MEDIÇÃO DE TERRA

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MEDIÇÃO DE TERRAS

sábado, 10 de setembro de 2011

Destruída por enchente, capela mais antiga de Paraitinga é restaurada

 

Capela das Mercês, do século 19, será reinaugurada no dia 25 de setembro.
Na cidade paulista, devastada em 2010, haverá procissão de três dias.

Carolina Iskandarian Do G1 SP, em São Luiz do Paraitinga
Capela das Mercês  (Foto: Raul Zito/ G1)Capela das Mercês completa 197 anos neste mês; ela será reaberta após reconstrução (Foto: Raul Zito/ G1)
Em 3 de janeiro, um ano depois de ruir com a enchente que devastou a cidade, a capela mais antiga de São Luiz do Paraitinga, no Vale do Paraíba, em São Paulo, começou a receber os primeiros operários encarregados de reerguê-la - muitos deles devotos de Nossa Senhora das Mercês, santa que ficava no lugar mais alto do altar. Agora, quase nove meses depois, a Capela das Mercês está em fase final de restauração e precisa ficar pronta para a festa de inauguração, no dia 25 deste mês. Em 2011, o pequeno templo faz 197 anos.
A obra, orçada em R$ 1,5 milhão, teve verba do Ministério da Cultura, via Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). O arquiteto Antonio das Neves Gameiro, há 45 anos no Iphan, é o autor do projeto de reconstrução. Apostando em agilidade e de olho no prazo apertado de deixar a capela pronta até o dia da santa, comemorado todo 24 de setembro, ele teve uma ideia: contratar os cidadãos para ajudar no trabalho.
“Muitos moradores da cidade são devotos da padroeira (na verdade, Nossa Senhora das Mercês não é padroeira de Paraitinga, mas sim São Luiz de Tolosa), então fizeram o trabalho com o maior carinho”, conta Gameiro. “Era um prazo muito difícil. Uma obra desse porte demoraria no mínimo um ano e meio, dois anos." Nas mãos dos fiéis operários, levou nove meses.
Eurico Alves de Alvarenga Filho, o Biro Biro, é um dos mais antigos. Nasceu em São Luiz do Paraitinga e diz que tem uma relação próxima com a capela. “Tinham as rezas, o terço. Eu sempre vim aqui. E minha mãe fazia aniversário no dia de Nossa Senhora das Mercês, 24 de setembro”, conta ele, em uma rápida pausa no serviço no canteiro de obras.
O morador diz que foi um dos voluntários que ajudaram a garimpar peças sacras e outros objetos que ficaram sob a lama e a sujeira quando a igrejinha de parede de taipa foi ao chão com as chuvas de verão de janeiro de 2010. “Quando vi a capela destruída tive forças para agir e foi o que fizemos.” Das ruínas, surgiu a imagem em barro, nada divina, de Nossa Senhora das Mercês. “Ela foi achada quebrada em 96 pedaços”, conta Leonardo Falangola, coordenador-geral das ações do Iphan em Paraitinga. A peça já foi restaurada.
Procissão
Capela das Mercês  (Foto: Raul Zito/ G1)Capela ruiu em 2010 com as chuvas de janeiro
(Foto: José Carlos Imparato/ Arquivo pessoal)
Os estabelecimentos comerciais da cidade já começam a exibir o cartaz que anuncia a procissão da santa entre 22 e 25 de setembro, quando ela será devolvida à capela e à comunidade. No dia 25, um domingo, está prevista a inauguração oficial, com a presença da ministra da Cultura, Ana de Hollanda. “Essa capela é crucial para a cidade porque é um marco da reconstrução. No ano passado só teve uma pequena comemoração em frente a ela”, diz Eduardo Coelho, diretor de Turismo de Paraitinga.
A marca de que a tragédia não será jamais esquecida está logo na entrada. Parte das paredes de taipa que resistiu à força da enxurrada ficará à mostra, protegida por vidro. “Inseri uma estrutura de concreto armado, com 7.200 kg de aço, que sustenta as novas paredes de tijolos (são 100 mil). Fiz o projeto para preservar a taipa e não ser apenas uma mera reconstrução. Agora está absolutamente resistente”, diz o arquiteto Antonio Gameiro.
“Optou-se por deixar à mostra a taipa, o que restou, para ficar bem nítido como a capela foi construída. É só ornamental, não tem peso em cima dela”, explica o engenheiro Mauro Henriques de Arruda, da construtora especializada em restauro que venceu a licitação e toca a obra. De acordo com ele, as cores azul e branca, que eram as originais do século 19, foram um pedido da população. E assim está a nova fachada. Na última versão, quando ruiu, a igrejinha tinha paredes amarelas.
Capela das Mercês  (Foto: Raul Zito/ G1)Benedicta Andrade cuida da capela há 50 anos
(Foto: Raul Zito/ G1)
Sem medidas“O trabalho foi muito árduo em função de descobrir medidas, alturas. O projeto foi feito em cima de escombros”, conta Arruda. A professora aposentada Benedicta Antunes Andrade, de 82 anos, deu informações valiosas. No alto de seus pouco mais de 1,55 m, levantava o braço até onde podia alcançar para indicar onde ficavam os santos no altar. “Eu dava dicas quando eles me perguntavam.” E cada palavra dela tinha um peso enorme, afinal, são 50 anos tomando conta da capela.
Na tarde de sexta, quando visitou a obra, foi saudada como ‘dona Didi’ por todos os operários. “Envelheci, emagreci e desisti de fazer muita coisa depois da enchente”, diz a aposentada, que foi resgatada, assim como muita gente, de bote porque a água chegou ao telhado do seu imóvel. Só voltou para casa oito meses depois.
A alegria está de volta quando fala da nova Capela das Mercês. Dona Didi diz não ter esquecido nenhum nome no cartaz que mandou fazer para anunciar a procissão. Na parte de baixo, onde lê-se “pessoal”, ela identificou operários e colaboradores. “Escrevi na ata que as mãos mágicas deles fizeram surgir do solo a igreja.” A ata é da nova diretoria da capelinha, da qual Benedicta é presidente.
Ela brinca ao apresentar a sobrinha e dizer que ela será sua “sucessora” nos afazeres da igreja. E a professora Rosa Maria Antunes, de 56 anos, teve o privilegio de se casar na Capela das Mercês. “Ali quase não tem casamento. Depois de mim, ninguém mais casou”, afirma a professora, que se uniu ao então noivo em 1989. “Tinha muita gente do lado de fora querendo ver o casamento. Tocaram até o sino para eu entrar.” Agora falta pouco para as próximas badaladas.
Capela das Mercês  (Foto: Raul Zito/ G1)Parede de taipa que resistiu à enchente ficará à mostra dentro da capela, protegida por um vidro  (Foto: Raul Zito/ G1)

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