MEDIÇÃO DE TERRA

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MEDIÇÃO DE TERRAS

domingo, 9 de outubro de 2011

Conheça uma RPPN: Reserva Particular de Patrimônio Natural

 

Pequenos territórios de preservação permanente que garantem a vida silvestre. No Amazonas são apenas 19 dessas reservas, todas perto de áreas urbanas.

Do Globo Rural
 Você vai conhecer reservas criadas nos diferentes biomas do Brasil. A primeira mostra uma área da Amazônia preservada há 17 anos, mas que só virou RPPN há três, em Manaus.
Imagine um imenso tapete verde, que daqui a uns anos estará limitado a algumas manchas. Ilhas de preservação. A ideia sempre preocupou dois homens: o farmacêutico Marcos dos Santos e o biólogo Antônio Webber. Eles queriam garantir que seu terreno fosse uma destas ilhas, livre da devastação. Por isso decidiram criar uma RPPN. No município de Manaus, a apenas 40 quilômetros do centro urbano, são 32 hectares de reserva particular.
“Um espaço para estudo e para pesquisa que vem sendo bem utilizado”, diz Marcos.
Enquanto a manutenção da reserva legal é obrigatória por lei, a criação da RPPN depende da vontade do dono da terra, que faz o pedido junto ao Ibama ou aos órgãos estaduais do meio ambiente. Uma vez criada, a RPPN não pode deixar de existir ou ter sua área diminuída, mesmo que seja vendida ou passe para o nome de herdeiros. A vantagem é que a área de reserva fica livre de desapropriações para fins sociais e isenta do pagamento do ITR, o Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural.
O passeio com Antônio Webber é uma aula. Em cada canto da floresta, a natureza dá lições de sobrevivência. “Nós temos uma planta que tem relação com as formigas. Elas ficam na base da folha, que é oca. Tem uma entrada e elas se criam lá dentro. Essas formigas em geral são muito agressivas. Quando vem algum herbívoro, elas atacam e o herbívoro vai embora”, explica Antônio.
A árvore conhecida como Macucu é a preferida pelas orquídeas. São tantas que muitas acabam caindo. No chão fica uma cama de folhas e frutos diversos. É assim que a floresta se reproduz, é daí que ela tira seu alimento, seus nutrientes.
Não é tão fácil como se imagina ver os animais da floresta. Muitos se assustam com a presença humana, outros só passeiam a noite.
Os morcegos são outra paixão do Marcos. De tempos em tempos ele recebe alunos de escolas pra visitar o singelo museu que montou na reserva. Entre os morcegos existem os hematófagos, que sugam o sangue de animais e podem transmitir a raiva, e os frugívoros, que se alimentam de frutas e são muito importantes pra natureza. Depois da visita, as crianças saem com uma ideia diferente sobre estes animais.
O dia vai acabando na reserva. É nessa hora que se vê os morcegos na natureza. O biólogo Leonardo Rosa monta as redes para captura. Pouco tempo depois, lá está o morcego enroscado. “Esse é frugívoro. Aqui são as fezes do morcego e a gente pode observar a grande quantidade de sementes, demonstrando a importância desses animais dentro da floresta”, mostra Leonardo.
O amanhecer é boa hora para observar os pássaros. É o que os pesquisadores João Vitor e Marconi Campos fazem. Eles colocam uma gravação do som de um beija-flor para atrair os pássaros da mesma espécie. “Temos um grande desafio de conservar essas espécies e documentar as espécies novas antes que elas sumam com a floresta que está sendo derrubada”, comenta João Vitor.
Derrubada e maltratada. Bem perto da reserva, onde tudo é voltado para a preservação, existem lugares onde é feita a extração de areia. É um cenário de total devastação. Em algumas já não há extração e, se a lei fosse cumprida, elas deveriam ter sido recuperadas. Num rápido sobrevoo na região, também é possível ver a criação de porcos. Os urubus rondam o lugar. O igarapé, que passa dentro da criação, sai do outro lado da cerca sujo e mal cheiroso.
Na época da primeira visita, da área da reserva se avistava uma fumaça ao fundo. Uma fábrica de argamassa. Na porta da fábrica, a advogada Rosemi Ferreira da Silva dizia que a licença de operação estava em ordem. No Ipaam, Instituto de Proteção Ambiental do Estado do Amazonas, o presidente Antonio Stroski negou que a documentação esteja correta. “Já teve licença, mas está vencida há alguns meses”, diz. No começo de setembro, a fábrica recebeu do Ipaam uma notificação para paralisar suas atividades até que regularizasse a sua situação.
Hoje a chaminé não emite mais fumaça, mas ainda fica a pergunta: como a fábrica conseguiu a primeira licença de operação? E pior: podem existir outros como este empreendimento irregular.
Parece que a reserva do Marcos e do Antônio já é uma ilha. Hoje eles lutam pra convencer alguns vizinhos a também criarem reservas, mas ainda não tiveram sucesso.
No Amazonas existem apenas 19 reservas particulares, todas perto de centros urbanos. Num estado ainda tão cheio de verde, as reservas, muitas vezes, são apenas uma continuidade da vegetação original. Mas, com o crescimento das cidades abraçando a floresta, são estes pequenos territórios de preservação permanente que vão garantir a vida silvestre ali, bem pertinho.

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