MEDIÇÃO DE TERRA

MEDIÇÃO DE TERRA
MEDIÇÃO DE TERRAS

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Indígenas da reserva Raposa Serra do Sol têm problemas com o alcoolismo

 

O JN no Ar foi até Roraima para ver como vivem os índios mais de dois anos depois da demarcação de terras contínuas.

JORNAL NACIONAL
A equipe do JN no Ar está em Roraima. A repórter Cristina Serra foi à reserva indígena Raposa Serra do Sol, que representa 7,5% de todo o estado, para ver como vivem os índios desde que o Supremo Tribunal Federal se decidiu pela demarcação da área contínua das terras. Essa decisão tornou obrigatória a saída dos fazendeiros e de todos que não eram índios.
Segundo Cristina Serra, duas coisas chamaram a atenção. A primeira é que os diferentes grupos indígenas que vivem dentro da reserva hoje em dia têm uma convivência bem menos tensa do que há 2 anos e meio. Naquela época, na retirada dos arrozeiros e dos não índios em geral, havia quase que um clima de confronto entre esses dois grupos, porque eles têm visões diferentes sobre a convivência com os não índios. Hoje em dia, apesar dessas divergências, eles conseguem ter uma convivência bem menos tensa e até um certo esforço de entendimento entre eles.
Outra coisa que chamou a atenção foi que a reserva indígena tem muitos problemas para resolver, um deles, muito grave, é o alcoolismo.
A equipe do JN no Ar chegou a Boa Vista pouco depois da meia-noite. De manhã cedo, voaram num monomotor até a terra indígena Raposa Serra do Sol.
A reserva tem 17 mil quilômetros quadrados. É mais de 11 vezes o tamanho da cidade de São Paulo e faz fronteira com a Venezuela e Guiana.
Vivem lá 20,8 mil índios, em pequenas comunidades. Há dois anos e meio, o Supremo Tribunal Federal confirmou a demarcação definitiva e determinou que apenas indígenas permanecessem na reserva. Fazendeiros, que produziam principalmente arroz, tiveram que abandonar as propriedades.
A retirada dos não índios ainda provoca muita polêmica na Raposa Serra do Sol. Parte dos índios considera que a situação melhorou já que a terra, agora, pertence apenas às comunidades. Mas muitas famílias foram prejudicadas porque trabalhavam para os fazendeiros e perderam seus empregos.
O casal Elielva e Francisco ilustra o dilema de muitas famílias da reserva. Ela é índia macuxi, professora. Ele é ex-empregado de uma fazenda de arroz. Casais miscigenados tiveram permissão para permanecer na reserva. Mas, Francisco esta desempregado até hoje.
“Eu trabalhava com o trator, tínhamos uma vida muito melhor do que hoje”, lamenta o desempregadoFrancisco de Assis.
Percorrendo as trilhas da reserva, chegamos a um antiga fazenda de arroz. Quem toma conta das terras agora é o seu João, índio macuxi, que tem 12 filhos.
Um monte de entulho foi o que sobrou das construções da antiga fazenda. Lá, ficavam os alojamentos dos trabalhadores, a cozinha e os depósitos de fertilizantes e equipamentos. Do outro lado, ficavam os campos de arroz. Agora, a terra é propriedade coletiva dos índios, que querem recuperar a vegetação nativa. Seu João diz que a terra também é boa para a pastagem de gado.
“Muita gente diz que o capim ia morrer, mas não aconteceu isso não”, garante seu João.
As comunidades indígenas têm 32 mil cabeças de gado. A produção agrícola é quase só para consumo interno. Muitos índios também recebem o Bolsa Família. Com a sobrevivência mais ou menos garantida, a preocupação agora é outra. Um dos líderes indígenas, o tuxaua Reginaldo diz que o alcoolismo é uma herança pesada da convivência com os não índios.
“Hoje, o problema número um de todas as comunidades é a bebida alcoólica. A maior parte dos indígenas está dependente do álcool.Eles trocam animais ou o seu próprio alimento por bebida alcoólica”, conta o chefe indígena Reginaldo de Lima Bonifácio.
A Funai reconhece a gravidade do problema.
“Nós sempre fazemos campanha de orientação para que seja combativa a bebida alcoólica. Existe da parte das organizações, especialmente das mulheres indígenas, uma luta contra a bebida alcoólica. É proibido vende e consumir bebida alcoólica dentro das comunidades”, diz André Vasconcelos, coordenador da Funai (RR).
Para o antropólogo José Carlos Franco de Lima, o futuro passa pela busca de uma harmonia entre o modo de vida tradicional com os apelos da sociedade moderna.
“Três grandes desafios: o primeiro, combinar desenvolvimento com tradição; o segundo consolidar mecanismos de participação política e definição de políticas públicas; e o terceiro, construir uma sociedade que dê conta da adversidade cultural”, aponta.
O maior orgulho das comunidades são as escolas indígenas, como a que visitamos. Com o apoio de ONGs, a escola oferece o ensino médio e o curso técnico em agropecuária e manejo ambiental. A aula de hoje era a história da Raposa Serra do Sol.
O JN no Ar , com o apoio da TV Roraima, vai passar mais um dia no estado para saber onde moram e o que estão fazendo os produtores de arroz e os funcionários das fazendas que foram obrigados a sair da reserva. A maioria foi recomeçar a vida em Boa Vista.

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