MEDIÇÃO DE TERRA

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MEDIÇÃO DE TERRAS

domingo, 23 de outubro de 2011

Trabalhadores de MT se qualificam em alimentos como porta à indústria

 

Disponibilidade de matéria-prima deve atrair mais indústrias para o estado.
Qualificação específica para segmento completa uma demanda reprimida.

Vivian Lessa Do G1 MT
Em 2008, ela concluiu um curso técnico voltado especificamente para atender o setor alimentício. (Foto: Vívian Lessa/G1 MT)Em 2008, ela concluiu um curso técnico voltado
especificamente para atender o setor alimentício.
(Foto: Vívian Lessa/G1 MT)
No momento em que o cenário mundial indica para um aumento de demanda por alimentos, os olhos de empresários e produtores estão voltados para Mato Grosso. Com a produção de matérias-primas em abundância, principalmente de grãos e carnes, o estado é uma rota em potencial para muitas indústrias. Agregar valor no produto cultivado em solo mato-grossense significa que a oferta de profissionais qualificados deve andar no mesmo ritmo. Para atender os mercados atuais e futuros, Mato Grosso precisa investir em tecnologia e, principalmente, na mão de obra.
Trabalhando há seis anos em uma grande empresa no segmento de bebidas, em Várzea Grande, Maria José Moreira, de 37 anos, teve o seu salário aumentado em cerca de 20% quando ela foi promovida do cargo de serviços gerais para analista da qualidade de alimentos. Em 2008, ela concluiu um curso técnico voltado especificamente para atender o setor alimentício. “A oportunidade surgiu e vi muitos colegas de trabalho ficarem pelo caminho. Eu decidi que poderia ir em frente”, revelou com orgulho. A estratégia para se destacar na carreira é resultado do esforço e vontade da trabalhadora em se qualificar profissionalmente em um mercado extremamente competitivo que necessita de pessoas qualificadas.
O segmento de alimentação se destaca neste quesito, já que o aumento da população mundial nas próximas décadas exigirá do agronegócio maior produção para fazer frente às demandas de consumo por alimentos e, consequentemente, as indústrias terão de aumentar o efetivo para atender o mercado. Sobra para Mato Grosso a responsabilidade de suprir esse necessidade. Levando em conta que, a produção do estado, somente de soja, seria a quarta maior do mundo se fosse trabalhada isoladamente do país.
Atualmente a produção da oleaginosa mato-grossense, principal grão comercializado internacionalmente pelo Brasil, é de 20 milhões de toneladas. Mas o estado já estima aumentar a produção para 30 milhões de toneladas de soja até 2020, segundo levantamento do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea). No ranking mundial de produção da oleaginosa, os Estados Unidos se destaca com 83 milhões de toneladas, seguido pelo Brasil com 73 milhões/t e pela Argentina com 50 milhões/t.
Capacitação aliada ao rendimento
É de olho nessa demanda crescente que a dedicação ao estudo é algo tratado familiarmente para o líder de produção de uma empresa que produz e comercializa alimentos derivados de grãos, em Cuiabá, Abnel Canavarros de Arruda, de 32 anos. Em agosto do ano que vem ele termina o curso, também no segmento de alimentos, e comemora que a teoria aprendida em sala de aula complementou a prática de seis anos e meio de profissão. “Quando entrei na empresa ganhava cerca de R$ 800 por mês, hoje recebo R$ 1,4 mil. Tudo porque resolvi voltar a estudar”.
A retomada aos estudos, após 12 anos sem tocar nos cadernos, veio com a necessidade de se despontar profissionalmente, ou seja, evoluir dentro da empresa. “Não queria ficar para trás e como a mão de obra qualificada está escassa enfrentei o receio de voltar os estudos”. Essa consciência, de acordo com Canavarros, é divida com a esposa e com os filhos. “Estou fazendo um curso técnico, em seguida, farei a graduação na área e minha esposa, que também trabalha no segmento alimentício, vai iniciar uma qualificação. Passo essa informação também para os meu filhos”.
Vale ressaltar que o ramo alimentício e de bebidas, que está em constante transformação em Mato Grosso, é responsável por empregar 43% do total de empregados captados pela setor industrial no estado. De acordo com os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) divulgados pelo Ministério de Trabalho e Emprego (MTE), nos primeiros nove meses deste ano foram contratados 23.784 trabalhadores neste segmento. O total registrado pelo setor industrial foi de 55.714 no mesmo período.
“Vagas para trabalhar na indústria de alimentos o estado tem a oferecer, falta qualificação profissional”, diz a gerente de Recursos Humanos de uma empresa, Elizabete Brito Garcias. Ela ressalta que somente na indústria onde trabalha, que já emprega 1,250 funcionários, há 180 vagas abertas com salários que variam de R$ 800 a R$ 6 mil dependendo do cargo. “A carência é muito grande, por isso, todo investimento de qualificação nos trabalhadores já empregados é fundamental”.
