MEDIÇÃO DE TERRA

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MEDIÇÃO DE TERRAS

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Sem opções para presentear, casal cria empresa de brinquedos científicos

 

Dupla buscava alternativas mais educativas para filhos.
Projeto fornece brinquedos que ensinam física e matemática.

Mário Barra Do G1, em São Paulo
A fórmula de comprar boneca para garotas e carrinhos para meninos pode parecer a escolha mais segura no Natal, mas o Brasil já tem opções para pais mais exigentes. Em Florianópolis, um desses casais criou a própria empresa de brinquedos científicos, após se cansar de buscar alternativas para os filhos.
“Nas lojas convencionais, era sempre a mesma coisa: 'Barbie' para meninas, 'Hot Wheels' para meninos”, disse Djali Valois, de 39 anos, que fundou o projeto Mentes Brilhantes com o marido em 2009.
A dupla só conseguiu ter em mãos os primeiros brinquedos após desistir da ideia de fabricá-los no Brasil. Após receberem um prêmio da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) do Ministério da Ciência e Tecnologia, eles firmaram uma parceria com um fornecedor em Taiwan e receberam o material para venda apenas em dezembro de 2010.
Brinquedo que simula a perfuração do solo em busca de petróleo.  (Foto:  Divulgação)Brinquedo que simula a perfuração do solo em busca de petróleo. (Foto: Divulgação)
O catálogo de quase 30 itens inclui carrinhos elétricos, barcos movidos a energia solar e até pequenas “usinas” hidrelétricas. Tudo montado com peças que podem gerar outros brinquedos e incentivam o aprendizado de conceitos como velocidade, energia eólica e solar e geometria. Os preços variam entre R$ 50 a até R$ 500.
Ainda que o foco principal seja no atendimento de escolas, a empresa coloca seus produtos à venda por site em internet e Djali não descarta, no futuro, a venda em lojas especializadas.
“Talvez no ano que vem entremos para o ramo de brinquedos educativos”, afirma a proprietária.
Atualmente, o catálogo é voltado apenas para as áreas de física e matemática. Mas Djali afirma que o objetivo é expandir o negócio para englobar outras disciplinas “espinhosas” para estudantes como astronomia, química e biologia. “A campeã de vendas é uma balancinha que ensina a fazer contas de somar, subtrair. Os pequenos adoram”, diz.
Sobre o interesse infantil, Djali conta a experiência que teve com a própria filha, de nove anos. “No começo, ela tinha um pouco de dificuldade para entender”, lembra a mãe. “Hoje ela já está acostumada com o material e me dá um banho na hora de montar. Fica falando: 'não, mamãe, aí a engrenagem não vai funcionar'.”
Barquinho movido a energia gerada por células fotovoltaicas. (Foto: Divulgação)Barquinho movido a energia gerada por células fotovoltaicas. (Foto: Divulgação)
Do Cern para a pedagogia
Outra que se encantou com os brinquedos da Mentes Brilhantes foi a física brasileira Rafaela Lamy-Peronnet, que hoje exerce o papel de consultora pedagógica na empresa.
Especializada em educação e divulgação de ciência, ela morou seis anos na Europa e chegou a trabalhar no Centro Francês de Pesquisas Científicas (Cern) – responsável pelo maior “brinquedo” já criado por cientistas, o Grande Colisor de Hádrons (LHC).
De volta ao Brasil, ela ajuda professores e pais interessados a usarem os brinquedos na sala de aula ou em casa. “A gente definitivamente não quer nossos produtos largados em uma prateleira de supermercado”, afirma. “Nós queremos ir até as escolas, conhecer os pais, eles precisam se encantar com o brinquedo antes de ajudar os filhos.”
Ao criar o material pedagógico para crianças até a 8ª série, Rafaela sabe do potencial que um brinquedo pode ter para introduzir os jovens no mundo da ciência.
“Você não vai usar aquilo para ensinar ciência formal a elas, a ideia é que os meninos entendam relações de causa e efeito e possam saber como enfrentar um problema”, afirma.
Crianças brincam com carrinho capaz de se mover com ar ou com água. (Foto: Divulgação)Crianças brincam com carrinho capaz de se mover com ar ou com água. (Foto: Divulgação)
Seja mostrando como a energia eólica funciona com pequenas pás em um moinho de brinquedo ou como a inversão de polos pode fazer um motor elétrico girar ao contrário, os brinquedos ajudam as crianças a escapar dos caminhos formais de aprendizado e a serem iniciadas em qualquer tema.
“Assuntos que fogem do nosso mundo sensível são mais difíceis de abordar”, explica Rafaela. “Como você vai manipular a eletricidade? Não dá para contar ou apontar um fóton, mas dá para mostrar que a célula fotovoltaica faz mexer um motorzinho.”
Para a educadora, apesar de reconhecer os limites da criança, o adulto deve sempre incentivá-la – até mesmo com questões tão difíceis quanto relatividade ou física quântica. “Sou sempre otimista sobre a capacidade das crianças em aprender”, diz a física. “A gente não tem direito de exigir, mas o dever de propor.”
Rafaela ainda cita o acesso fácil à internet como uma forma das próprias crianças forçarem que escolas desenvolvam novas táticas de aprendizado. “Se a gente fosse trazer alguém do século 19 para os tempos de hoje, essa pessoa não iria reconhecer nada. Tudo seria diferente: bancos, igrejas, cidades. Menos a escola, que segue igual”, diz. “A ciência não é mais a mesma do passado. Já que o colégio não se mexe, as crianças vão traçar esse caminho de descoberta sozinhas.”

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