todo o mundo precisam de tempo para achar as melhores soluções para as oportunidades e os desafios que derivam do trabalho. Para dar tempo para essas discussões, concordamos com uma pausa voluntária de 60 dias em qualquer pesquisa envolvendo os vírus altamente patogênicos H5N1 da gripe aviária, levando à geração de vírus que são mais transmissíveis em mamíferos", disseram os pesquisadores na carta.
Histórico
Em setembro, a equipe anunciou a criação de uma mutação do H5N1, que teria a capacidade de ser transmitido entre mamíferos, para suas análises. Esse vírus já matou 340 pessoas no mundo. O trabalho foi encaminhado para publicação na "Science" e também na "Nature" – passo necessário para o reconhecimento da pesquisa pela comunidade científica.
Em 30 de novembro, no entanto, o Painel Consultivo sobre Biossegurança dos Estados Unidos (NSABB, na sigla em inglês) pediu que as revistas omitissem detalhes sobre a metodologia científica do trabalho que permitiriam que ele fosse copiado, por questões de segurança.
Desde então, as duas publicações estudam como e se vão divulgar o estudo. Na época, a "Science" disse que compreendia o pedido do painel, mas que estava preocupada “por censurar informação potencialmente importante para a saúde pública”.
Ao compararmos o nível de ameaça atual imposta pelo bioterrorismo com nossa experiência passada com a ameaça do vírus da gripe, nós acreditamos que a própria natureza pode ser considerada a principal bioterrorista."
Ron Fouchier, Sander Herfst e Albert Osterhaus, do centro médico Erasmus
Na quinta, os autores tinham publicado uma carta defendendo a publicação do trabalho com todos os detalhes. Nesse artigo, Fouchier e seus colegas afirmam que sua pesquisa é importante porque “as recomendações sobre os riscos do vírus HPAI H5N1 causar uma pandemia mundial são baseadas apenas em opiniões, não em fatos”.
“Nosso trabalho na transmissão aérea do vírus HPAI H5N1 foi feito de maneira completamente aberta e a decisão de realizar esse trabalho foi tomada após consultas sérias nos níveis local, nacional e internacional”, diz o texto. O artigo detalha as condições de segurança dos laboratórios.
Os autores dizem que respeitam o pedido do NSABB, embora não concordem com ele. “A recomendação da NSABB de restringir a publicação de resultados de pesquisa é sem precedentes e um desvio enorme das práticas comuns das ciências da vida”, afirma o texto.
“Ao compararmos o nível de ameaça atual imposta pelo bioterrorismo com nossa experiência passada com a ameaça do vírus da gripe, nós acreditamos que a própria natureza pode ser considerada a principal bioterrorista”, diz o grupo.
Não é através do medo que vamos parar uma pandemia de H5N1. A busca do conhecimento é o que tornou os humanos resistentes"
Daniel Perez, Universidade de Maryland
Defesa
A “Science” também publicou nesta quinta outros três artigos sobre o assunto. Em um deles, o argentino Daniel Perez, do departamento de Medicina Veterinária da Universidade de Maryland, defende a execução de pesquisas sobre a gripe aviária e a publicação de seus resultados.
Segundo o cientista, a pandemia de influenza de 2009, do vírus da gripe A (H1N1) foi causada, “entre outros fatores, porque não tínhamos um entendimento completo do que faz uma linhagem de influenza se tornar transmissível a humanos”.
“Ainda não sabemos se um vírus H5N1 que tenha conseguido a capacidade de ser transmissível pelo ar em aves pode ser transmitido da mesma maneira em humanos. Não sabemos se o potencial existe, mas não é através do medo que vamos parar uma pandemia de H5N1. A busca do conhecimento é o que tornou os humanos resistentes, uma espécie capaz de superar nossos piores medos”, diz Perez.
As linhagens que circulam atualmente do H5N1, com sua mortalidade em humanos estimada entre 30% e 80%, colocam esse patógeno na categoria de uma das doenças infecciosas humanas mais mortais conhecidas"
Michael Osterholm, Universidade de Minnesota, e Donald Henderson, Universidade de Pittsburgh
Acusação
Em outro artigo, Michael Osterholm, da Universidade de Minnesota, e Donald Henderson, da Universidade de Pittsburgh, defendem a posição da NSABB.
Para eles, “a publicação de detalhes de pesquisas recentes envolvendo a transmissibilidade da influenza aviária apresenta muito mais riscos do que qualquer benefício que possa trazer”.
A dupla diz considerar os méritos possíveis da divulgação desses resultados, mas acredita que um fato precisa ser levado em consideração: “as linhagens que circulam atualmente do H5N1, com sua mortalidade em humanos estimada entre 30% e 80%, colocam esse patógeno na categoria de uma das doenças infecciosas humanas mais mortais conhecidas.”
Intervenção governamental
Por fim, em seu artigo, John Kraemer e Lawrence Gostin, da Universidade Georgetown, criticaram a “intervenção governamental na ciência”.
Para eles, um “processo de revisão institucional transparente vai equilibrar a liberdade científica com a segurança nacional de maneira melhor do que restrições a publicações”.

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