Para Enizet Teixeira de Amorim Oliveira, que trabalha na controladoria de uma empresa responsável por contratar cerca de 200 pessoas, a dificuldade está em selecionar novos profissionais qualificados e de manter aqueles que já estão contratados. “A concorrência é grande em relação ao trabalhadores que possem qualificação”. Desta forma, segundo ela, oferecer treinamentos, cursos e consultorias para os funcionários, tanto técnicos quanto comportamentais, e ainda desenvolver o plano de carreira, são maneiras de reduzir o problema da falta de trabalhadores.
Por iniciativa própria, Ronilson percebeu que podia mudar de profissão e, consequentemente ganhar mais. (Foto: Vívian Lessa/G1 MT)Por iniciativa própria, Ronilson percebeu que podia
mudar de profissão e, consequentemente, ganhar
mais. (Foto: Vívian Lessa/G1 MT)
E foi em uma dessas oportunidades incentivada pela empresa que trabalha, Ronilson Gonçalves da Silva, de 35 anos, percebeu a importância de se qualificar na área que já atuava, que é avaliar a qualidade dos alimentos. Prestes a ser técnico na atividade, ele conta que iniciou na empresa como auxiliar na estação de tratamento de água e que por iniciativa própria percebeu que podia mudar de profissão e, consequentemente, ganhar mais.
Ele terminará o curso técnico no fim deste ano e tem a certeza que todo o empenho está contribuindo para a carreira profissional. O gerente de qualidade de alimentos, Abilio José Martins, explica que existe uma parcela de trabalhadores, em evolução, querendo se qualificar. Ele concorda que a empresa deve incentivar o treinamento do pessoal já empregado. “Estimular a paciência e adaptar o funcionário em áreas com afinidades são opções para manter o profissional motivado para continuar na vaga e a se qualificar”.
Contra ponto: Responsabilidade é do empresário
A falta de trabalhadores qualificados em Mato Grosso está relacionada ao lento processo de industrialização do estado que ainda é focado na produção primária de alimentos. A necessidade de agregar valor ao que é produzido pelas indústrias incentiva a criação de novas vagas de trabalho. A grande demanda por profissionais qualificados, segundo o economista e professor da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), José Manuel Marta, ainda ocorre por culpa dos empresários que são tímidos em relação a fazer investimentos.
É fato que a disponibilidade de tecnologias e maquinários exigem trabalhadores com experiência. Mas o que poucos acusam, conforme o economista, é que a maioria das empresas mato-grossenses não está preocupada em qualificar os trabalhadores já contratados. “Para muitos é mais fácil contratar uma pessoa preparada de outros estados, do que investir naquele que já trabalha na empresa”. Ele ressaltou ainda que a disponibilidade de cursos recentes e específicos, como o de graduação em alimentos, não são valorizados pelas empresas. “Por mais que há alunos para preencher essas vagas, as empresas ainda não estão apostando neste profissionais formados”, avaliou.
O coordenador do curso de Qualidade dos Alimentos do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial de Mato Grosso (Senai-MT), Rubem Gauto, também reconhece esse cenário e acrescenta que muitos empresários acham não ser necessário contratar um profissional técnico ou graduado para atuar em determinadas áreas, como é o caso do curso de alimentos que chegam a ser confundidos com nutricionista, gastronomia, etc. Por outro lado, ele deixa claro que já despontam empresários que reconhecem que oferecer a qualificação para os funcionários é importante para o desenvolvimento da empresa.
Oportunidade
No Senai, nos últimos quatro anos foram qualificados 15.250 trabalhadores somente na área de alimentos da área técnica. “A medida em que as empresas reconhecerem esses cursos teremos aumento no número de alunos”, diz. Outro passo importante para a qualificação profissional é a aceitação do trabalhadores e patrões para os cursos de graduação. O Senai já adiantou o passo e abriu as inscrições para o primeiro vestibular da Faculdade de Tecnologia Senai-Cuiabá (Fatec). O prazo é de 17 de outubro a 18 de novembro, e os interessados podem procurar a unidade localizada na Avenida 15 de Novembro, em Cuiabá, para efetivar a inscrição.
A faculdade irá atuar, inicialmente, com foco na área de alimentos e terá vestibular para três cursos credenciados e autorizados pelo Ministério da Educação (MEC): Agroindústria, Processamento de Carnes e Laticínios, sendo 50 vagas para cada curso. A previsão de início das aulas é para fevereiro de 2012, e os cursos serão ofertados no período noturno.

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