MEDIÇÃO DE TERRA

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MEDIÇÃO DE TERRAS

domingo, 25 de setembro de 2011

No auge da Guerra-Fria, Luís Carlos Prestes fala de ameaça nuclear soviética e é seguido pelo Dops


R7

Considerada uma das maiores estrelas da esquerda brasileira pré-Luiz Inácio Lula da Silva, Luís Carlos Prestes foi um dos homens mais vigiados pelo governo brasileiro mesmo antes do golpe militar de 1964. Não é para menos: o governo ficou no encalço de um homem que às vésperas da famosa Crise dos Mísseis (Em outubro de 1962 americanos descobriram silos de ogivas nucleares soviéticas instalados em Cuba) ouviu e repetiu a seguinte declaração diretamente da boca de Nikita Kruschev, o todo poderoso primeiro-secretário do Partido Comunista da União Soviética:
“Cuidado, senhores. Nós possuímos bombas atômicas e teleguiados que podemos mandar a qualquer parte do mundo, com endereço certo”.
O recado aos americanos foi repetido por Prestes em uma palestra que ele deu em março de 1961 para comunistas da cidade de Santos. Na década mais tensa da Guerra-Fria, as palavras do brasileiro só alarmaram os espiões do Dops (departamento da polícia que vigiava quem fizesse oposição ao governo), que cuidaram de detalhar cada passo de Prestes e reunir tudo em um de seus arquivos mais extensos: no de Santos, duas pastas recheadas de papéis que mostravam a preocupação do Estado com o tamanho de sua influência.
Em um desses relatórios, os policiais contam como seguiram Prestes no dia 2 de abril de 1981, depois que ele participou de “um ato público”:
“Luís Carlos Prestes deixou o local no auto marca Fiat, cor branca, placa EQ 2607, de Goiás, ano de fabricação 1980, acompanhado do motorista [...] Agentes desta Dops/Santos, da maneira mais discreta possível, seguiram o veículo em questão, oportunidade em que se constatou a preocupação dos marginados em certificarem-se de que se estavam ou não sendo seguidos, em decorrência do percurso e voltas desnecessárias levadas a efeito com o veículo na Praça Independência e noutros quarteirões. Sem que percebessem que estavam sendo seguidos, por fim, rumaram para a Rua Sergipe, onde desceram.”
A fama de Prestes entre os simpatizantes era tamanha que ele já era tratado como celebridade em Santos. Em uma de suas visitas à cidade, ele percorreu o cais com uma comitiva de mais de cem pessoas. Em outra aparição, ele foi recebido com honras no Palácio Municipal, mas não pôde colocar os pés na Câmara, cujos vereadores bateram boca o dia todo sobre a visita. No final, Prestes preferiu não discursar no plenário, seguindo para “um jantar que os comunistas lhe ofereceram no restaurante Valentim, no qual tomaram parte cerca de cem pessoas”.
O “Chefe Vermelho”, como era chamado pelos espiões, era tão vigiado que até as repercussões de seu aniversário na cidade eram anotadas, mesmo que ele não aparecesse para comemorar. No dia 3 de janeiro de 1955 e 1956, seu aniversário “passou quase despercebido”. No de 1953, isso se repetiu “talvez pelo intenso policiamento organizado por esta delegacia com elementos do 6º batalhão de choque da Força Pública e com os investigadores desta Dops”.
No aniversário de Prestes de 1952, um trabalhador foi preso por pendurar uma faixa escrita “Salve o Cavaleiro da Esperança Luiz Carlos Prestes”. Mas o evento que mais causou preocupação foi de 1958, “regado a refrescos” que reuniu 1.000 pessoas e mereceu três páginas de relatos dos espiões, que transcreveram os discursos dos comunistas que condenavam os processos a que Prestes respondia na época por ser considerado uma “ameaça subversiva”.
Em 7 de abril de 1948, um relatório dava detalhes de investigações na cidade de Itanhaém para localizar Prestes, que na época era senador. As três páginas citam os interrogatórios feitos pelas chácaras da região, mas nada de concreto foi descoberto além de alguém tê-lo visto “passeando num automóvel de luxo, cujo número não pudemos apurar”.
Já em 1981, em seu primeiro discurso na cidade depois de 18 anos, Prestes chamou Santos de Stalingrado brasileira e Cidade Vermelha. Depois de uma fala enaltecendo a União Soviética e chamando o então presidente dos Estados Unidos de “fabricante de guerras”, foi “realizada uma coleta entre os presentes e depois anunciado como total das arrecadações a importância de Cr$ 12.000,00, suficientes para o pagamento das despesas do local do ato público”.
A transcrição da apresentação de outra palestra de Prestes na cidade, também nos primeiros anos da década de 1980, foi encaminhada ao então diretor-geral do Dops, “Dr. Romeu Tuma”, ex-senador do PTB morto em outubro do ano passado.

 

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