MEDIÇÃO DE TERRA

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MEDIÇÃO DE TERRAS

sábado, 17 de setembro de 2011

Brasileiro pode tratar dente e pagar em 36 vezes com "juro de carro financiado"


R7

Há dois meses, o comerciante Miguel Roberto da Silva Filho sentiu dores nos dentes, visitou o dentista e descobriu que estava com vários problemas na boca, entre eles a necessidade de implantar uma prótese. A mulher, que o acompanhou na visita, também precisou de restaurações, limpeza de tártaro, aplicação de flúor e até de uma dentadura.
O orçamento para o tratamento dos dois ficou em R$ 4.000, mas o casal não tinha o dinheiro para pagar o dentista à vista. Sem grana na mão e sem cartão de crédito, eles recorreram ao financiamento do tratamento odontológico, prática cada vez mais comum nos consultórios de dentistas do país. O prazo para pagar a dívida chega a 36 meses, o que depende do valor do crédito e da renda do paciente.
Assim como em qualquer empréstimo bancário, o paciente se torna um cliente, pega o crédito da clínica, que geralmente tem parceria com uma financeira, e paga juros – ainda que menores que os comuns do mercado - pela grana emprestada. No caso de Miguel, o tratamento de R$ 4.000 virou uma dívida de R$ 5.232, a ser paga ao longo de um ano.
- Eu fiz um financiamento de R$ 4.000 para pagar um tratamento em 12 vezes porque não tinha o dinheiro à vista. Comecei a fazer o tratamento há dois meses e fiz prótese, restauração, canal, raspagem de tártaro... Com esse dinheiro, minha mulher, que também estava com ‘um monte de coisa errada’, faz o tratamento.
Miguel e a mulher fazem parte de um universo de quase 27 milhões de pessoas que precisam de implantes no Brasil, de acordo com uma pesquisa do Ministério da Saúde divulgada em 2006, que apontou que 14% da população brasileira não tinha um dente sequer na boca. Hoje, a população brasileira é de 190,7 milhões de pessoas, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
O tratamento dentário do comerciante foi financiado pela Amici, empresa especializada em implantes. A empresa oferece financiamentos especialmente para a classe C e trabalha somente com dentistas tradicionais, ou seja, aqueles que têm pequenas clínicas e não estão ligados a uma determinada rede, por exemplo.
O gerente da empresa, Alexandre Barbosa, afirma que os dentistas estão acostumados a financiar o tratamento em até seis ou oito vezes no cheque. No entanto, ele explica que um tratamento de R$ 6.000 gera uma parcela de R$ 1.000, valor que nem sempre cabe no bolso do brasileiro. Por isso, “o paciente acaba negociando com o dentista o que é emergencial e cabe no bolso e não faz o tratamento completo”. Com o crédito da empresa, o paciente pode pagar a dívida em até três anos.
- O prazo de pagamento é de 36 parcelas e a taxa de juros segue uma tabela, que depende do número de parcelas e o valor do financiamento. Para ter uma referência, no prazo máximo de financiamento, o juro cobrado no cheque é de 3% ao mês e, no boleto, ao redor de 4% ao mês, mas juros partem de 1,99% ao mês.
Os juros cobrados no financiamento odontológico é semelhante aos que os bancos nos empréstimos para comprar automóveis. De acordo com a pesquisa de julho da Anefac (Associação Nacional de Executivos de Finanças), os juros para comprar um carro financiado ficou em 2,37% ao mês - ou 32,46% ao ano.
As grandes redes de clínicas odontológicas já perceberam o quanto podem ganhar com essa massa de quase cem milhões de pessoas que integram a classe média. A Odontoclinic, que tem 140 unidades no país e é especialista na colocação de aparelhos ortodônticos, encontrou um modelo de negócios que dilui o valor do equipamento na quantidade de meses de duração do tratamento.
O presidente da empresa, Carlos Leão, explica que o foco é a classe C, que “é extremamente mal atendida na odontologia, com poucas opções de um custo-benefício adequado”. Ele lembra que a forma de comercialização do aparelho ortodôntico “inviabilizava a implantação para esse tipo de público porque ele tinha que pagar R$ 2.000 na frente e ainda tinha que fazer a manutenção”.
- Hoje, o tratamento é pago ao longo do período de duração do tratamento e fazemos um parcelamento que caiba no bolso do cliente. No caso da ortodontia, em um tratamento que dura cerca de 36 meses, a gente parcela o total ao longo desse tempo e o paciente não precisa desembolsar uma bolada no começo.
A Sorridents, que nasceu na zona leste de São Paulo, também oferece longos parcelamentos para abocanhar parte da classe C. O vice-presidente da rede, Cleber Soares, explica que a clínica trabalhava com um público que “não tinha costume de fazer tratamento odontológico e lembrava do dentista somente quando tinha dor”, o que obrigou a empresa a aceitar dinheiro, cheque e cartões de crédito.
Nas camadas mais pobres da população, entretanto, as pessoas continuam sem acesso aos cartões e aos financiamentos formais, segundo Soares.
- Na periferia, ainda existe a modalidade de pagar o procedimento aos poucos, conforme o procedimento realizado. Então, se ele tem R$ 10, ele vê o que dá para fazer, como um raio-X ou uma obturação. Se o orçamento completo deu R$ 1.000, mas ele só tem R$ 50, ele vai pagando aos poucos, de acordo com o que ele tem no bolso.
Antes de contratar um financiamento odontológico, o consumidor deve investigar a reputação da empresa para garantir a continuidade do tratamento. Em outubro do ano passado, a empresa de tratamentos odontológicos Imbra fechou as portas com uma dívida de mais de R$ 220 milhões, demitiu cerca de 2.000 funcionários sem acertar direitos trabalhistas e ainda não concluiu o tratamento de milhares de pacientes.
Foto: Divulgação

 

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